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GRUPOS DE TRABALHO

Confira abaixo os resumos aprovados para apresentação nos GTs. A seleção dos trabalhos ficou à critério da coordenação de cada grupo, sendo que aqueles GTs que não constam na lista correspondem àqueles que foram cancelados pelo número insuficiente de resumos recebidos. Veja como enviar o trabalho completo aqui. Confira o cronograma dos GTs aqui. Qualquer dúvida, envie um e-mail para: jornadasdeantropologia@gmail.com

 

GT1: Um cinema de cidade: poéticas, estéticas e experiências

Wendell Marcel Alves da Costa – Doutorando em Sociologia (USP)

 

  • A cidade como construção da memória: Uma análise de Encantado, o Brasil em desencanto (2018), de Filipe Galvon (Luís Fellipe dos Santos)

Este trabalho tem como tema os documentários brasileiros contemporâneos que são compreendidos como filmes-ensaios. Diversos rótulos tentam, sem sucesso, categorizar esses filmes: “documentários pessoais” e “documentários reflexivos” são exemplos dessa tentativa. Porém, a ligação direta com o Ensaio mostra-se como o caminho mais frutífero para compreender estes filmes que surgem desde os anos 60, ganham força e espaço nos anos 90, e passam a ser um dos tipos mais vibrantes nas produções audiovisuais contemporâneas. Os filmes-ensaios são marcados pelo viés subjetivo e uso da primeira pessoa, fugindo do documentário expositivo clássico. Para Bernardet (2003), eles não seriam apenas filmes que usam a primeira pessoa, seriam filmes em que o cineasta se funde com um personagem que é o protagonista. Dessa maneira, o trabalho partirá da noção de ensaísmo no cinema documentário para examinar de que forma os filmes-ensaios elaboram os indícios que um determinado espaço imprime sobre a memória. Tem-se observado um aumento de filmes-ensaios que fazem esse movimento de recuperação, seja a busca por uma irmã falecida em Nova York, como em Elena (2012), ou de um irmão assassinado no Capão Redondo, como em Mataram meu irmão (2013) e sobre gerações atravessadas pela esperança e crescimento do seu bairro, conforme Encantado, o Brasil em desencanto (2019). Para tanto, busca-se estudar a obra mais recente, a fim de compreender a recuperação da memória de um tempo evocado pela cidade que consta do título da obra, além dos desdobramentos que afetam o Filme-Ensaio em questão.

Palavras-chave: Cidades; Filme-Ensaio; Documentário Ensaístico;

 

  • Brasília em chamas: novas imagens da cidade modernista (João Paulos Campos)

Brasília chamou a atenção de cineastas e fotógrafos desde sua construção nos anos 1950. Podemos destacar duas vertentes de produção imagética da cidade modernista. Em primeiro lugar, encontramos imagens que reproduziram o ponto de vista do poder e do progresso num tom propagandístico da nova capital federal e sua utopia modernista, como é o caso das fotografias e filmes de Jean Manzon e Fernando Cony Campos. Perspectivas críticas de Brasília e seu entorno surgiram em documentários dos cinemanovistas Nelson Pereira dos Santos e Joaquim Pedro de Andrade. São filmes que procuram escutar as vozes dos trabalhadores pobres que construíram a cidade e foram expulsos para o que se tornou a extensa periferia do Distrito Federal. Essa vertente crítica se desdobrou nos filmes de Vladimir Carvalho, em especial no (contra)monumental documentário Conterrâneos velhos de guerra (1990). Nos últimos 20 anos surgiu no Brasil um novo cinema autoral com forte participação de documentaristas de várias regiões do país. Este trabalho procura analisar as aparições do espaço urbano num corpus de filmes de duas cineastas desse campo artístico emergente que vivem e trabalham em Brasília e Ceilândia: Dácia Ibiapina e Adirley Queirós. Este ensaio procura estudar, portanto, as imagens urbanas de Brasília e sua periferia nos filmes Entorno da beleza (Dácia Ibiapina, 2012), Cadê Edson? (Dácia Ibiapina, 2020), A cidade é uma só? (Adirley Queirós, 2011) e Era uma vez Brasília (Adirley Queirós, 2017). Como as cidades tomam substância nestes filmes? Quais são as ideias de cidade elaboradas nestas obras? Como se relacionam centro e periferia nesta filmografia? Qual o lugar da experiência nestes filmes?

Palavras-chave: Análise de filmes; Espaço urbano; Experiência; Brasília; Ceilândia

 

  • Três quadros e uma cidade: um convite de café com canela (2017) de Ary Rosa e Glenda Nicácio (Wellison Silva Santana)

Café com Canela (2017) de Ary Rosa e Glenda Nicácio é o primeiro longa-metragem da dupla, produzido pela produtora independente Rosza Filmes, fundada por ambos. Café com Canela é uma obra que trafega entre o detalhe corporal e sentimental à imensidão do Rio Paraguaçu em Cachoeira, Bahia, cidade localizada no Recôncavo da Bahia. O filme de modo geral, trata do sentimento de luto e a falta, exibindo a cidade de Cachoeira e suas entre-vivências, representando esse limiar entre a angústia, causada por uma situação de morte e a alegria proporcionada pelo espaço/lugar. Este trabalho consiste em apresentar e analisar as dimensões subjetivas que circulam e contextualizam os sujeitos apresentados na narrativa do filme na interação com a cidade e seu espaço convívio.

PALAVRAS-CHAVE: Recôncavo baiano; Cinema independente; Cidade.

 

  • "Eu sou de lá": pertencimentos, cotidianidades e urbanidades no audiovisual de fronteira de Belém do Pará (Victória Costa)

As paisagens configuram e são configuradas pelas experiências citadinas que se dão pelos trajetos, memórias, atividades e, especialmente, pelas relações que nelas e com elas ocorrem. Assim também é o audiovisual, enquanto registro de percepções com base em referências e vivências, que cria e é criado pela cidade filmada. Compreendendo estas mútuas elaborações, este texto parte de produções audiovisuais realizadas nas e com as paisagens de fronteira simbólica de Belém do Pará, em que imagem e som, enquanto meios que revelam pertencimentos e lugares (CERTEAU, 1994), são apropriados para construir outras centralidades a partir de narrativas que apresentam aspectos cotidianos de urbanidades amazônicas. Partindo de uma etnografia de rua (ECKERT; ROCHA, 2003) em confluência com a etnografia virtual (PEREIRA; MENDES, 2020), este artigo intenciona identificar, em algumas obras realizadas nestas fronteiras, os discursos presentes nas falas do dia-a-dia e nas entrevistas realizadas em campo. Deste modo, apresento um breve panorama de fazeres imagéticos (também no que toca o imaginário, em um sentido bachelardiano) contemporâneos desta urbe da Amazônia.

Palavras-chave: Fronteiras simbólicas; Paisagens; Experiência; Amazônia; Rua.

 

  • A influência do Cinema nacional na construção da Identidade negra na Bella época brasileira: Uma análise antropológica. (Leandro Teixeira da Silva; Edgar Teodoro Da Cunha)

Essa pesquisa de iniciação cientifica surge com a proposta de fazer um estudo sobre três filmes da chamada Bela época do cinema Brasileiro. As produções fazem parte do ciclo do cinema paulista, o ciclo do cinema mineiro e do ciclo do cinema pernambucano compreendendo as primeiras décadas do século XX (entre 1920 e 1930). O objetivo dela é a partir de um estudo sistematizado sobre a filmografia proposta, compreender qual a relação do que foi representado no conteúdo audiovisual e como isso interferiu na formação de uma identidade nacional daquele período. Os filmes A filha do advogado, O segredo do corcunda e Thesouro perdido carrega em sim traços do que era a sociedade brasileira ou talvez o que seja, apesar de muitas conquistas dos grupos negros no país. Eles nos evocam a tentativa de apagamento e silenciamento da cultura afro-brasileira por grupos hegemônicos, colocando o negro como bestial, infantilizado, uma cultura subalternizada e inferior, criando tendências negativas e racistas sobre esses indivíduos no imaginário coletivo. A importância destes filmes reside no fato de fazer parte de um período muito delicado do ponto de vista da Antropologia, Sociologia e da História uma vez que o Brasil, nos anos 1920 acabará de sair de um regime escravagista, entretanto, um campo prolifico para o cinema estava sendo marcado por uma ótima produtividade naquele período, todavia, essa história não fazia parte deste cinema nacional. Nesse sentido, para que fosse passível de ser realizada, fizemos um levantamento dos filmes da época de interesse, realizamos um levantamento bibliográfico panorâmico e outro mais específico e a partir de tais processos metodológicos fomos para teorias do campo dos estudos cinematográficos sobre análise fílmica e de outro lado para a antropologia e as Ciências Sociais para elaborarmos reflexões a respeito do período e a relação de alteridade do “Eu Branco” com o”Eu Negro” e, assim discutir as nossas análises com rigor teórico e metodológico.

 

Palavras-Chave: Negro no cinema, Teoria antropológica, Etnicidade, Identidade, Antropologia Visual.

 

GT2: Papo de co-madres: narrativas, experiências de vida e trajetórias de pesquisadoras na perspectiva das políticas do cuidado

Luciana Calado – Doutoranda em Antropologia (UFPB)

Camilla Iumatti – Doutoranda em Antropologia (UFPB)

 

  • O trabalho invisível e a emancipação das mulheres: notas sobre amamentação e a politização do cuidado (Raquel Vieira de Castro Braga)

Ressoando a importância da experiência e da subjetividade da pesquisadora em termos de posicionalidade e reflexividade no fazer antropológico, localizo-me sempre, e primeiro, como mulher, mãe solo e, então, investigadora. A narrativa enquanto forma de conhecimento e de pesquisa foi parte da empreitada em minha dissertação sobre o ativismo de mulheres mães lactantes no Brasil (Braga, 2021). O lactivismo – ativismo pela amamentação – surge a partir de sua experiência corporificada da maternidade e da conscientização do cuidado como trabalho atravessado por marcadores de gênero, e, conforme despontou em meus achados, também de classe e de raça. Tal debate, com o qual primeiro tive contato enquanto mãe solo de gêmeos lactante – de 2016 a 2019 – ensejou meu retorno à pesquisa, alargando e adensando horizontes de diálogo ao mergulhar no apanhado teórico em torno do tema. O cerne da questão, penso eu, são as relações que se estabelecem entre feminismo e maternidade, essas duas grandes categorias mobilizadoras da minha existência. Os ecos entre teoria e prática vivida articulam-se na politização do trabalho do cuidado exercido por elas, no ímpeto de atravessar dualidades de doméstico/privado vs. político/público, simplificações entre natureza vs. cultura, sexo vs. gênero, e trabalho reprodutivo vs. trabalho produtivo, para citar alguns eixos de reflexão. Esse imperativo que vem da mobilização íntima pelas questões levantadas pelo campo propõe um terreno fértil para pesquisa e debate sobre as possibilidades epistemológicas ligadas à experiência da maternidade.

Palavras-chave: amamentação, maternidade, feminismo, lactivismo, cuidado.

 

  • A educação perinatal na escola: quando a professora é doula e pesquisadora. (Letícia Bezerra de Lima)

A presente comunicação é reflexo do acúmulo de estudos e experiências que tive a oportunidade de viver durante os anos de doutorado em estudos interdisciplinares sobre mulheres, gênero e feminismos na cidade de Salvador, pesquisa em fase de conclusão. É através do lugar de mulher sudestina, branca mestiça, professora de sociologia, doula sem ser mãe, solteira (dentre outros marcadores) é que me localizo, posiciono e circulo nos espaços de sociabilização. Nesta oportunidade pretendo apresentar a perspectiva da educação perinatal no espaço escolar, especificamente nas aulas de sociologia no ensino médio como possibilidade de popularização deste tipo de conhecimento, uma vez que o trabalho da doulagem é pouco conhecido (seria a doula parteira? não foi incomum este tipo de questionamento) e acessível a uma grande parcela das famílias brasileiras. Foi através da profissão como educadora, doula e pesquisadora que pude transitar entre vários ambientes (escola, centro de parto/maternidade e universidade) e compreender da urgência em transformar como ponto de partida esse conhecimento científico - relacionados ao processo de gestação, parto e nascimento – como escolar também. E por que este conhecimento importa? Para que minimamente os/as estudantes possam problematizar as questões que envolvam à educação perinatal de modo sistemático, que consigam a partir da sua própria trajetória de nascimento analisar o contexto brasileiro. Considerando a perspectiva teórico-metodológica feminista, especialmente pelo olhar de interseccionalidade reflito de modo amplo como: (1) podemos problematizar a maternidade e a perspectiva de cuidado centralizado na figura da mulher; (2) refletir sobre a humanização do parto o cenário obstétrico brasileiro relacionando esses temas aos dos conceitos e categorias sociológicos/as já previstos no currículo escolar como gênero, raça e classe; estranhamento e desnaturalização do olhar; movimentos sociais. Sendo assim, me coloco como mestra-aprendiz com o objetivo de contribuir com este debate assim como construir novas possibilidades de nascimento, acolhimento e informação no processo do gestar, seja dentro ou fora da escola.

 

Palavras-chave: Educação Perinatal; Escola; Ensino de Sociologia; Doula.

 

  • Maternar entre as mulheres Krahô: experiências e atravessamentos (Maíra Lopes Pedroso)

Vivi durante oito anos entre os Krahô, povo Timbira, da família linguística Jê, que habita o nordeste do Tocantins. Como os demais Timbira, os Krahô se autodenominam mẽhĩ, que pode ser traduzido como “nosso corpo”, “pessoa”, “humanos”, “ gente de verdade” (Azanha, 1984; Morim de Lima, 2016; Nimuendajú, 1944; 1946). Durante esses anos, me permiti construir e vivenciar com eles novas relações de parentesco. Os não indígenas (cupẽ) que chegam à uma aldeia Krahô para trabalhar ou passar um tempo com eles, frequentemente participam de um ritual de nomeação no qual o visitante recebe um nome Krahô e com ele toda uma rede de parentesco que pode ou não ser consolidada. Recebi o nome de Pyhtô na aldeia Pedra Branca e não voltei mais para minha casa no interior de São Paulo. Permaneci na aldeia e fui consolidando dia a dia o meu lugar como parente, ao mesmo tempo em que ia amadurecendo e compartilhando minhas próprias experiências pessoais com as mulheres e homens Krahô. Compartilhei com elas a gravidez, o aborto, o nascimento, a amamentação e a criação dos meus filhos. Com o nascimento do meu primeiro filho, ritualizamos minha passagem para a maturidade e em pouco tempo fui ocupando outras posições na vida comunitária. A partir de uma autoetnografia sobre a produção de parentesco entre os Krahô e os não indígenas, essa comunicação pretende refletir acerca do meu encontro com a maternidade atravessada pelo maternar das mulheres Krahô.

Palavras chave: autoetnografia, maternidade, Krahô, parentesco

 

  • MATERNIDADE: uma análise antropológica a partir das categorias experiência e cuidado (Josêclea da Silva Nascimento Porfírio)

O presente ensaio teórico surgiu como trabalho de avaliação final da disciplina Pesquisa e Teoria em Saúde (PPGA-UFPB) e tem como objetivo refletir sobre a maternidade a partir das categorias analíticas experiência e cuidado. O ensaio é dividido em quatro momentos: no primeiro, apresenta-se as teorias feministas tecidas acerca da maternidade, refletindo sobre como as discussões de gênero e as transformações socioculturais reverberam na construção social do ser mãe; no segundo momento, entraremos na discussão acerca da categoria experiência, buscando compreender seu significado e apontando como ela colabora para construir diferentes sentidos de maternidades, já que esta é experienciada de diferentes formas, por mulheres diversas em contextos distintos; o terceiro momento é dedicado para pensar a categoria do cuidado sob as dimensões do capitalismo, da moral e do afeto, ressaltando como estas determinam as responsabilidades atribuídas à mãe que resultam no adoecimento físico, mental e emocional dessas mulheres. Por fim, as considerações finais enfatizam a maternidade como uma construção social na qual as categorias do cuidado e da experiência contribuem na reflexão de suas múltiplas facetas. Ressalta-se que essas discussões colaboram para questionar e problematizar certos discursos sociais que idealizam e padronizam o ser mãe, oportunizando novas perspectivas que revelem os diferentes sentidos e significados de maternidade.

GT3: Antropologia, Neoliberalismo e Relações de Trabalho

Virgínia Squizani Rodrigues – Doutoranda em Antropologia Social (UFSC)

Fernando Augusto Groh De Castro Moura – Doutorando em Antropologia Social (UFSC)

João Rodrigo Vedovato Martins – Doutorando em Antropologia Social (UFSC)

 

  • Diálogos sobre o Previne Brasil e a precarização do trabalho no setor saúde (Alana Aragão Ávila)

O presente trabalho tece elaborações sobre pesquisa em andamento referente a implementação do Previne Brasil, nova forma de financiamento federal da Atenção Primária à Saúde (APS), em Sobral/CE. É a partir de observação participante e entrevistas individuais com trabalhadores da APS do município, assim como referenciais teóricos sobre a relação entre financiamento e precarização, que discute-se sobre os efeitos dramáticos no cotidiano dos trabalhadores a partir da adoção de políticas de inspiração neoliberal como regentes dos processos de trabalho na APS. É dialogando principalmente em torno na pressão gerada a partir dos indicadores impostos pelo Previne Brasil que trago falas de trabalhadores da saúde a fim de demonstrar a sobrecarga, precarização e adoecimento gerado pela vinculação da APS à lógica do mercado privado, gerando o que pesquisadores afirmam ser um “despagamento por desempenho”. Em uma dinâmica que traz sofisticação através do uso de tecnologias digitais e aperfeiçoamentos dos sistemas de informação em saúde, opera-se a intensificação da burocratização dos processos de trabalho e a por vezes a ruptura com o que alguns trabalhadores afirmam ser a missão original da APS. Pretende-se assim contribuir para as discussões em torno do neoliberalismo e seus efeitos a partir do olhar da antropologia ao fornecer aportes para a promoção de processos de trabalho e gestão que rompam com o vínculo à racionalidade neoliberal dentro do serviço público.

 

  • O Teatro de Grupo e a neoliberalização da cultura (João Rodrigo Vedovato Martins)

A presente proposta de pesquisa visa investigar a organização do trabalho do teatro de grupo no município de São Paulo a partir do impacto dos mecanismos de aporte financeiro em tempos de neoliberalização da cultura. Para isso busca-se considerar os agenciamentos sociais frente às fontes de financiamento ao teatro, cujo recurso primordial advém das políticas públicas que ocorrem por meio editais de orçamento direto ou de captação de recursos, em particular as implicações delas para a organização e produção estético-político teatral e, por fim, as estratégias de sobrevivência desenvolvidas pelos grupos e artistas que fazem coexistir elementos de insubordinação e exploração diante da hegemonia capitalista, perante um cenário de precariedade, instabilidade, informalidade.

Palavras-chave: Neoliberalismo; Políticas Culturais; Estado; Gestão Cultural; Teatro.

 

  • Ensino (Ter)remoto Emergencial: Condições imediatas e estruturais/mediadas para a atuação do professor de sociologia das escolas de educação básica de Santa Catarina durante a pandemia de Covid-19 (Manu Rocha de Matos)

Este estudo teve como objetivo conhecer as condições de trabalho de docentes da educação básica da rede pública estadual de Santa Catarina durante os dois primeiros anos de pandemia de covid-19, e refletir acerca das implicações pedagógicas causadas pela implementação do Ensino Remoto Emergencial durante este mesmo período. A interpretação acerca da problemática foi fundamentada teoricamente na perspectiva da Pedagogia Histórico-Crítica em diálogo com a antropologia do trabalho, abordando questões que vão desde a falta de planejamento sistematizado para implementação da modalidade de ensino até a escala cotidiana de seus efeitos, como o uso indiscriminado da clausula unilateralmente interessada para o rompimento dos contratos de trabalho dos professores substitutos, a falta de financiamento estrutural para a realização das atividades remotas, o esvaziamento pedagógico das práticas escolares, e a colonização digital do isolamento com seus desdobramentos em assuntos relacionados à gestão do tempo, sobrecarga laboral, cultura do imediatismo, saúde mental e distorção das fronteiras entre a vida privada e o mundo do trabalho. Os dados construídos neste estudo surgiram da realização de entrevistas semiestruturadas com perguntas abertas com educadores da rede estadual, além de uma revisão bibliográfica que procurou conectar as vozes destes trabalhadores com conhecimentos da área da Educação e das Ciências Sociais. Neste sentido, o trabalho encontrou algumas respostas acerca da atuação ineficaz e caótica do governo do Estado e de sua responsabilidade no que concerne ao suporte e à estruturação das condições de trabalho para o setor da educação pública durante a pandemia.

 

  • A ética burocrática e o espírito empresarial: relações de poder e performatividade nos meandros da burocracia de um instituto federal brasileiro de educação. (Fernando Augusto Groh de Castro Moura)

Trata-se de um projeto de doutorado que visa realizar uma pesquisa antropológica sobre os efeitos que o dispositivo burocrático produz no campo da educação profissional e tecnológica a partir do contexto de um instituto federal brasileiro. Busca-se pesquisar a burocracia em sua dimensão performativa, de forma a compreender as nuances, as tensões, as especificidades e a lógica subjacente aos dispositivos burocráticos de uma instituição educacional, bem como a forma pela qual se constituem as relações de poder e os modos de subjetivação produzidos na intersecção entre a esfera administrativa e pedagógica. Objetiva-se mapear, sistematizar e evidenciar a rede que compõe esse dispositivo, bem como identificar e analisar as conexões existentes entre os elementos dessa rede, suas dinâmicas, contradições e relações de poder. Para tal, será realizada uma investigação etnográfica em diversos “platôs”: na pró-Reitoria de Ensino (PROEN) do IFSC (Instituto Federal de Santa Catarina); em reuniões dos principais órgãos colegiados da instituição; em documentos, arquivos e formulários centrais do IFSC, sobretudo os do âmbito da PROEN; por fim, no sistema eletrônico no qual tramitam os processos administrativos do IFSC. Almeja-se compreender e correlacionar as possíveis dinâmicas do neoliberalismo com os efeitos do dispositivo burocrático na educação profissional e tecnológica, bem como propor reflexões teórico-etnográficas para a Antropologia do Estado e para os campos da Administração Pública e da Educação Profissional e Tecnológica.

Palavras-chave: Antropologia do Estado; Burocracia; Educação Profissional e Tecnológica; neoliberalismo; IFSC.

 

  • O acesso de aposentadorias por mulheres a partir da Reforma Previdenciária de 2019. (Luana Bidigaray)

Wajnman, Marri e Turra (2008) estudam o sistema previdenciário brasileiro e afirmam que a Constituição Federal de 1988 (CF/88) instituiu a Seguridade Social como um conjunto de ações e serviços que buscariam disponibilizar à população bem-estar e justiça social, garantindo a tríade saúde, previdência e assistência social. Embora a Previdência Social, aos longos dos anos, tenha se tornado uma instituição consistente no campo dos direitos sociais, considerada como um patrimônio social para a população brasileira, ela sempre operou a partir de uma política salarial de repartição, um modelo fundamentado no princípio do pacto social de solidariedade. Entretanto, o processo atual de envelhecimento dos brasileiros encontra-se atravessado pela última reforma previdenciária 2019, que resultou em uma maior fragilização no acesso à proteção social, uma vez que essa reforma tem características neoliberais, que visam a desobrigar a execução de políticas públicas pelo Estado, repassando-as para a iniciativa privada. Um dos pontos da reforma é a criação da idade mínima (62 anos) que elevou em dois anos a vida laboral das mulheres. A partir disso, a pesquisa reside em evidenciar os efeitos da reforma em projetos de envelhecimento e de aposentadorias de mulheres sob um processo regulatório decorrente de políticas neoliberais que vêm emergindo no Brasil nas últimas décadas. Assim, a pesquisa pretende compreender como mulheres atravessadas e impactadas pela Reforma de 2019 acessam aposentadorias e projetam seus envelhecimentos. A metodologia pretendida será um estudo com mulheres das coortes de 1960 e 1970 – centrando a investigação em suas trajetórias laborais; a técnica utilizada serão entrevistas narrativas.

Palavras-chave: Aposentadorias; mulheres; reforma previdenciária.

 

  • Home-office: como espaços de trabalho digitalmente multidimensionais estão redefinindo a jornada de trabalho. (Virgínia Squizani Rodrigues).

Neste artigo, descrevo uma típica semana de trabalho home-office desde a perspectiva de uma funcionária de startup. Misturando material de pesquisa de pré-campo e material autoetnográfico, este artigo apresenta uma personagem fictícia, a Alice, uma mulher branca de 24 anos, recém graduada, que ocupa um cargo de nível médio na equipe de marketing de uma empresa de tecnologia. Os dados etnográficos, bem como algumas das minhas experiências pessoais como ex-funcionária do setor de tecnologia, vêm do ecossistema de startups de Florianópolis, Santa Catarina. A partir de fragmentos reais da vida cotidiana do trabalho, procuro informar e analisar como o home-office pode ser percebido como um espaço multidimensional, digitalmente informado, capaz de borrar as fronteiras entre vida a privada e a vida profissional em nome do trabalho flexível. Nesse sentido, questiono, principalmente, como determinadas articulações ferramentas digitais e dinâmicas de trabalho contemporâneas inscrevem-se na rotina de novos trabalhadores, incitando novos processos de subjetivação atravessados pelas presenças e inscrições online dos sujeitos.

 

  • A Arte que liberta não pode vir da mão que escraviza? - Cultura, poder e política nas periferias. (Silvio Rogério dos Santos).

Em 2000, a cultura paulistana é marcada pelo lançamento do livro Capão Pecado, de Ferréz, morador do Capão Redondo, um dos bairros mais violentos de São Paulo. Juntamente com edição da revista Caros Amigos Especial: Literatura Marginal - a cultura da periferia, estes foram os embriões da movimentação seguinte, com o surgimento dos saraus, mais escritores e uma profusão de produções culturais diversas, que vão desde cinema, teatro, música e artes plásticas. A partir desta movimentação nas periferias, são criados editais, leis e fomentos tanto no âmbito público como privado. Também, são criados diversos cursos, oficinas e treinamentos para e com esses produtores culturais com o intuito de que se apropriem da linguagem dos editais e da captação de recursos a fim de viabilizar suas atividades. Assim, muitas dessas formações foram idealizadas e realizadas por ONG’s como a Ação Educativa, que serviram como incubadoras da produção cultural das periferias. Para além disso, vale lembrar que as políticas sociais voltadas para a juventude nos países da África e da América Latina foram desenvolvidas pelo Banco Mundial, onde o incentivo a cultura urbana e juvenil aparece como o carro chefe dessas políticas. Passado o momento onde a cultura dá visibilidade à periferia e a cultura produzida ali, hoje se pode perceber que, para além dos discursos políticos dessa produção terem se diversificado, a relação com os grandes centros de poder (econômico, político e simbólico) também se transformou. Se a relação com os financiamentos públicos eram problemáticas e por vezes insuficientes, com o poder privado, a negociação tem se tornado diferente e mais evidente. No início do século, no Rio de Janeiro, a relação entre cultura produzida nas periferias e favelas já flertavam com o poder das instituições privadas nacionais e internacionais, mobilizando uma espécie de turismo de favela, transformando a desigualdade existente nesses espaços em atrações turísticas, o que podemos pensar sobre a ascensão de grupos como o G-10 Favelas, Gerando Falcões e CUFA durante os anos de isolamento social durante a pandemia de Covid-19? Crescimento esse não só em São Paulo, mas no Brasil inteiro? E qual o papel da cultura produzida nas periferias nesse contexto? A partir de uma etnografia online e presencial, este trabalho busca entender a nova cara das mobilizações culturais nas periferias que misturam empreendedorismo, sobrevivência e cultura, tanto no que diz respeito à autonomia, como também a certos dispositivos de controle social.

 

  • As cosmologias que permeiam o trabalho dos motoristas de aplicativos em Campo Grande -MS e o desafio do pesquisador no campo. (Amanda Yumi Miyazato de Souza)

A plataformização do trabalho materializa a racionalidade neoliberal do on-demand e as transformações da morfologia do trabalho. Ao reconhecer a complexidade que envolve esse cenário, o presente artigo propõe problematizar as cosmologias que permeiam, explicam e reproduzem as relações trabalhistas no mundo contemporâneo. Em outra perspectiva, proponho compreender como o pesquisador passa a ser visto e confrontado com sua própria visão sobre o contexto durante a realização da pesquisa de campo. Sendo assim, cabe ressaltar que as reflexões propostas aqui têm o intuito de dialogar com as pré-concepções que atrelam o pensamento do pesquisador antes e durante a condução do campo. Para tal, utilizei de uma análise comparativa a partir da obra de Evans-Pritchard, Bruxaria, oráculos e magia entre os Azande (2004), em conexão com o texto de Ruy Blanes, The atheist anthropologist: believers and non-believers in anthropological fieldwork (2006) e o texto de Renata de Castro Menezes, Saber pedir: a etiqueta do pedido aos santos (2004) de modo a problematizar a noção de estar em campo, a voz do nativo/interlocutor e, principalmente, como essa interação reverbera em suas cosmologias. Além disso, emprego autores como Ludmila Abílio (2020), Ricardo Antunes (2020), Vladimir Safatle (2006), entre outros, que permeiam as análises sobre o trabalho flexibilizado. Desse modo, as reflexões foram desenvolvidas a partir de entrevistas realizadas na cidade de Campo Grande (MS) e tiveram por objetivo promover considerações sobre as cosmologias do trabalho plataformizado a partir do ponto de vista do interlocutor.

  • Infraestrutura e precarização: entregadores por aplicativos contra a violência urbana

em Bredo. (Diego Vinícius de França Bezerra)

Bredo é um município no sertão nordestino com características de centro regional; os modos de vida urbanos prevalecem entre os seus 75 mil habitantes; também é um destino do turismo cultural com manifestações artísticas tombadas; por fim, enclaves urbanos de pobreza compõem o município, a infraestrutura é escassa e há rumores de facções criminosas na gestão territorial desses enclaves. A partir das leis de flexibilização do trabalho e da pandemia de Covid-19, o grupo dos entregadores por aplicativos cresceu em Bredo, formado principalmente por homens negros, jovens e periféricos. Atualmente, por conta de assaltos com armas de fogo naqueles enclaves, os entregadores se dedicam a ações coletivas para minorar os riscos da violência urbana. Quais e como são estruturadas tais ações? Ações coletivas são articuladas em torno de interesses comuns. Métodos qualitativos (entrevista, observação, análise de discurso etc.) são capazes de descrevê-las. Identifica-se os seguintes aspectos vinculados à ação coletiva dos entregadores: a reivindicação de um policiamento mais violento e o mapeamento de comunidades urbanas excluídas da ordem legal. Para essas comunidades, os entregadores aplicam procedimentos para filtrar os pedidos que serão efetivamente atendidos, assim criam uma forma de interação com a infraestrutura das plataformas virtuais. No entanto, tais procedimentos não são necessariamente legais e podem gerar mais violências, inclusive para os entregadores. A escolha pelo envio deste resumo ao GT reservado à infraestrutura se deu pela implicação das ações coletivas em questão com a reestruturação neoliberal do mercado de trabalho, formas de gestão da pandemia e a expansão das plataformas virtuais de trabalho para o interior do Brasil.

  • As múltiplas dimensões do sofrimento psíquico e do cuidado no contexto acadêmico neoliberal: uma análise interseccional do sofrimento psíquico discente na FFLCH-USP (Felipe Paes Piva)

O objetivo geral desta proposta é entender as múltiplas dimensões das questões relacionadas à saúde mental e ao cuidado de alunos de graduação e pós-graduação na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Relacionando como as transformações estruturais e institucionais do ensino superior se apresentam para os discentes da FFLCH e podem afetar sua saúde mental. Como as dimensões individuais, socioestruturais, coletivas e institucionais se relacionam e se determinam mutuamente quando procuramos entender como as narrativas de sofrimento são geradas, o que as mantém e quais são as possibilidades de lidar com essa temática dentro da Universidade. É preciso tratar dos aspectos afetivos e psicossociais da vida na academia, abrir uma exploração dos caminhos pelos quais tais experiências são posicionadas segundo os marcadores sociais da diferença, para entender como formas mais complexas de discriminação e iniquidade estão surgindo e sendo mantidas neste ambiente em particular. O sofrimento psíquico discente não é uma problemática exclusiva da USP, nem do âmbito nacional, mas global. As narrativas sobre sofrimentos psíquicos de discentes da FFLCH não habitam as estatísticas e só ganharam o espaço do dizível em situações extraordinárias, ainda que habitem o ordinário. Se desejamos apreender como o sofrimento psíquico tem incidido sobre as vivências universitárias, não podemos nos prender apenas aos eventos críticos, é preciso descer ao ordinário, ao nível do cotidiano, as diferentes formas que esse sofrimento é corporificado e vivenciado, pelos relatos e narrativas desses estudantes. A proposta se baseia, em grande parte, nos desenvolvimentos realizados durante a iniciação científica que fiz entre 2020 e 2021 e no mestrado que venho desenvolvendo atualmente, sendo este uma continuação e ampliação da IC, ao abarcar a pós-graduação e os efeitos do neoliberalismo na academia.

GT4: Gênero, sexualidade e território: emergências antropológicas contemporâneas

João Victtor Gomes Varjão – Doutorando em Antropologia Social (USP)

Anne Alencar Monteiro – Doutoranda em Antropologia Social (UFBA)

Maiara Damasceno da Silva Santana – Doutora em Antropologia Social (UFBA)

 

  • TRAJETÓRIAS SUBALTERNAS URBANAS: O COTIDIANO E O CÁRCERE (Camila Maria de Paiva Melo)

O Brasil tem uma população prisional que não para de crescer, estando na 5a colocação no ranking dos países com maior população prisional feminina (CUNHA, 2017). Segundo Elliott Currie (1998, p. 21), “a prisão tornou-se uma presença dominante em nossa sociedade de uma forma sem paralelos em nossa história ou na história de qualquer outra democracia industrial. Exceto pelas grandes guerras, o encarceramento em massa foi o programa social governamental implantado de forma mais abrangente em nosso tempo”. Para Milton Santos (1978), “O espaço é um verdadeiro campo de forças cuja formação é desigual. Eis a razão pela qual a evolução espacial não se apresenta de igual forma em todos os lugares”, sendo assim, o espaço é resultado e condição dos processos sociais. A pesquisa intitulada, Trajetórias subalternas urbanas: o cotidiano e o cárcere, realizada pelo Observatório da Família/UFRPE, tem natureza qualitativa com inspiração no método da pesquisa ação e corrobora para o aprofundamento de pesquisas realizadas desde o ano de 2017, tem como objetivo central, compreender as relações entre modos de vida e subalternidade no cotidiano de mulheres com vivência no sistema carcerário pernambucano e de modo específico a partir do levantamento de dados primários e fontes documentais, analisando o perfil socioeconômico e os impactos da Covid 19, estabelecendo, dessa forma, um diagnóstico de igualdade analítica na interseccionalidade entre classe, gênero e raça, refletindo sobre as reproduções geracionais de trajetórias subalternas urbanas vivências/convivênciadas nos espaços das cidades e que são agravadas pela vivência do cárcere.

PALAVRAS - CHAVE: COTIDIANO. CÁRCERE. MULHERES

 

  • IMAGENS DE CONTROLE DE TRAVESTIS E O ATIVISMO EM FORTALEZA (Amadeu Cardoso do nascimento)

O presente trabalho se ampara na pesquisa em construção do Programa de Mestrado Associado em Antropologia UFC/UNILAB. Diante do ativismo, resistências e experiências de travestis em Fortaleza, elas reivindicam um lugar social para além da conjuntura marcada pela opressão de gênero, raça, classe e território. Desse modo, elas passaram a ocupam diversos espaços entre universidade, instituições oficiais do Estado e o movimento social. Nosso objetivo é analisar como as imagens de controle estabelecidas pela cisheterossexualidade contribuíram para que historicamente elas fossem criminalizadas, marginalizadas e perseguidas. Para além dessas questões, foram vistas como prostitutas, marginais, perigosas e escandalosas. Subalternizadas historicamente na sociedade brasileira, romper com essas imagens é descortinar os discursos hegemônicos. O termo imagem de controle discutido aqui segue o pensamento encontrar em Patricia Hill Collins (2019) e Winne Bueno (2020). O ativismo de travestis em Fortaleza pretende contrariar pelo menos três categorias de imagens de controle: a travestis que vende seu corpo na rua na prostituição; a travestis marginal, criminosa; e a travesti barraqueira, escandalosa. Desse modo, as ancestrais do pioneirismo do ativismo de travestis em Fortaleza, Janaína Dutra, Thina Rodrigues e Dediane, somam-se com as trajetórias de novas sujeitas ativistas, Labelle Reinbow, Yara Canta, Silvinha Cavaljeire e Amanda Félix.

Palavras-Chaves: Transfeminismo, Travestis, Imagens de Controle.

 

  • Sociabilidade e Consumo LGBTQIA+ em Araraquara e São Carlos: Identidades e Subjetividades Transgressoras no Interior (Mateus Rodrigues dos Santos)

Em execução no mestrado, este trabalho propõe compreender as variadas formas como pessoas de gêneros e orientações sexuais considerados dissidentes, moradoras e visitantes das cidades de Araraquara e São Carlos, constroem relações entre si, tecem redes de sociabilidade, elaboram e desenvolvem processos de subjetivação especialmente em contextos de lazer noturno. A etnografia tem sido feita em bares, festas, eventos culturais e políticos, destinados ou com aderência do público LGBTQIA+, sendo possível denotar que o consumo destes locais gera vínculos, elos de pertença e fronteiras simbólicas entre os assíduos, atuando assim como mediador e comunicador social, materializando práticas de sociabilidade. As peculiaridades do território aqui demarcado – áreas urbanas de porte médio no interior paulista – tendem a influenciar estas práticas e incidir sobre as identidades que compõe a comunidade LGBTQIA+. Embora seja possível visualizar sutis diferenças de ambientes, frequentadores e propostas de eventos, é notável a pouca oferta de lazer voltados para este público se comparada a centros urbanos maiores. Estes circuitos mais restritos levam a convivência e disputa de espaços entre a diversidade de pessoas LGBTQIA+, cujos marcadores vão além das questões de gênero, interesse sexual, seus estilos e ramificações, cruzando-se também com fatores raciais e de classe, por exemplo.

Palavras-chaves: LGBTQIA+, Sociabilidade, Consumo, Subjetividades e Identidades, Cidades do Interior

 

  • Mulheres trançando histórias: trocas de experiências e vivências em um projeto social no interior do estado de São Paulo. (Tainá Souza Santos)

A OSC (Organização da Sociedade Civil), Casa da Infância Estrela da Manhã, localizada em um bairro periférico no interior do estado de São Paulo, é uma instituição cuja proposta é a de oferecer atendimento às famílias em contexto de vulnerabilidade social, assim como ofertar projetos sociais para demais adultos, crianças e adolescentes, tendo como base estrutural o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculo, SCFV, este como sendo parte das políticas públicas inseridas no Programa Único de Assistência Social (SUAS). A OSC é mantida pela Associação Amigos de São Judas Tadeu (ASJT), um grupo de voluntárias/ os que trabalham em busca de apoio político e também de recursos para a manutenção da instituição. Dentre os programas ofertados pela Estrela da Manhã há o projeto Trançando Vidas, que visa atender as mulheres do território com o intuito de prevenir violências domésticas, fomentar o desenvolvimento emocional, a autonomia financeira e atender demandas familiares por meio de serviços socioassistenciais. Nesse sentido, por meio da pesquisa etnográfica, pretendo descrever os agenciamentos envolvidos nas trocas de experiências entre as partícipes do programa Trançando Vidas, analisando marcadores de gênero e cor, bem como os efeitos que tal projeto tem ocasionado nas mulheres em questão.

Palavras-chave: gênero; etnografia; território; projetos sociais; osc.

 

  • A POESIA DE MULHERES QUILOMBOLAS CIRCUNSCRITAS NA TERRA: UM ESTUDO SOBRE O FAZER ECOLÓGICO NA REGIÃO DE SUAPE (PE). (Irene Adryane Marciano da Silva).

As mudanças climáticas tem sido um tema notável nas ciências sociais dos últimos anos, impulsionadas pela ampliação das discussões acerca do antropoceno e cada vez mais efervescências das reinvidicações dos movimentos de justiça ambiental, que são protagonizados por povos indígenas, quilombolas e comunidades rurais, nota-se a necessidade de repensar sobre a atual condição da vida no planeta. Concomitante a este movimento, temos uma revolução feminista em andamento nas produções científicas e ações políticas que tem buscado contrapor às perspectivas universalizantes guiadas por um ideal colonialista. No mundo todo temos exemplos de pessoas, sobretudo de mulheres, que permenecem em suas formas de vida de modo a desafiar as tentativas constantes de implementação de megaprojetos capitalistas, como as comunidades quilombolas da região de Suape, localizadas no litoral sul do Estado de Pernambuco que habitam em espaços de convivência multiespécie e biodiversidade frente à ocupação do Complexo Industrial Governador Eraldo Gueiros. Elas protagonizam discussões a respeito não só da condição da vulneração socioembiental, mas promovem espaços de refúgio e esperança humanas e extra-humanas através do aquilombamento de suas ações agroecológicas e espaços políticos de cuidado. Desse modo, o que podemos aprender com essas mulheres de quilombos? De que maneira suas ações produzem formas do fazer ecológico? Como elas nos mostram uma vida para além do fim do mundo? É a partir desta quebra de fronteiras que buscamos evidenciar suas ações contra-colonizadoras e estratégias para a produção do bem viver.

Palavras-chave: Mulheres; Suape; Agroecologia; Antropoceno;

 

  • As mulheres e a(s) cidade(s): narrativas e reflexões sobre as distintas formas de ver e performar a circulação urbana de mulheres motoristas de aplicativos de transporte privado. (Laura Talho Ribeiro)

As mulheres precisam obedecer a códigos morais, religiosos e históricos a partir do momento que adentram o espaço público, estando sempre marcadas por condutas restritivas e por permissões veladas nos trajetos realizados. Mas também, elas próprias compõem seus arcabouços de estratégias ao se deslocarem e circularem pelas ruas da cidade, evitando transitar em certos horários, por determinados trajetos e, ainda, furtando-se a tipos específicos de pessoas, muitas vezes, seus passageiros. A pesquisa qualitativa, realizada através de entrevistas com mulheres motoristas de aplicativos de transporte privado, busca trazer narrativas, histórias e tentativas de composição de experiências e modulações diversas para uma antiga problemática: a insegurança e os medos vivenciados por mulheres no espaço público urbano; porém, a partir da introdução de uma nova forma de circulação nas grandes cidades brasileiras: os aplicativos de mobilidade urbana. O trabalho irá então refletir sobre algumas questões principais: como os corpos femininos passam a performar ao adentrar nestes lugares, como os fluxos circulatórios passam a ser modulados, e como os próprios territórios passam a ser redefinidos e repensados para determinados públicos.

Palavras-chave: Circulação; mulheres; violência; estratégias; aplicativos.

 

  • DESAFIOS PARA O USO DA CATEGORIA GÊNERO EM PESQUISAS COM COMUNIDADES ESPECIFICAS (Sirley Vieira)

Nas últimas décadas, houve grande interesse e crescentes estudos que usaram a categoria gênero como base de análise de várias pesquisas. O uso dessa categoria revelou, no âmbito de reflexões direcionadas, importantes bases para pensar as condições das mulheres e ao usar usar o conceito de gênero, numa perspectiva relacional, conseguiram produzir e refletir questões sobre identidades, assim como as condições sobre as masculinidades também. No entanto, os estudos no campo etnológico, em especial com comunidades indígenas, pouco acessam ainda essa categoria. Talvez isso se deva, como elucida Sacchi (2014), porque essa é uma categoria com base em pressupostos culturais ocidentais. Mas, como afirma Quadros (2004), as questõestratadas nos estudos de gênero evidenciaram novos matizes para a análise de categorias clássicas nas ciências sociais, tais como classe e raça. Assim, identifico ser possível realizar uma abordagem relacional de gênero em estudos etnológicos, tendo a consciência, como alerta Cariaga (2015), que ao tratar de comunidades especificas, deve-se considerar os contextos peculiares dessas comunidades, avançando na analise de determinados elementos e ampliando o debate sobre o uso da categoria gênero, a partir dos estudos etnicos em suas particularidades. Pois, como afirma Sacchi (2014), a partir dessa perspectiva é possível realizar “uma discussão acerca dos direitos humanos das mulheres em perspectivas de gênero historicamente situadas, na interface com a questão da etnicidade”. È esse desafio que pretende-se aqui tratar, evidenciando possíveis caminhos para o uso da categoria gênero em estudos dessa natureza.

 

Palavras-chave: Gênero, Etnologia, Comunidades Especificas, Desafios

GT5: Populações Tradicionais Contemporâneas: transformações sociais e identidades culturais.

Guilherme Bemerguy Chêne Neto – Doutor em Ciências Sociais (UNESP)

 

  • Discursos, resistência e (re)construção de identidade no distrito de Baixio das Palmeiras em Crato/CE (Yslia Batista Alencar).

O distrito de Baixio das Palmeiras localizado na zona rural do município de Crato na Região do Cariri cearense, sofre nos últimos anos com o impacto da construção do Cinturão das Águas do Ceará – CAC que tem desapropriado terras destinadas à moradia e ao plantio de culturas. A obra em questão está ligada ao Programa de Aceleração do Crescimento - PAC e estabelece uma relação de conflito entre moradores locais e o poder público. Diante disso, moradores do Baixio passaram a se mobilizar em torno de iniciativas que equacionam o direito à permanência na terra. Entre essas iniciativas está o resgate e a valorização de manifestações e práticas culturais dos grupos que historicamente construíram a comunidade de Baixio das Palmeiras, tais como retirantes, negros e indígenas. Nesse sentido, em um contexto de conflitos vão se construindo discursos que confluem identidade e território evocando elementos que remetem a ideia de tradição para o grupo pesquisado. Este trabalho busca analisar de que modo os agricultores familiares do baixio têm construído os seus discursos a respeito de si e do seu lugar, bem como de que forma os elementos que estruturam seus discursos são mobilizados na construção de suas falas. Esta pesquisa é qualitativa e exploratória e nos utilizaremos de revisão bibliográfica sobre a temática discutida, bem como de coleta de entrevistas semiestruturadas, de forma síncrona, através de plataformas digitais, com lideranças e moradores da comunidade. Levanta-se como hipótese que os tencionamentos causados pela obra do CAC ao demandarem respostas organizativas dos moradores do Baixio implicaram na percepção de territorialidade da comunidade de Baixio das Palmeiras. De modo que essa ressignificação de sentidos sobre o espaço e o grupo são redirecionados em forma de resistência à luta pela permanência na terra.

Palavras-chave: Conflitos Socioambientais; Resistência; Territorialidade; Movimentos Campesinos.

 

  • A FESTA DO SAGRADO: A IMPORTÂNCIA DO ṢÌRẸ́ ÒRÌṢÀ PARA A COMPREENSÃO DO RITO DE INICIAÇÃO EM ADEPTOS DO CANDOMBLÉ NA NAÇÃO KETU (Willians Antonio Alves Teixeira Damasceno).

O presente artigo vem analisar a festividade do candomblé conhecida como Ṣírẹ̀ Òrìṣà, no intuito de compreender o processo de iniciação de novos membros dentro do candomblé, tanto no sentido sagrado quanto no profano, por meio da cosmogonia dos sistemas simbólicos das narrativas míticas e da ritualização do corpo que caracteriza essa religiosidade. Essa prática festiva, herdado pelos terreiros como rito complementar, chegou no Brasil através da diáspora escravista, como intuito de religar o sagrado ao mundo profano dos seres humanos, nessa ótica, a festividade vem a estreitar os laços espirituais entre os ser humano e a ancestralidade, bem como o espaço social que faz parte, por meio da confraternização, da dança, da música e da incorporação pelos Òrìṣà. Nessa confraternização cosmogônica, a interpretação do renascimento e das fases biológica do crescimento dos seres humanos, faz a analogia com a ordem cronológica que é realizada o ritual festivo, que ao começar o primeiro cântico para o Òrìṣà Èṣù e encerrar o rito com o Òrìṣà Òòṣààlà (caracterizado pelo processo da perda gradativa dessa força dinâmica), tem como intuito a representação do caminho que todos os iniciados têm que percorrer, até chegar a sua forma final transcendente, caracterizado pela energia ancestral. Dentro dessa concepção religiosa, o artigo demonstra como o Ṣírẹ̀ Òrìṣà da iniciação, apresenta para os adeptos da comunidade e para o público presente, a cosmogênese yoruba do renascimento dentro das fases de crescimento do indivíduo, como forma de reconhecer os elementos do sagrado dentro do profano.

 

Palavras-chave: Ṣìrẹ́ Òrìṣà, Oralidade, Terreiro, Candomblé, Iniciação.

 

  • Dentro de uma Floresta (Bianca Cruz Magdalena)

A apresentação “Dentro de uma Floresta”, por Bianca Cruz Magdalena, da Universidade Federal do Paraná, pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia e Arqueologia, pretende trazer uma linha do tempo que demonstre as transformações sociais contemporâneas de populações tradicionais quilombolas, do Médio Vale do Ribeira, no Estado de São Paulo, cuja identidade cultural foi o amálgama na luta e resistência para que permanecessem em seus territórios. Apesar das especulações econômicas e imobiliárias, bem como empreendimentos que acarretariam desastres socioambientais, como a construção de hidrelétricas ao longo do Rio Ribeira de Iguape, essas comunidades se organizaram em associações tendo, atualmente, um Protocolo de Consulta Prévia. A fala do quilombola João da Mota, do quilombo Nhunguara, agricultor e coletor de sementes florestais para restauração ecológica, na Rede de Sementes do Vale do Ribeira, demarca a presença do racismo ambiental nessas comunidades tradicionais paulistas: “Há vinte ano atrás eu tinha até vergonha de chegar na cidade e falar que era do, que vinha de uma floresta, a gente se sente mal visto, e hoje me orgulho de falar que tô dentro de uma floresta”. Diante dos conflitos socioambientais enfrentados, esses povos residentes à beira da Ribeira encontram na práxis e na memória de sua ancestralidade a manutenção da vida comunitária a partir de práticas e técnicas associadas ao manejo sustentável da paisagem nos territórios, pelo sistema agrícola tradicional quilombola, permitindo a conservação das matas, a geração de renda e trabalho, além do elo entre essas pessoas, baseado em relações de parentesco e compadrio.

Palavras-chave: Populações tradicionais, quilombolas, Médio Vale do Ribeira, sistema agrícola tradicional; quilombola, manejo sustentável.

 

  • As transformações sociais e a identidade cultural de Florianópolis na cidade inteligente (Denise Ouriques Medeiros; Richard Perassi Luiz de Sousa; Tarcísio Vanzin)

Este artigo trata de uma comparação da ideia de cidade do futuro, notadamente a relação entre a smart city, ou cidade inteligente – conectada, humana e sustentável – com a cidade tradicional, construída sobre uma história de cultura local. Com o objetivo de gerar uma reflexão sobre o tema, e a comparação dos conceitos, para que haja uma reflexão, observa-se o caso de Florianópolis, cidade que carrega a identidade cultural típica do litoral catarinense, colonizada inicialmente por imigrantes açorianos a partir de meados do século XVIII. A caracterização cultural deste grupo acabou por tornar-se uma representação para a diferenciação com vistas à exploração turística, pois, embora o modo de vida e boa parte do patrimônio não tenha sido preservado, a identidade deste grupo tornou-se “uma construção política, instituída por agentes que selecionaram elementos da cultura, que foram ressignificados para serem inseridos na lógica capitalista, ou mesmo inventadas tradições para diferenciar-se e gerar lucro”. O contraste do investimento em grandes empreendimentos, como marinas, hotéis, parques temáticos etc., alinhado ao crescimento do parque tecnológico está em contraste com o pitoresco resquício do modo de vida dos descendentes de açorianos – com sua pesca artesanal ainda em atividade, por exemplo – e o patrimônio que tornam típico o lugar e seus atrativos turísticos (além dos naturais). De um lado está o ‘manezinho’ sendo estereotipado para uso comercial como uma figura simpática, mas atrasada, e do outro está a imagem da cidade criativa que caminha para se tornar uma smart city. Mas que cidade que se quer? Ela é viável? O artigo visa gerar novos questionamentos sobre os rumos que a cidade toma. O manezinho torna-se, aos poucos, uma criatura caricata, uma personagem cada vez mais fragmentada de seus hábitos e costumes, perdido na cidade que se impõe.

Palavras-chave

Identidade cultural, Florianópolis, cidade inteligente, smart city

 

  • Agroecologia e emergências climáticas: o caso do assentamento Mário Lago, Ribeirão Preto/SP (José Caio Alves).

O presente trabalho integra o projeto “O Desafio da Governança das Mudanças Climáticas no Brasil: uma análise multinível e multiatores (O caso do Estado de São Paulo)”, coordenado pela Profa. Dra. Leila da Costa Ferreira, que reuni diversas abordagens num esforço conjunto para avançar as discussões no campo de conhecimento das ciências sociais acerca das interações entre ambiente e sociedade. Trata-se de um estudo de caso no assentamento Mário Lago, que se enquadra na categoria Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS), em Ribeirão Preto/SP. O objetivo central foi analisar atividades derivadas do manejo de sistemas agroecológicos em áreas de preservação ambiental ou de uso comum, considerando em particular seu lugar em termos de governança ambiental e legitimação da reforma agrária na região. Apoiada sobre a sociologia das justificações com implemento de técnicas etnográficas, a metodologia consistiu em: acompanhar, por meio da observação participante, o cotidiano das atividades agroecológicas no assentamento; recolher quantidade substancial de relatos produzidos pelos próprios atores, através de entrevistas no modelo relato de vida e; por fim, o levantamento de documentos oficiais pertinentes. Foi efetuada a análise minuciosa dos dados em torno das trajetórias e motivações dos atores, notadamente com o propósito de discutir a construção de justificativas de ações, iluminando em particular aquelas que mobilizam referências de justiça de ordem ecológica. Assim, foi possível discutir as formas de autenticação dos discursos justificativos, considerando a opção ecológica pelo Movimento dos Trabalhadores sem Terra (MST), assim como as formas de atuação do mesmo em consonância com as pautas agroecológicas. Em conclusão, o MST e seus colaboradores com sucesso obtém a legitimação não apenas da política de reforma agrária, como também no acesso de programas e políticas públicas locais voltadas para preservação ambiental e produção de alimentos orgânicos. Por outro lado, o abandono por parte do Incra e o desmonte de políticas públicas nacionais voltadas para o incentivo das agriculturas agroecológicas impossibilita a organização de grandes projetos de restauração florestal assim como impede, por falta de melhores condições, o engajamento de mais famílias em práticas agroflorestais.

 

Palavras-chave: agricultura familiar, agroecologia; reforma agrária, governança ambiental, sociologia das justificações.

 

  • O tradicional na comunidade quilombola do Cumbe (Ozaias da Silva Rodrigues)

Tendo como foco a comunidade quilombola do Cumbe pretendo discutir o tradicional em populações tradicionais como as quilombolas e relacionar isso à sua identidade cultural. Com base em experiência de pesquisa de campo na comunidade quilombola do Cumbe, em Aracati/CE discuto sobre o ser tradicional nessa comunidade. Foco nos conflitos em torno do território e de seus recursos, na identidade quilombola mobilizada e afirmada e como esses conflitos nos ajudam a entender uma certa dualidade entre tradicional/moderno. A comunidade encontra-se dividida, tendo duas associações que se opõem mutuamente a partir de modos de vida e de visão de mundo bem distintas. Os conflitos são atravessados pelos laços de parentescos, o que gera tensão e divisão social depois que os quilombolas passaram a ser afirmar e buscar seus direitos.    

Palavras-chaves: Tradicional. Quilombolas. Cumbe.

  • Dois debates sobre essencialidade em tempos de Covid-19: reflexões sobre trabalho e poder (Nathália dos Santos Silva)

No contexto das medidas legais adotadas em 2020 para enfrentamento da Covid-19 no Brasil,este trabalho investiga o dispositivo classificatório das “atividades essenciais” como mais um elemento produtor de heterogeneidade nesta pandemia múltipla e desigual. Através desse objeto, refletimos sobre trabalho e poder em tempos de coronavírus, desde as críticas feminista e decolonial. No recorte aqui apresentado, enfocamos a armação discursiva desse dispositivo. Questionamos a “naturalidade” com que certas atividades foram mais aceitas como essenciais que outras, tomando como caso paradigmático o debate em torno do setor minerador. Partindo de uma pesquisa online que reuniu legislação, reportagens, notas técnicas, manifestos e outros materiais, lançamos a hipótese de uma “economia moral da essencialidade”. Enquanto trabalhadores e movimentos sociais questionaram a essencialidadeda mineração e defenderam o seu “direito ao isolamento”, as corporações redimensionaram o debate argumentando que mineração é essencial não só na pandemia, mas para a vida em geral. Por outro lado, a ideia de “trabalho essencial” foi apropriada por teóricas feministas que apontaram possibilidades abertas à luta social, uma vez que formas de trabalho antes invisibilizadas e desvalorizadas - como o trabalho doméstico - puderam ser reconhecidas durante a pandemia. Porém, enquanto algumas atividades aparecem como essenciais à vida,seus trabalhadores e trabalhadoras explicitaram a maneira desigual com que foram, através delas, expostos/as à morte. Argumentamos, enfim, que a classificação de “atividades essenciais” operou uma redistribuição do acesso ao trabalho e às condições de vida, que não pode ser compreendida sem sua interseção com gênero, raça, classe e região de origem.

GT6: Práticas e ritualizações em torno da morte e do morrer

Lucía Copelotti – Doutoranda em Antropologia Social (UNICAMP)

Lucas Faial Soneghet (UFF)

 

  • O “Tributo ao Cadáver de Estudo”: uma análise antropológica de rituais para cadáveres utilizados em laboratórios de Anatomia Humana. (Flora Nina Silva Arrais)

O “Tributo ao Cadáver de Estudo”, consiste em um ritual fúnebre em prol dos cadáveres utilizados para fins didáticos nos cursos da área da saúde. Este evento ocorre anualmente no Departamento de Morfologia e Anatomia Humana (DMAH) de uma Universidade Federal (UF) brasileira. A sua realização, por parte de professores do departamento, objetiva homenagear e dar a devida importância às contribuições que esses corpos proporcionam ao meio científico. Assim, a celebração surge como uma forma de conscientizar e relembrar aos estudantes do cuidado com a vida, mesmo que em um corpo morto, buscando humanizá-los enquanto profissionais. O presente trabalho, advém de minha monografia1, e pretende apresentar e compreender a cerimônia no processo de humanização de corpos e pessoas, aplicada ao contexto de formação de estudantes na área da saúde. Busquei identificar as diferentes significações atribuídas aos cadáveres, e a relação desenvolvida com eles no laboratório, que resulta na realização de cerimônias em sua homenagem. Os dados da pesquisa foram construídos por meio do trabalho de campo em um laboratório de anatomia humana de uma UF brasileira, e também por meio de pesquisa bibliográfica e em veículos de comunicação online sobre a ocorrência desse tipo de evento, que também são realizados de diferentes maneiras em outras UF ao redor do Brasil. Dessa forma, serão discutidas concepções sobre corpo, pessoa, ritual e morte levando em consideração não apenas as práticas sobre a morte e o morrer, mas sobre os mortos também, pois são capazes de agir e influenciar o seu meio e aqueles que estão e em contato consigo, não deixando de possuir uma vida social após sua morte.

Palavras-Chaves: Morte; Corpo; Ritual; Humanização; Ciências da Saúde.

 

  • EQUIPE PALIATIVA DO HOSPITAL NAPOLEÃO LAUREANO FRENTE AO CORPO COM C NCER: AS DIMENSÕES DO SOFRIMENTO NO PROCESSO DO MORRER (Weverson Bezerra da Silva)

O artigo aborda compreender as experiências e dimensões do sofrimento dos profissionais da saúde que trabalham na ala dos pacientes em cuidados paliativos do Hospital Napoleão Laureano (HNL), referência no tratamento de pessoas portadoras de câncer no Estado da Paraíba, na cidade de João Pessoa. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, que se apoiou na observação participante na perspectiva da “etnografia hospitalar”. A pesquisa é resultando de um recorte da dissertação de mestrado intitulada: “trabalhar com a morte é não parar de pensar nela”: estudo antropológico sobre as práticas dos profissionais de saúde do Hospital Napoleão Laureano com os pacientes com câncer em cuidados paliativos. Os esforços dos profissionais da saúde em relativizar os sofrimentos com os pacientes paliativos no processo do morrer é uma das tarefas no trabalho de cuidado nesse processo da terminalidade. Para o paciente prosseguir com a vida, é importante sentir em sua volta equilíbrio, mesmo diante do sofrimento social que proporciona uma “dor total”. Os profissionais relatam que em diversas situações precisam trabalhar paralelamente o tratamento da doença e o sofrimento dos pacientes, um sofrimento que vai além do físico. Tais questões não devem ser vistas como a irrelevantes, são elementos fundamentais frente o que se pode chamar de viver bem ou o sofrimento social que se manifesta em dor. As experiências e práticas dos profissionais levam a pensar sobre aspectos técnicos, como também põem em evidência dimensões intersubjetivas no encontro dos profissionais com os pacientes, com seus familiares e no diálogo com as experiências pessoais de vida e morte, sofrimento e dor.

 

Palavras-chave: cuidados paliativos; antropologia da morte; antropologia da saúde; profissionais da saúde; sofrimento social.

 

  • NO EQUILÍBRIO DA VIDA E DA MORTE: Re-imaginando a vida por meio da perda (Ismael Higor Cardoso Duarte)

O suicídio é um fenômeno presente na vida humana e que merece uma aproximação maior que permita um olhar mais atento a tudo o que o suicídio implica e representa, seja para a pessoa que tenta – e que, às vezes, consegue –, seja para as pessoas próximas, que são consideravelmente afetadas. Assim, o presente trabalho pretende analisar de que forma este fenômeno age na vida de familiares de adolescentes enlutados por suicídio. Posto isto, a pesquisa propõe o seguinte questionamento: de que modo os familiares ressignificam suas trajetórias através de uma existência marcada por uma ausência ou memória do trauma pós suicídio, tendo que lidar com questões como estigmas, tabus e preconceitos. Para responder a tal questionamento serão mobilizados os seguintes objetivos específicos: entender a partir das narrativas dos familiares quais os sentidos atribuídos a experiência de posvenção, considerando seus aspectos subjetivos e intersubjetivos e refletindo sobre o contexto sociocultural em que sua construção ocorre e quais os modelos de conduta na busca por cuidados, as decisões relativas ao tratamento, assim como, compreender os processos de luto e identificar como estes reagem emocionalmente ao trauma. Para cumprir com os objetivos inicialmente propostos será feita uma etnografia com familiares na cidade de Curitiba, como uma abordagem qualitativa, além disso, a pesquisa estará ancorada no procedimento bibliográfico acerca das teorias recentes da antropologia fundamentadas nas subjetividades, saúde e nas experiências do sujeito a partir do procedimento de entrevistas feitas com interlocutores.

Palavras-chave: subjetividades; antropologia da saúde; emoções e luto.

 

  • AGOUROS DE MORTE E AÇÃO SIMBÓLICA NO POVOADO DE PELO SINAL, SERTÃO DO PAJEÚ-PE (Maria Cinthia Pio de Oliveira).

A morte e o morrer como um problema humano diz respeito, necessariamente, aos vivos, que a representam através de uma diversidade de práticas plenas de significações e crenças que dão sentido às realidades sociais específicas. Tais significações são construídas a partir das relações entre os sujeitos vivos, mas também entre os vivos e os mortos, uma vez que é através da memória que permanecemos ligados a estes. Tratando-se de uma cosmologia católica, essa memória pode ser compreendida a partir de sua interconexão com outros elementos, quais sejam a saudade, o tempo, o espaço e os ritos, que partem dos afetos concretos daqueles que os vivenciam e variam conforme as experiências individuais dentro de suas realidades compartilhadas. Não obstante, muitas das memórias e das práticas que constituem essas complexas relações são desconsideradas ou consideradas fora de seus contextos em função de discursos racionalistas que as estigmatizam, o que ocorre aos catolicismos praticados nos interiores, nas margens ou nos sertões do Brasil. Exemplo disso são os agouros de morte, tidos, frequentemente, como superstições ou “sobrevivências” esvaziadas de sentido. Nessa direção, busca-se compreender, numa perspectiva cosmológica, os sentidos atribuídos ao agouro de morte pela comunidade católica do povoado de Pelo Sinal, no Sertão do Pajeú-PE. Neste local é possível entrever uma cultura de morte onde se manifestam não só narrativas como experiências sobre o agouro, que pode ser definido inicialmente como um aviso de morte iminente que suscita emoções vinculadas ao medo da morte e a contingência que ela representa, mas também o seu gerenciamento a partir da expressão e da rememoração dessas experiências, o que envolve uma ação simbólica e reflexiva dos sujeitos em questão.

Palavras-chave: agouros de morte, cosmologia católica e ação simbólica.

 

  • OS MORTOS EM VIDA E NA VIDA ATRAVÉS DE CARTAS (Antonio Renaldo Gomes Pereira; Antonio George Lopes Paulino).

As relações que se estabelecem entre os homens datam dos mais remotos tempos, podendo ocorrer em diversos âmbitos e nas mais variadas situações. Considerando essa miríade de possibilidades elaboradas e vivenciadas pelos humanos, tratamos, aqui, de apresentar uma forma de relação que se firma através da escrita de cartas para um ente querido falecido. Petições, desabafos, planos para o futuro e outros anseios grafados no papel são formas de contato entre vivos e mortos. Compreender as motivações que levam os indivíduos a estabelecerem relações com seus parentes falecidos mantendo-os em suas vidas é o objetivo deste trabalho. A esse intento agrega-se a importância de acessar e conhecer o conteúdo dessas missivas, do qual podem ser delineadas hipóteses acerca das dimensões objetiva (representações sociais e significados) e subjetiva (agenciamentos do sujeito) da escrita remetida a um ente morto. Para tanto, analisamos alguns relatos obtidos em uma pesquisa empírica sobre “os mortos em vida e na vida” realizada no município de São Gonçalo do Amarante, Ceará, em maio de 2022. Essas correspondências constituem parte de uma relação instigante e reveladora dos sentimentos humanos que ultrapassam as barreiras do contato de carne e osso.

Palavras-chave: Morte. Cartas. Sentimentos humanos. Relações entre vivos e mortos.

 

  • A morte na perspectiva do ateu: análise dos repertórios sensoriais e narrativos presentes nas redes sociais. (Rafael Quintanilha).

A morte é o principal tema, após a negação da existência de divindades, enfrentado pela convicção ateísta que se vê obrigada a ordenar a relação indivíduo-mundo através de uma perspectiva racionalista de um materialismo científico – que se baseia, primordialmente, no evolucionismo e na astrofísica. Sendo uma temática que correntemente evoca imagens e repertórios religiosos, a morte e o morrer, segundo a visão de mundo dos ateus, ganha outros contornos narrativos e implicações sensoriais. Esta pesquisa, em andamento, dialoga com o conceito de Formações estéticas de Birgit Meyer, que propõe analisar a produção de vínculos sociais por meio de modos de sentir, mediados por coisas. É um conceito que relaciona os processos de formação de sujeitos com os de suas próprias comunidades. A partir das publicações e debates presentes nas redes sociais ateístas, tem-se como objetivo analisar os impactos que a adoção de um repertório ateísta tem na maneira das pessoas lidarem com a morte de si e do outro; e como a circulação de diversos materiais se relaciona com a produção dos limites entre o ateísmo e a religião. Assim, exploraremos como a circulação de diversos materiais – notícias, citações filosóficas e científicas, imagens etc. – correlaciona-se com a constituição de um singular sensorial “ateísta” que evoca imagens próprias do mundo e sua relação com ele. Como argumentaremos, ao narrar sua relação com a vida e a morte por meio de imagens naturalistas e processos racionalistas, o ateu apresenta inúmeras dificuldades em expressar o seu sofrimento ou lidar com o do outro ao limitar seu arcabouço sensorial no “pensar”.

Palavras-chave: Morte; ateísmo; formação estética

 

  • REFLEXÕES ACERCA DOS CUIDADOS PALIATIVOS EM CURITIBA-PR — O HOSPICE ENQUANTO LUGAR E FILOSOFIA DE TRABALHO (Aline Mariana Rodicz; Eva Lenita Scheliga).

Os Cuidados Paliativos foram definidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 2002 como uma forma de assistência que visa melhorar a qualidade de vida de pacientes e familiares que enfrentam doenças potencialmente ameaçadoras para a continuidade da vida. Ao longo de 2019 acompanhei eventos formativos sobre em Cuidados Paliativos e, em 2020 estive no Valencis Curitiba Hospice. A partir de uma perspectiva etnográfica, busquei analisar as narrativas dos profissionais de um hospice de modo a compreender de que maneira eles se articulam e produzem um ideário paliativista. Ao observar o Valencis e o lugar que este hospice busca ocupar no movimento dos CP, percebi elementos de sua arquitetura, por meio da qual se faz uma atualização das narrativas “oficiais” sobre CP, muito pautados nos relatos sobre a experiência inaugural de Cicely Saunders. Sendo assim, a discussão sobre a “arquitetura” do hospice não acontece apenas em virtude de suas peculiaridades físicas, mas também à luz do conceito de infraestrutura. Com estes “arranjos” que se formam a partir de um lugar e de pessoas comprometidas fundamentalmente com a diminuição do sofrimento, as ações dos profissionais são ampliadas em termos de possibilidades de cuidado. Ficou claro também que prestar assistência em um hospice, materializa um ideário paliativista, pois ele “faz acontecer” e produz condições de trabalho alinhados com a filosofia dos CP. Sendo assim, o hospice não é apenas um marco histórico do início dos trabalhos em CP, ele é uma referência e um modelo muito específico no atendimento. Portanto, neste contexto pode-se perceber a noção de sofrimento sendo trazida através da aplicação das diretrizes e do esforço para aplicação do ideário paliaitivista.

 

Palavras-chave: Cuidados Paliativos, hospice, arquitetura, filosofia de trabalho.

 

  • CEMITÉRIOS PERPÉTUOS E ROTATIVOS: PRATICIDADES URBANAS E CONSEQUÊNCIAS RITUALÍSTICAS (Elisa Gonçalves Rodrigues).

Esta escrita tem o intuito de discorrer sobre os espaços cemiteriais perpétuos e rotativos imersos na cidade de Belém (PA), e atentar-se em como a condição das sepulturas nestes dois tipos de espaços impactam no rito funéreo, nas emoções, memória e no imaginário presentes, aqui, especificamente na metrópole urbana amazônica. Objetivando compreender tais impactos, resgata-se parte da história da capital belenense e as construções de seus campos santos, bem como a relação do urbano presente nas imediações cemiteriais retratadas, e acostada na Antropologia Urbana, Antropologia das Emoções, Antropologia Mortuária e Imaginário em recortes do campo, busca-se compreender como alguns desses marcadores desatam, essencialmente, as construções ritualísticas do estar no cemitério, cultivar a memória e participar do imaginário pertencente a cada recorte temporal e local do espaço. Diante dessas percepções, é possível constatar a implicação direta da ausência dos ritos e devoção aos santos milagreiros em espaços cemiteriais rotativos assim como os perpétuos, quando desativados ou interditados, que impossibilitam a perpetuação da memória permanente de seus sepultados, renovando e inviabilizando o desabrochar do rito, como o Dia dos Finados e outras datas de cunho simbólico-coletivas, em sua mais densa esfera, além da ausência da permanência sensorial afetiva e imaginária dos sepulcros momentâneos, bem como do culto ao ente, que se esvai biologicamente e, em períodos variáveis de três ou cinco anos, também deixa de ser palpável e visto nos campos santos, fazendo dos cemitérios rotativos locações momentâneas para a morte e o morrer.

Palavras-chave: Cemitério perpétuo. Cemitério rotativo. iEmoções. Imaginário. Rito.

 

  • MORTE NAS SOCIEDADES AFRICANAS: um estudo a sobre noção de morrer na etnia mancanha-Guiné-Bissau (Marciano Sanca).

A noção de pessoa comporta elementos físicos, culturais, psíquicos e espirituais. Uma vida só é possível na comunhão com os seus semelhantes. As sociedades africanas têm uma visão concentrada de mundo interdependente e interligada, onde não existe dicotomia entre o visível e o invisível, entre a morte e a vida. Assim, as forças divinas, os chefes (reinos, etnia, clã, família), anciãos, a comunidade, seres humanos, animal, vegetais, ancestrais vivem sob relações de interdependência. Todos formam um todo e estão intrinsecamente ligados à simbiose de vida indestrutível, são realidades idênticas. O presente trabalho consiste em compreender a visão do morrer na sociedade mancanha. O trabalho possui como base metodológica, a revisão bibliográfica. Para Fonseca (1997), o desaparecimento físico é passagem para a terra dos ancestrais, não assinala o fim da pessoa. Segundo Domingos (2011), o projeto maior da vida das pessoas é encontrado no equilíbrio do universo, pois trata-se de uma dimensão relacional da individualidade e da coletividade integradas. A mancanha se vê em harmonia com aqueles que estão vivos e com os que já partiram, os “mortos”. Assim, estar isolado é estar morto. Na concepção africana, a qualidade da vida de uma pessoa depende das relações interpessoais que ela estabelece com o mundo divino e o mundo dos ancestrais. Considera-se que todas as pessoas constituem uma única irmandade/humanidade onde cada pessoa é membro integrante da família humana estendida. A experiência de separação, desintegração, isolamento, é rejeitada categoricamente na sua concepção.

Palavras-chave: África, morte, harmonia, sobrenatural.

GT7: Quando a antropologia se faz objeto

Amanda Gonçalves Serafim – Doutoranda em Antropologia Social (UNICAMP)

Ana Carolina Saviolo Moreira – Doutoranda em Antropologia Social (UFSCAR)

 

  • A LINHA E SEUS NÓS: DESAFIOS NAS FRONTEIRAS EPISTEMOLÓGICAS (Katianne de Sousa Almeida).

O ensaio se propõe a evocar diversas estruturas de linguagem (texto, ilustração e poesia) para compor uma grande teia epistemológica que desafia os velhos hábitos mentais de construção argumentativa dentro da produção acadêmica antropológica. Instigada pelas abordagens decoloniais e seus esforços para desdobrar as teorias clássicas de produção do conhecimento, que tinham como pilar as dicotomias integrantes das metanarrativas, ou seja, as fragmentações entre sujeito x objeto, campo x teoria, objetividade x subjetividade, natureza x cultura, coloco em questão as estratégias para se escapar dos dualismos evidenciando as possibilidades, os imprevistos, assim como os riscos da experimentação na Antropologia. A partir de exercícios que incorporam percepções, movimentos, corporalidades e grafias conduzo um diálogo quanto à polissemia das linguagens, suas autoridades e interdependências. Na atualidade, o desenho assumiu um lugar de destaque nas produções antropológicas, desta forma, é preciso desmistificar o seu uso apenas como ferramenta figurativa e ressignificar sua ascendência dentro da divulgação do conhecimento científico.

Palavras-chave: Epistemologia. Experimentação. Linguagem. Pensamento decolonial. Desenho.

 

  • Como construir trajetórias na antropologia? (Luísa Registro Fonseca).

No campo da historiografia da antropologia é muito comum a pesquisa sobre trajetórias. De personalidades históricas, de interlocutores, como também de antropólogas e antropólogos. O desafio de se fazer pesquisa sobre trajetórias se dá de diversas formas, e pretendo abrir para debatermos sobre elas. A não-linearidade como forma de enxergar os dados; como nos deparar com a organização documental e o que selecionar dela; quais pontos considerar relevantes e quais não e os porquês. Uma pesquisa de trajetória é diferente de uma biografia? Quando um antropólogo estuda a vida e produção de outro, torna-se objeto da antropologia? Tal objeto se faz possível na antropologia exatamente por sua característica de refletir sobre ela mesma?

Palavras-chave: trajetórias, historiografia, arquivo.

 

  • Bissexual pesquisadora ou pesquisadora bissexual? Reflexões sobre subjetividades e identificações no trabalho antropológico (Helena Motta Monaco).

Desde o mestrado venho desenvolvendo pesquisas com grupos com os quais me identifico em maior ou menor grau, primeiro junto a ativistas bissexuais e mais recentemente sobre a formação de espaços bissexuais digitais que incluem ativistas, pessoas pesquisadoras, entre outras que se identificam como bissexuais. Nesse processo, vivencio uma aproximação entre as pessoas interlocutoras da pesquisa e minha própria posição de sujeita bissexual e pesquisadora, de um afastamento relativo, no caso do mestrado, até uma aproximação radical no doutorado por pesquisar espaços que eu mesma componho. Este trabalho discute essa posição como antropóloga identificada com os grupos pesquisados. A partir da antropologia feminista, proponho pensar o compromisso ético e político da pesquisa antropológica, bem como os dilemas enfrentados por essa identificação, afastamentos e as relações estabelecidas com as pessoas interlocutoras da pesquisa, que em alguns casos também são pares acadêmicos. A partir disso, faço uma revisão crítica da literatura bissexual, propondo pensar a bissexualidade como implicada nas dinâmicas de sexualidade e gênero, bem como meu papel enquanto antropóloga de reconhecer meu lugar e localizar os saberes construídos por mim. O trabalho discute, ainda, os limites e lacunas presentes na literatura antropológica a respeito da bissexualidade, que, partindo de uma visão binária eurocêntrica de gênero e sexualidade, ora exclui, ora exotiza a possibilidade de práticas e desejos que escapem às suas categorizações.

Palavras-chave: antropologia feminista; epistemologia bissexual; práticas de pesquisa.

 

  • Parentesco negro: reflexões antropológicas sobre família, parentesco e negritude (Daniela Guedes dos Santos).

Em meados dos anos 2010, Livio Sansone, em um artigo publicado na Revista Brasileira de Ciências Sociais, discorreu sobre a importância do Brasil para a construção dos “Estudos Afro-americanos”: um campo de estudos sobre as relações étnico-raciais nas sociedades constituídas a partir dos espaços das plantations coloniais. Juntamente com o Brasil, os Estados Unidos e o Caribe foram outras duas regiões etnográficas importantes neste contexto. No cerne das discussões elaboradas pelos antropólogos deste campo, aqueles que etnografaram terreiros de candomblé na cidade de Salvador no final dos anos 1930 e no início dos anos 1940, residia uma problemática que permeou o debate antropológico sobre a então chamada cultura afro-americana por décadas ao longo da disciplina. Tratava-se da natureza dos sistemas de parentesco desenvolvidos pelos negros descendentes de escravizados. As noções de raça e cultura foram operacionalizadas de diferentes maneiras durante as tentativas de compreensão das supostas degenerações familiares que, aos olhos dos antropólogos da época, se apresentavam como inerentes ao modo de funcionamento desses agrupamentos sociais. Com foco nas relações de saber-poder implicadas na construção do conhecimento antropológico, este trabalho toma o arquivo etnográfico dos estudos de parentesco afro-americano desenvolvidos entre os anos de 1930 a 1980 como objeto de investigação. Trata-se de um exercício crítico que busca analisar e refletir as bases que estruturaram o debate em torno das especificidades que concernem o que nomeio de “parentesco negro”: formas de construção de parentalidade operadas por comunidades negras frutos de arranjos seculares relacionados tanto a cosmologias africanas atualizadas na diáspora quanto a processos surgidos no bojo de violências geradas pela escravização e pelo racismo estrutural. O enviesamento dessas representações etnográficas abre um leque de problematizações ao redor das teorias antropológicas de parentesco e de outras noções caras para a disciplina, como os conceitos de cultura, sociedade, hibridismo e relações raciais.

 

  • OS CAMINHOS NA ANTROPOLOGIA; A ETNOGRAFIA A PARTIR DAS AFECÇÕES DO ANTROPÓLOGO (Cristhyan Kaline Soares da Silva).

A percepção que o antropólogo apresenta acerca de uma temática de pesquisa sobre o qual ele se debruça se trata, na verdade, de uma autocompreensão que, ao longo do tempo, é aprimorada, pois o conhecimento é construído a partir da experiência individual do antropólogo em sua imbricação com o campo de pesquisa escolhido. Nesse sentido, este escrito é fruto da minha jornada de pesquisa de mestrado em Antropologia na Universidade Federal do Piauí que tem como temática etnografia da paisagem no sudoeste do estado do Piauí. Considerando a pesquisa como um constante devir, é imprescindível destacar a experiência que me levou aos caminhos da antropologia. As experiências que tive na graduação, no âmbito dos projetos que participei, moldaram o caminho para a chegada até a pesquisa desenvolvida na pós-graduação. No objetivo é discorrer acerca da antropologia enquanto ciências que reflete sobre se mesma a partir da noção de saber localizado de Donna Haraway (2009). Tendo como ponto de partida a vivência etnográfica da pesquisa em andamento, propomos uma reflexão acerca dos modos de fazer e pensar antropologia enquanto disciplinar que dispõem da alteridade e do outro.

 

Palavras chaves: etnografia, antropologia e vivência.

GT8: Gênero, Ciência & Saúde: práticas, políticas e produção de conhecimento

Gabriela Marino Silva (Doutoranda PPG-PCT/IG/Unicamp)

Jonatan Sacramento (Doutorando PPGCS/IFCH/Unicamp)

Larissa Tanganelli (Doutoranda PPGAS/IFCH/Unicamp)

 

  • Conhecimento institucional e conhecimentos contra-médico (Tui Xavier Isnard).

A pesquisa que venho desenvolvendo tem interesse em compreender os usos, práticas e circulações de hormônios sexuais sintéticos por dissidentes de gênero. Hormônios como a testosterona, progesterona e estrógeno foram sintetizados em laboratório no final do século XX e logo comercializados enquanto pílulas anticoncepcionais e repositores hormonais indicados, sobretudo, no período de menopausa e andropausa de pessoas cisgêneras. O período de construção de conhecimento científico acerca do corpo hormonal expressa as tensões, disputas, fricções e fixações dos binarismos de gênero, que reduzem o sexo hormonal a verdade e estabilidade corporal. Entretanto, estes medicamentos são radicalmente redimensionados, no que tange sua vida social, quando manipulados por dissidentes de gênero que buscam, através deles, recodificar os marcadores ópticos da diferença sexual. Estes usos, tanto reposicionam o sujeito na estrutura binária do gênero, como abrem brechas no modelo da diferença sexual. Medicamentos compostos por testosterona me chamam especial atenção por terem seus usos restritos a emissão de laudos e receituários médicos. Ainda com a restrição de circulação da testosterona, seus usos não se encontram, mediados por indicações médicas. Pelo contrário, no marco do processo transexualizador do SUS, a chegada de pessoas transmasculinas que fazem uso de testosterona “por fora” é recorrente. Me interessa seguir os itinerários dos medicamentos e conhecimentos produzidos através dos usos e trocas entre dissidentes. Produzindo contraposições entre o discurso médico sobre corpo, saúde e gênero e os elaborados em práticas de ingestão dissidentes.

Palavras chaves: sexo-gênero, hormônios sexuais sintéticos, produção de conhecimento

 

  • Tecnologias reprodutivas, aborto e a criação de realidades diagnósticas, biológicas e sociais em uma maternidade pública de Salvador (Mariana Ramos Pitta Lima)

A comunicação busca documentar, analisar e conceituar as tecnologias biomédicas ou reprodutivas que fazem parte do serviço de atenção ao abortamento de uma maternidade pública de Salvador, Bahia – doravante MPS. Trata-se de uma pesquisa etnográfica, parte dos resultados de uma tese de doutorado em Saúde Coletiva, que envolveu observação participante em diferentes espaços do hospital, como recepção, sala de espera, consultórios de atendimento e de ultrassonografia, e entrevistas com mulheres atendidas por complicações de abortamento e profissionais de saúde. As tecnologias, para fins didáticos, são organizadas em três tipos ideais: tecnologias de organização do serviço e acolhimento (protocolos e fichas), tecnologias diagnósticas (a clínica e a ultrassonografia) e tecnologias de tratamento (curetagem). São examinadas a partir de uma perspectiva dos Estudos Sociais das Ciência e das Tecnologia. As tecnologias integram o “modelo tecnocrático” de atenção à saúde reprodutiva, fortemente marcado pelo contexto abrangente de estratificação intersecional de raça, classe e gênero, e cuidados centrados no hospital-maternidade. Se explora como as tecnologias são constituídas por/e constituem uma serie de espaço-tempos ou mundos interligados marcados pelo contexto de reprodução estratificada. Aprofunda sobre como participam da feitura das diferenças sociais, raciais e de gênero. Em suma, descreve como instrumentos, protocolos e técnicas que compõem ou ‘tecnologias biomédicas’ possuem agência (a despeito da imagem de neutralidade propagada pelos discursos biomédicos) e deixa em relevo seu poder de participar na criação de realidades diagnósticas e biológicas, que é também um poder de criar realidades sociais.

Palavras-chave: Tecnologias reprodutivas; Gênero e saúde reprodutiva; Aborto; Protocolos Feministas

 

  • Equidade na educação: o que o fornecimento de absorventes higiênicos nas escolas públicas podem nos ensinar sobre coleta de dados? (Raissa Barreto Caldas da Silveira).

Saber o perfil dos estudantes, segundo marcadores de gênero, raça/cor, nível socioeconômico e território é de crucial importância para se alcançar a equidade na educação. O objetivo deste trabalho é correlacionar a coleta de dados sobre perfil dos estudantes com a permanência estudantil na educação básica. A metodologia utilizada foi a análise documental especificamente da existência de acompanhamento de frequência por marcadores sociais. Partindo da demarcação da lei para o fornecimento de absorventes higiênicos nas escolas públicas faremos uma reflexão a respeito das políticas públicas e importância da coleta de dados e se a partir desta lei, houve aumento do acompanhamento de frequência por marcadores sociais. Pois, que os direitos são iguais e a educação para todos é o que está escrito na constituição, mas, como se dá a permanência de corpos diferentes e como é feito o acompanhamento é a grande questão no combate à evasão escolar.

 

Palavras-chave: equidade; educação; saúde menstrual; políticas públicas.

GT9: Mulheres indígenas: gênero, política e protagonismo

Augusto César Rocha de Alencar, Doutorando em Antropologia Social PPGAS/Museu Nacional – UFRJ

Viviane Heringer Tavares, Doutoranda em Antropologia Social PPGAS/Museu Nacional – UFRJ

 

  • A LIDERANÇA DE UMA MULHER KIRIRI HOJE EM MINAS GERAIS (Maria Carolina Arruda Branco).

Neste trabalho tratarei da atuação cosmopolítica de uma mulher, liderança do povo Kiriri em Caldas/MG. Este povo, assim como diversos outros povos do contexto “indígenas do Nordeste” (Oliveira, 1998), compartilham a experiência de ter mulheres como as principais articuladoras com os Encantados (Nascimento, 2004), seres Outros-mais-que-humanos, que habitam o cosmos em alguns contextos indígenas. Neste contexto etnográfico, notei que por inúmeras vezes esta mulher é retratada como a “esposa do cacique”, posição que de fato ocupa, no entanto, a argumentação aqui apresentada é de que esta mulher é muito mais do que apenas a esposa do cacique. Ela é uma das principais interlocutoras com os Encantados, ao lado de outra mulher, exercendo um papel de articulação e negociação cosmopolítica intensa entre mundos. Negociando inclusive a permanência de seu povo no território em que estão hoje; e é a partir dela também que alianças políticas se firmam na cidade sul mineira, ao qual passaram a habitar desde 2017, quando foram do estado da Bahia à Minas Gerais. Este trabalho corresponde ao condensamento de um capítulo da minha dissertação, em que reflito os atravessamentos de gênero na prática cosmopolítica do povo Kiriri do Rio Verde, e em como está cosmopolítica é feita através da articulação protagonista de uma mulher em especial.

Palavras-Chave: Mulher; Liderança; Kiriri; Mediação Cosmopolítica.

 

  • Mulheres indígenas na Universidade Nacional da Amazônia Peruana (Cynthia Cárdenas Palacios).

Esta apresentação se centra nas reflexões e experiências de jovens mulheres indígenas amazónicas que estão estudando diversas carreiras na Universidad Nacional de la Amazonía Peruana (UNAP), na região de Loreto em Peru. Analisa-se desde o ponto de vista das estudantes mulheres os desafios que enfrentam para sua formação profissional, a importância de pertencer a uma organização de estudantes indígenas para visibilizar sua situação e problemática na cidade de Iquitos, bem como as tensões que vivenciam a partir do contato com mulheres não indígenas na universidade Debate-se como as políticas públicas de educação superior não consideram categorias nativas como o acostumar-se, os conselhos e o estabelecimento de vínculos entre indígenas como elementos chaves para assegurar sua formação profissional e permanência na cidade.

Palavras chaves: mulheres indígenas profissionais, OEPIAP e acostumar-se.

 

  • SEMIÓTICA E GÊNERO: A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DA MULHER POTIGUARA (Vanessa Pastorini)

A pesquisa aqui esboçada pretende explorar as possibilidades de diálogo entre os estudos semióticos, voltados sobretudo para os aspectos da cultura, com os estudos de gênero, a fim de elucidar aspectos da mulher originária brasileira na contemporaneidade. Para isso, situa o contexto da urgência de uma abordagem de análise que privilegie as políticas interseccionais, a partir da tríade raça, classe e gênero (CRENSHAW, 2002), como a demanda por uma perspectiva decolonial (LUGONES, 2011), cujos aparatos a serem manuseados escapam das categorias universalizantes. Toma como corpus a construção de um padrão de forma de vida da mulher originária brasileira por meio da obra da militante/ativista Eliane Potiguara, enquanto sujeito em condição de precariedade face aos discursos normativos, como também vislumbra a análise das narrativas esboçadas na coletânea “Ser mulher indígena é...” (2018). Em ambas as obras, tem-se o destaque da memória ancestral e o fato do atributo ser indígena usado como ferramenta política. Como proposta de metodologia de análise, tomamos de empréstimo reflexões da semiótica da cultura de Lotman (1996 [1966]), cujo diálogo com os estudos de gênero permite uma nova compreensão dos grupos marginalizados. Retomamos ainda a semiótica discursiva, a partir da proposta do plano de conteúdo, ensejando as contribuições feitas por Fontanille (2015) no projeto das formas de vida. O intuito consiste em elucidar os aspectos dos processos de resistência dessas mulheres, inseridos em uma nação avessa às causas indígenas, uma vez que apenas recentemente, em 1988, a legislação brasileira outorgou o direito a esse grupo de se posicionar politicamente. A partir desse marco, compreendemos a intensificação de lideranças femininas que, longe de terem sido inseridas no projeto de homogeneização da nação, se sobressaem por meio de lutas que abarcam o campo individual rumo ao coletivo – seja por meio da literatura, da militância ou das mídias sociais.

Palavras-chave: semiótica; estudos decoloniais; gênero; identidade; mulher indígena.

 

  • As pautas das “parentas” na política brasileira e os seus significados para os movimentos de mulheres indígenas (Ana Manoela Primo dos Santos Soares)

Nesta pesquisa tecerei uma reflexão sobre as trajetórias e protagonismos de lideranças mulheres indígenas nas políticas externas e internas aos seus territórios, nas relações entre suas candidaturas, mandatos e participações em movimentos indígenas. Ao tecer uma cronologia das mulheres originárias na política, busco compreender quais são suas alianças, demandas e participações no cenário político mais recente. Neste ano, 2022, o Acampamento Terra Livre (ATL) organizado pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), teve como tema “Retomando o Brasil: Demarcar Territórios e Aldear a Política”, no qual foram lançadas diversas campanhas de pré-candidatas com a finalidade de comporem a “Bancada do Cocar”. Enquanto as eleições deste ano, também tem como uma de suas campanhas o “Chamado pela Terra: Mulheres Indígenas: Poder, Movimento e Retomada da Política” organizado pela Articulação das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA). Esta campanha tem como finalidade divulgar, fortalecer e trazer visibilidade as candidaturas de mulheres indígenas nas eleições. A partir de análises sobre os lançamentos das pré-candidaturas e de diversas campanhas indígenas, surgem informações que são relevantes para se compreender quem são estas “parentas”, que futuramente poderão compor uma bancada do cocar. Realizo assim, uma pesquisa sobre as participações, demandas e pautas políticas das “parentas” na política brasileira e dos significados disto para os movimentos de mulheres originárias e para suas comunidades.

Palavras-Chaves: Mulheres Indígenas; Mulheres Indígenas na Política; Aldear a política; Retomar a política; Demarcar as urnas

 

  • Deus e os jagre: cristianismo, política e agenciamentos femininos entre os Kaingáng (Rafael Benassi dos Santos).

Este ensaio propõe uma reflexão sobre a interseção entre política, religião e gênero entre os Kaingáng, através de uma análise dos agenciamentos das mulheres cristãs na TI Xapecó (SC). Parto da concepção de que a política indígena não pode ser destacada das dinâmicas do cotidiano, das formas de construção e consolidação de vínculos a partir dos núcleos domésticos, das redes relacionais que produzem coletivos sociopolíticos e a transmissão de conhecimentos ligados às formas de criação de pessoas e cura de corpos. Considero, para tanto, fundamental avaliar as formas assumidas pelo cristianismo e as transformações em papéis de gênero que se vinculam às diferentes dinâmicas de ação política destes indígenas na atualidade. Sejam católicos ou evangélicos, a religiosidade vem ampliando as possibilidades de criação de espaços e coletivos que permitem maior protagonismo feminino em atividades políticas e rituais, tradicionalmente vinculadas aos homens. Utilizo dados etnográficos coletados no ano de 2022, em uma pesquisa colaborativa com a kujã (xamã/curadora) e oradora evangélica Matilde Koito. A partir da sua vivência cotidiana, abordo seus agenciamentos em atividades domésticas e xamânicas, as divisões entre católicos e evangélicos, assim como das mulheres Kaingáng cristãs da TI Xapecó de forma geral.

 

Palavras-Chave: Kaingáng, Cristianismo, Mulheres, Política, Xamanismo

 

  • O PROTAGONISMO DAS MULHERES DAS MULHERES INDÍGENAS APINAJÉ FRENTE ÀS QUESTÕES POLÍTICAS, CULTURAIS E TERRITORIAIS. (Carina Alves Torres; Aline Accorssi)

O presente trabalho tem por objetivo discutir o protagonismo das mulheres indígenas Apinajé1 frente às questões políticas, culturais e territoriais. O fato observado é que nas ultimas décadas as mulheres nessa etnia e especificamente as cacicas, estão participando ativamente das demandas sociais com atuações nas diversas esferas sociais. Historicamente a função de liderança era exercida por homens, onde as mulheres se concentravam nas funções de casa, artesanato e roças. Após o processo de demarcação territorial no ano de 1985, as mulheres vêm se destacando e protagonizando várias atuações em seu território, como organizações de reuniões, festas, eventos e manifestações. Vários estudiosos realizaram pesquisas nessa etnia abordando temáticas que versavam a cultura, rituais, festas e território, sem dar ênfase a questão de gênero, apenas no inicio dos anos 2000, que pesquisadoras mulheres, iniciaram pesquisas sobre gênero, com a dissertação de mestrado A Questão de Gênero na Etnologia Jê a partir de um estudo sobre os Apinajé de Raquel Pereira Rocha (2001), anos posteriores o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) A vida de Nhiro: etnobiografia de uma cacica Apinajé de Welitânia de Oliveira Rocha (2016) e a dissertação de mestrado da mesma pesquisadora O movimento das mulheres indígenas Apinajé: Tempo, Política e chefia feminina (2018) e a pesquisa mais recente de mestrado Mulheres indígenas Apinajé: Trajetórias socioespaciais com a cidade de Tocantinópolis-To de Carina Alves Torres (2020). São pesquisas que demarcam as novas dinâmicas territoriais, socioespaciais e culturais das mulheres Apinajé, nessa perspectiva apresento o protagonismo dessas mulheres no contexto atual, abordando a revisão bibliográfica de pesquisas que demarcam as mulheres em suas dinâmicas sociais e pesquisa de campo realizada com lideranças femininas no período temporal de 2019 a 2022. A pesquisa foi realizada através da metodologia qualitativa, com o método da pesquisa oral de vida e recurso etnográfico, onde vivenciei o cotidiano das mulheres lideranças, observando as diversas funções sociais que elas exercem no território colhendo narrativas dos saberes e conhecimentos tradicionais.

Palavras Chaves: Mulheres Apinajé; Protagonismo; politica.

GT11: Pesquisando saúde, doenças e tecnologias: diálogos e possibilidades

Hellen Caetano – Doutoranda (PPGAS/UFRN)

Heytor Queiroz – Doutoranda (PPGAS/UFRN)

 

  • ESTUDO ANTROPOLÓGICO SOBRE A RELAÇÃO ENTRE TRABALHADORES DA SAÚDE E A MORTE POR COVID19. (Eládio Fernandes de Carvalho Junior)

Durante a pandemia da covid19 muitas pessoas morreram dentro dos hospitais brasileiros, e o trabalhador da saúde estando na linha de frente ou não, vivenciou e está vivenciando, um período de luto, pela perca de seus pacientes, colegas de trabalho e familiares. Esses trabalhadores, ao qual a sociedade imputou uma aura de heróis, tiveram sua formação, um regime de verdades ao qual o biopoder circunscreve, onde a morte tem uma intima relação com o fracasso profissional, e não como algo próprio da vida. Então os envolvidos com a dinâmica da covid19, ao lidar com um volume de mortes, necessita de uma bagagem não apenas emocional, mas também aprender a lidar com a morte em questões epistemológicas. Assim utilizando das ferramentas do oficio antropológico desejo pensar a seguinte questão: Esses trabalhadores estavam preparados para lidar com as mortes em grande escala, durante a pandemia de covid19 eles tiveram ou estão tendo algum respaldo para lidar com ela? Dessa forma utilizando pensadores da antropologia das emoções, da morte e da saúde, pretendo entender como se deu o trabalho com a morte nas unidades de saúde e como esses profissionais vivenciaram, o que muitos autores tem nomeado de “genocídio”, nesse momento que atravessamos no Brasil.

 

  • A hesitação vacinal em um grupo virtual: reflexões iniciais sobre narrativas, práticas e conhecimentos articulados (Marta Abatepaulo de Faria).

A vacinação universal é aceita para controle de doenças infecciosas e é uma das políticas e técnicas de segurança em saúde mais globalizada. Mas tem-se observado um declínio na cobertura vacinal nos últimos anos. Com o advento da pandemia de COVID-19, os debates sobre a eficácia e segurança das vacinas, além da obrigatoriedade da vacinação estão presentes na mídia e nas redes sociais. A pesquisa em andamento visa analisar a visão de mundo e as lógicas presentes nos discursos e conhecimentos compartilhados a respeito da não-vacinação em um grupo de um aplicativo de mensagens e pode ajudar a compreender o que leva à hesitação vacinal, além de refletir sobre os efeitos da vacina enquanto um objeto que causa efeitos no mundo e suas diferentes narrativas quando em circulação. As pessoas simpatizantes à causa anti-vacinação não são visíveis nos equipamentos de saúde, mas encontram nas mídias sociais o local onde podem se expressar junto a seus pares e compartilhar sua visão de mundo. Pensar nas teorias dos Outros sobre como a vacina, enquanto objeto, atua no mundo ajuda a compreender o que é mobilizado para suas ações e que conhecimentos e pessoas são articulados, assim como os itinerários terapêuticos utilizados.

Palavras chave: antropologia da saúde, grupos anti-vacinação, hesitação vacinal.

 

  • Reflexões sobre políticas ontológicas em uma pesquisa no campo da Saúde Coletiva: realidades múltiplas em seus contextos práticos (Tainã Queiroz Santos).

Apresento reflexões sobre as políticas ontológicas elaboradas a partir do trabalho de pesquisa de pós-graduação em Saúde Coletiva que teve o intuito de explorar a noção de realidades múltiplas, elaborada por Annemarie Mol, através das práticas vividas e dos relatos produzidos pelos participantes sobre uma doença oncológica, o câncer de pele tipo melanoma, em seus distintos contextos. Ao considerar a estrutura de fluxos de atendimentos na sala da quimioterapia, as versões farmacológicas utilizadas e os impactos financeiros dos tratamentos realizados, problematizo como as tecnologias médicas não apenas intervém no curso da doença, como mudam as expectativas e produzem desigualdades sociais nas trajetórias assistenciais de cuidados em saúde. Sendo essa também uma questão política do que pode ser feito, dentro das condições de possiblidades, que envolvem modos de vida desiguais e, em parte, incomensuráveis. Até porque as discussões sobre saúde-doença-cuidado envolvem objetos plurais e complexos que precisam ser considerados em sua multiplicidade.

Palavra-Chaves: Políticas Ontológicas. Realidades múltiplas. Doença oncológica. Saúde Coletiva.

 

  • A construção do corpo: diálogos entre a bioantropologia e o xamanismo dos povos da família linguística Pano (Carlos Sérgio de Brito Moreira Júnior).

Este artigo versa criar diálogos e expor os pontos de interseção entre as ontologias ameríndias e ocidental, do xamanismo dos povos da família linguística Pano e da bioantropologia, no que tange à constituição do corpo e da pessoa como ser físico e social que altera seu meio de modo a se construir e reconstruir constantemente. São trazidos para a discussão pontos de vista que se comunicam, apesar de serem constantemente tidos como opostos e não relacionáveis. Para os povos indígenas, as ideias de construção e formação do corpo e da pessoa estão intimamente ligadas às noções de doença, saúde e cuidado, desse modo, as doenças se apresentam muitas vezes como uma desregulação da relação do corpo com o(s) espírito(s) da pessoa e de seus muitos processos de conhecer e se construir, sendo o corpo saudável aquele que consegue executar corretamente o processo de conhecer a partir de suas funções e sentidos e que é construído e formado da maneira correta. A bioantropologia, por sua vez, traz discussões que tratam a forma humana como moldada a partir do meio, tanto por influência natural como por outros humanos, sendo a evolução humana considerada um fenômeno biosociocultural. Deste modo, diversos diálogos podem ser estabelecidos entre as duas concepções que podem auxiliar futuramente as práticas de saúde e cuidado para com os povos indígenas. Busca-se então, a partir das etnografias dos povos da família linguística Pano e suas especificidades, compreender o papel do xamã e de outros seres, humanos e não humanos, na construção da pessoa e criar pontes para o diálogo entre diferentes modos de conhecimento, de ser e se relacionar com o mundo.

 

  • IMPACTOS DA COVID19: uma etnografia dos povos indígenas que não vivem em terras demarcadas no Baixo São Francisco (Maria Alane dos Santos).

Neste texto, apresento uma discussão sobre a saúde indígena de povos que não vivem em territórios demarcados e reconhecidos pelo Estado no Brasil. Sendo assim, o que se pretende, é fazer uma discussão sobre como o território tem grande importância na saúde indígena, e como a saúde é ofertada a estes povos, levando em consideração os impactos da pandemia na saúde indígena. O que se objetiva, é trabalhar o território como fator determinante do tipo de serviço de saúde oferecido à população indígena brasileira. A situação da saúde dos povos indígenas no Brasil é complexa, estando diretamente relacionado com o processo de colonização, a processos históricos de mudanças sociais. Os povos indígenas, ao longo da história, sofreram com epidemias de doenças infecciosas, muitas das quais inclusive contribuíram para a expropriação de territórios e apossamento recursos indígenas. O Brasil é um país que vive em um cenário no qual existem várias etnias indígenas, esses povos apresentam imensa sociodiversidade que devem ser levadas em consideração em qualquer discussão sobre o tema. Assim sendo, torna-se importante compreender como nesse período de pandemia a saúde chega a estes povos, ou seja, como acontece a assistência de saúde, bem como, os caminhos e canais que estes povos encontram para se proteger, preserva e ter acesso à saúde.

Palavras-chave: Saúde indígena; território; serviço de saúde.

GT12: África no plural: pesquisas em/sobre contextos africanos

Thais Tiriba – Doutoranda (PPGAS/USP)

Vinícius Venancio – Doutorando (PPGAS/UnB)

 

 

  • A ÁFRICA EM DIÁSPORA E A EXISTÊNCIA DE ARTEFATOS DA CULTURA NEGRA NO BRASIL (Rafael Ferreira da Silva; Meryelle Macedo da Silva).

O processo afrodiaspórico no Brasil propiciciou a sedimentação de unidades culturais africanas, as quais passaram por ressignificações no tempo-espaço, formando novas unidades alimentadas com saberes culturais especificos, que formam uma compexidade sistêmica do pensamento negro e da estrutura dos artefatos culturais da população negra brasileira. Objetivamos com esse trabalho reconhecer os artefatos da cultura negra presentes no campo e na cidade. Sob o fundamento da pesquisa afrodescendente (CUNHA JUNIOR, 2013), realizamos uma revisão bibliográfica por meio de estudiosos da história africana, como Cunha Junior (2010, 2013, 2020), Obenga (2010) e Hampâté Bâ (2010), bem como do processo afrodiaspórico, a exemplo de Nunes (2010), Silva (2018)  e Silva (2019). Sintetizamos como artefatos da cultura negra o patrimônio arquitetônico urbano e rural, constituído por técnicas de construção africanas, as religiosidade de matriz africana, as profissões como pedreiro, marceneiro e ferreiro, a organização social dos quilombos e dos bairros negros e as manifestações artísticos-religiosas como as Congadas.  Os conhecimentos da população africana e de seus descendentes no espaço geográfico precisam ser refletidos na escola buscando positivar a presença negra e atender as normativas que estabelece uma nova história africana e afrodescendente, a exemplo da Lei 10.639/03.

 

Palavra-Chaves: Unidades Culturais Africanas; Processo afrodiaspórico; Artefatos da Cultura Negra.

 

  • Da ancestralidade africana aos lugares-espaços dos antepassados tsonga: a construção social do “sagrado africano-tsonga” (Dulcídio Cossa).

Neste trabalho procuro adentrar a partir da espiritualidade “tradicional” africana, particularmente tsonga, e as culturas bantu, as bases que constituem a relação entre o mundo dos vivos e o dos antepassados nos contextos changana-tsonga e rhonga-tsonga que pesquiso. Deste modo, analiso a noção de antepassados e sua hierarquia como categorias locais; a temporalidade de invocação dos antepassados; os espaços sagrados dos antepassados enquanto lugares-espaços e espaços-tempo socialmente construídos. Falar de espiritualidade “tradicional” africana ou de ancestralidade africana, particularmente tsonga, remete ao conjunto cultural de ideias, sentimentos e ritos baseados na crença de dois mundos inseparáveis: o visível e o invisível; dos vivos e o dos antepassados; crenças no carácter comunitário e hierárquico destes mundos; crença no Ser Supremo, Criador e Pai de tudo (MULAGO, 1980). Metodologicamente opto por uma afroperspectiva que articula autores africanos e não africanos e sentidos locais de categorias de classificação.

 

Palavras chave: Ancestralidade africana. Antepassados. “Sagrado africano”. Lugares-espaço. Espaços-tempo.

 

  • Dos temperos e dos Feitiços: nas teias do mercado erótico entre Brasil e Moçambique (Maisa Fidalgo).

Esse trabalho segue o fluxo do mercado erótico em suas circulações transnacionais – Brasil e Moçambique – para pensar sobre significados de gênero e sexualidade mobilizados por pessoas, coisas e informações. O mercado erótico compreende uma extensa gama de artigos utilizados para o incremento das relações sexuais. São pós, géis, temperos, acessórios, brinquedos e outros materiais que sugerem práticas sexuais diversas. Nesse sentido, essa pesquisa segue atenta aos modos pelos quais esses artigos são vendidos, comprados, divulgados e organizados em Maputo, capital de Moçambique, coproduzindo nesses fluxos de pessoas e coisas diversos significados e relações de gênero e sexualidade. Se os artigos eróticos rodam o globo, ora atrelados às práticas e estéticas pornográficas, ora às noções de cuidado e bem-estar pessoal e do relacionamento, ora a outros significados e relações, no fluxo Brasil/Moçambique que privilegio nessa pesquisa essa circulação enreda conexões específicas. Até aqui, em campo online e offline, foi possível mapear, dentre outras relações, três principais que são as condutoras desse fluxo recortado. Trata-se: 1. Da fabricação de artigos em indústrias brasileiras; 2. Do imaginário erótico e sensual atrelado à brasilidade; 3. Do consumo de materiais midiáticos brasileiros que informam pessoas moçambicanas inclusive sobre sentidos de relacionamentos afetivo-sexuais. São verdadeiras teias que articulam noções de uma cultura global e comercial do sexo, relações contextuais locais e relações entre os dois países que compartilham – dentre outros sentidos – a língua portuguesa e materiais de mídia nesse idioma. Os artigos se tornam, então, verdadeiros condutores desses fluxos e vão “amarrando” em si sentidos, pessoas e objetos que serão analisados no eixo Brasil/Moçambique ao longo de toda a pesquisa do doutorado.

Palavras chave: Moçambique, mercado erótico, gênero, sexualidade.

 

  • UDEMU: DA RESISTÊNCIA À ‘DUPLA OPRESSÃO’ À EMANCIPAÇÃO DAS MULHERES GUINEENSES (Iadira António Impanta).

Neste artigo me inspiro na tese da antropóloga portuguesa Margarida Paredes (2014), com o título “Combater duas vezes: as mulheres na luta armada em Angola”. A pesquisa da autora explora as ambiguidades entre o trabalho obrigatório e a resistência das mulheres, entre a guerra nacionalista, anticolonial e os meandros da guerra civil, ampliando a leitura sobre as diferenças políticas entre os três principais movimentos/partidos políticos angolanos, como o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) e a Frente Nacional da Libertação da Angola (FNLA). Assim, o objetivo é fazer uma discussão sobre o conceito da ‘dupla opressão’ para situar o leitor sobre as resistências das mulheres guineenses, os processos emancipatórios durante e após a luta armada, bem como a luta pelo reconhecimento, procurei também falar sobre a fundação da UDEMU, como ela tem sido colocada pelas interlocutoras no processo que elas denominam de ‘emancipação das mulheres’ e por último, discuto se as propostas pioneiras da UDEMU se enquadram ou não nos moldes dos movimentos feministas ocidentais contemporâneos.

Palavras Chaves: UDEMU, Guiné-Bissau, mulheres, resistência.

 

  • “Nada sobre a gente sem a gente”: Olhares cruzados para o movimento de pessoas com deficiência na África do Sul (Pedro Lopes).

Esta comunicação baseia-se em um levantamento bibliográfico realizado na Cidade do Cabo, África do Sul. Trata-se de refletir sobre a noção de deficiência em um diálogo teórico e etnográfico Sul-Sul, especialmente, com um país de importante tradição de ativismo e pesquisa relacionados ao tema. Organizo essa leitura a partir de pesquisas sobre a história do movimento sul-africano de pessoas com deficiência, ao qual se atribui a autoria do lema do movimento internacional, “nothing about us without us”, “nada sobre nós sem nós”. A comunicação dedica-se ao período entre a intensificação da violência pelo regime de apartheid e a democratização sul-africana, com especial atenção às articulações discursivas e simbólicas entre deficiência, raça, gênero e classe, bem como aos afastamentos e aproximações entre movimento social e Estado.

Palavras-chave: Antropologia, deficiência, marcadores sociais da diferença, África do Sul.

 

  • A ESTIGMATIZAÇÃO DA ETNIA BAKONGO: UM ESTUDO VOLTADO A PROVÍNCIA DE LUANDA-ANGOLA. (DIAKENGA LUCAS VICTOR)

O presente projeto intitulado “A Estigmatização da Etnia Bakongo: um Estudo Voltado a Província de Luanda Angola”, vai abordar os processos de estigmatização enfrentados por pessoas da Etnia Bakongo do Norte de Angola, especificamente da Província do Uíge, que se deslocam à capital Luanda. Esse povo sofre perseguições culturais de pessoas pertencentes a outras etnias, que se expressam de modo depreciativo aos Bakongo. Essa estigmatização engendra uma segregação dos membros da etnia na sociedade angolana. Isso se dá uma vez que há o entendimento de que esses povos pertencem à República Democrática do Congo e são usurpadores do Patrimônio Angolano. Destaca-se o momento histórico ocorrido em Luanda conhecido como “Sexta-Feira Sangrenta” onde pessoas do grupo linguístico Kikongo em janeiro de 1993 foram vítimas de uma chacina.

Palavra-chave: Etnia Bakongo, Estigma, Sociedade Angolana.

 

  • Uma etnografia da roça Agostinho Neto em São Tomé e Príncipe (Lauro José de Assunção Rosa Cardoso)

Esta pesquisa de doutorado em andamento, pretende compreender a roça Agostinho Neto em São Tomé e Príncipe (STP) a partir de uma etnografia, tendo os moradores, as terras e as famílias como aspectos relevantes para entender o cotidiano, as práticas, os eventos e os movimentos que constituem o local, enquanto uma roça não apartada da realidade do país e do mundo. É importante frisar que a palavra roça no contexto são-tomense, assume uma conotação similar a de um grande latifúndio, uma fazenda ou uma economia de plantation, que no caso da roça Agostinho Neto foi marcada pela produção de cacau enquanto monocultura. Outro termo em STP, que também faz referência à roça é o de antiga empresa, relativo ao fato de Agostinho Neto ter funcionado como uma empresa pertencente a uma companhia privada ou instituição portuguesa durante a segunda colonização, sob um regime de contrato de trabalho de serviçais provenientes de países como Cabo-Verde, Angola e Moçambique. No percurso desta pesquisa antropológica e etnográfica, objetiva-se compor e mapear as relações que os moradores locais e os antigos serviçais ou trabalhadores contratados tecem com a roça e as mudanças temporais e espaciais que a configuram nos dias atuais. Assim como, perspectiva-se realizar uma pesquisa em arquivos, tanto em STP como em Portugal, de modo a entender o processo histórico da formação das roças no arquipélago, levando em conta as duas reformas agrárias ocorridas no país em 1975 e nos anos de 1990, com atenção particular para as transformações que foram acontecendo na roça Agostinho Neto ao longo de mais de cem anos de existência.

Palavras-chave: Roças; Roça Agostinho Neto; Empresa; São Tomé e Príncipe; Etnografia.

 

  • DA LITERATURA AO CINEMA: UM ESTUDO SOBRE A ADAPTAÇÃO DO CONTO “O DIA QUE EXPLODIU MABATA-BATA, DE MIA COUTO (Danyelle Marques Freire da Silva).

Este estudo tem como objetivo analisar o processo de adaptação da obra literária “O dia que explodiu Mabata-Bata” (1986), de autoria do escritor moçambicano Mia Couto, para o formato cinematográfico, desenvolvido pelo cineasta Sol de Carvalho, também moçambicano. O conto integra o livro Vozes Anoitecidas, publicado em 1986; a adaptação teve sua estreia no ano de 2016. São poucas as pesquisas referentes à temática da transposição de obras de escritores e cineastas de países africanos e, por mais que tenha havido a valorização da adaptação, ainda há um longo caminho e muitas adaptações a serem analisadas, sobretudo no campo teórico. As adaptações evidenciam tanto as especificidades dos modos pelos quais ocorre a transposição dos aspectos de uma arte para a outra quanto o percurso histórico do cinema nesses países. Para alcançar o objetivo de analisar produções distintas, é necessário o estudo das duas áreas às quais elas pertencem: a literatura e a cinematografia. Para pensar o diálogo entre essas artes, pode-se partir de Bakhtim (1997), que diz que todo e qualquer discurso traz as marcas de outros, não há fala que não se estruture a partir de vozes alheias; da mesma forma, toda produção reflete uma anterior. A partir desse entendimento, analisar-se-ão as interseções existentes entre as obras em questão, uma vez que é esse entendimento de diálogo que sustentará as comprovações esperadas por este estudo.

PALAVRAS-CHAVE: Cinema. Literatura. Adaptação. Moçambique.

GT13: Identidade, política e movimentos sociais

Guilherme Oliveira

Universidade Estadual de Campinas (IFCH)

Larissa Fontana

Universidade Estadual de Campinas (IEL)

 

  • Identidade, ações afirmativas e ativismo: mobilizações estudantis sobre a pauta das cotas raciais (Daniara Thomaz)

A partir de meados dos anos 2000, as cotas raciais passaram a ser implementadas de modo mais expressivo pelas universidades públicas brasileiras, respaldadas pelos anos de reivindicações e debates protagonizados por sujeitos e coletivos negros organizados em torno dessa temática desde o fim da década de 1990. Como resultado de tais políticas afirmativas, uma nova narrativa acadêmica começa a surgir, articulando a produção do conhecimento científico com o ativismo político e cultural: trata-se dos coletivos estudantis negros que ganham ênfase e notoriedade, sobretudo após as Jornadas de Junho de 2013, conferindo uma nova roupagem aos movimentos negros brasileiros ao questionar a subrepresentatividade negra nos bancos e currículos universitários. Formados predominantemente por pessoas jovens, esses coletivos encontram nas cotas raciais tanto um instrumento de transformação e democratização do ensino superior, quanto um catalisador para a construção de suas identidades raciais. Com base em dados etnográficos obtidos durante minha pesquisa de mestrado sobre a implementação de cotas raciais na Universidade Estadual de Maringá, localizada no norte do Paraná, o presente artigo propõe uma discussão acerca das formas pelas quais a juventude negra acadêmica tem se apropriado da pauta das ações afirmativas, mobilizando-a enquanto um tema emergente para o debate acadêmico e para a atuação dos movimentos sociais negros. Para tanto, o trabalho foi desenvolvido a partir de dois métodos: i) etnografia de arquivos; ii) entrevistas com integrantes do Coletivo Yalodê-Badá, grupo envolvido com a campanha em prol das cotas raciais na instituição maringaense.

Palavras-chave: Cotas Raciais; Identidade Racial; Movimento Negro; Ações Afirmativas; Coletivos Estudantis Negros.

 

  • JOVENS DO TERRITÓRIO QUILOMBOLA BOA VISTA MOBILIZADOS PARA A GARANTIA DE DIREITOS COLETIVOS (Adriana Silva Saraiva; Anny da Silva Linhares)

Na luta pelo acesso à terra protagonizada por comunidades negras rurais a autodefinição quilombola emerge como expressão de identidade cultural e política para garantia de direitos coletivos.No Território Quilombola de Boa Vista em Rosário, Estado do Maranhão, noventa famílias reivindicam a regularização fundiária ao Instituto de Colonização e Terras do Maranhão (ITERMA). No decorrer do processo administrativo (ainda em curso) registramos o avanço na mobilização social e participação ativa de sujeitos, especialmente dos jovens, no levantamento de dados sobre o histórico da ocupação territorial e na identificação de patrimônios culturais para contribuir como Diagnóstico de Identificação e Reconhecimento desenvolvido pelo ITERMA. A metodologia adotada incorporou oficina formativa, coleta de informações in loco com caminhada transversal, entrevistas junto aos guardiões da memória e catalogação simples de bens culturais com fichamentos, registros fotográficos e desenhos, envolvendo seis jovens de 18 a 24 anos residentes em Boa Vista e integrantes do Programa Agentes de Desenvolvimento Rural Quilombola da Secretaria de Estado da Igualdade Racial. A reconstituição da história a partir da memória coletiva possibilitou aos jovens expandir o conhecimento sobre seus antepassados e as relações étnico-raciais estabelecidas ao longo do tempo, enquanto que a catalogação dos patrimônios culturais contribuiu para a ressignificação de determinados objetos, espaços, formas de expressão e saberes como símbolos identitários do grupo. Fato este que enriqueceu a formação dos jovens como agentes de ação pública para promoção de um “aquilombamento” livre.

Palavras-chave: Quilombo.Identidade e Memória.Patrimônio Cultural.

 

  • Performances afro-brasileiras: engajamento e identidade político-cultural a partir do corpo, estética, emoções e sensações (Lívia Rabelo)

Neste trabalho reflito sobre formas de engajamento político de lideranças quilombolas que articulam corpo, arte, estética, política, emoção e cultura através do canto, do toque de tambores e da dança afro-brasileira. Estas lideranças, majoritariamente mulheres, são fundadoras, apoiadoras e gerações posteriores do Grupo Afro Ganga Zumba (GAGZ). Fundado em 1988 tem sua sede na Comunidade Quilombola do Bairro de Fátima (reconhecida em 2007), no município de Ponte Nova - Minas Gerais, tendo sido reconhecido em 2015 como Patrimônio Imaterial Municipal. As atividades são baseadas no cuidado e no afeto, compondo uma proposta de transformação da indignação e da raiva – diante da discriminação racial – em luta antirracista, valorização dos saberes locais e autoafirmação identitária. Desse modo, ao valorizar a cultura afro-brasileira, contribui para a formação de subjetividades moral e emocionalmente instruídas sobre a questão racial. Inspirada por uma perspectiva da corporeidade, mostro uma linguagem micropolítica a partir do corpo, sensações corporais, movimentos e emoções que vão configurando uma identidade. Um fazer-político que não é necessariamente e apenas falado, mas dançado, cantado, tocado e sentido no cotidiano. É a resistência de existir, de ensinar estas atividades para a comunidade, sendo exemplo de admiração, beleza, reconhecimento e respeito. Assim, tenho buscado compreender, de uma perspectiva micropolítica, como corpo, estética, movimentos, sensações e emoções afetam e coparticipam da conformação de ser gangazumbeiro e ser quilombola no Grupo Afro Ganga Zumba.

Palavras-chave: Corpo; Emoções; Grupo Afro Ganga Zumba; Micropolítica.

 

  • CAMINHOS ABERTOS: MULHERES NEGRAS, INTELECTUALIDADE E INSURGÊNCIAS (Rosana da Silva Pereira)

Consideramos o colonialismo como uma violência sistemática que apaga e silencia os conhecimentos e saberes de povos tradicionais como quilombolas, indígenas e também muitas outras formas de manifestação de conhecimento diaspórico. O resultado deste, é o processo é a valorização de narrativas e epistemologias eurocêntricas. Desta forma, se torna necessário, sobretudo a partir do pensamento decolonial, a amplificação de narrativas e estudos de pesquisadoras e pesquisadores que possuam ligação com o campo a ser pesquisado/discutido. Por muito tempo, a população negra foi construída como objeto da ciência, o racismo científico em seu caráter estrutural, demarca os sujeitos que são pesquisados e aqueles pesquisadores. Tal fenômeno produz conhecimentos sobre os sujeitos-objetos, ao mesmo tempo que denota o outro, como caracteriza Grada Kilomba (2019). Neste sentido, refletindo sobre a questão apresentada pela intelectual indiana Gayatri Chakravorty Spivak “Pode o subalterno falar?”, e compreendendo que ao longo das últimas décadas, a intelectualidade brasileira tem se defrontado com a insurgência de intelectuais negras, sobretudo, nas Ciências Humanas e Sociais, o presente estudo busca refletir sobre a intelectualidade negra e suas contribuições nas discussões sobre gênero e relações étnico-raciais, dialogando com referências negras como produtoras de saberes e conhecimentos, denotando o protagonismo do feminismo negro como pilar para a produção de novas epistemologias.

 

Palavras-Chave: Intelectualidade Negra; Mulheres Negras Acadêmicas; Feminismo Negro Brasileiro.

 

  • Conectando Tradições - Ativismo Cultural Periférico e Memória Negra (Nicolau Musa)

O presente trabalho tem como objetivo discutir as modulações que um movimento cultural periférico faz da questão racial em sua prática política. A reflexão, ainda incipiente, nasce de trabalho de campo com a Comunidade de Samba do Pagode da 27 – principalmente ao olhar para algumas das músicas do grupo - feita para um mestrado ainda em andamento. Parte-se de um pressuposto: há uma centralidade destes movimentos culturais periféricos para se pensar ativismo e política nas periferias dentro do atual contexto do “conflito urbano” brasileiro (MACHADO, 2010). No debate sociológico, muitas vezes a discussão sobre as atuações dos “sujeitos periféricos” (D’ANDREA, 2013) não aborda a questão racial diretamente, separando as discussões da Sociologia Urbana e da Sociologia da Diferença até em nível epistemológico algumas vezes (RODRIGUES et al, 2020). Emerge a importância de conectar os debates e pautas. Argumento que há uma especificidade do samba e sua “tradição” (COUTINHO, 2011) que contribui com a intersecção. Entretanto, para além disso, a prática contemporânea de uma Comunidade de Samba, ajuda na apreensão de um “espaço de experiência” (KOSELLECK, 2011) comum ao ser periférico e ao ser negro, irrompendo, no presente, um mesmo passado (BENJAMIN, 1987), de forma a conectar memórias, trajetórias, lutas e expectativas.

Palavras chaves: Sociologia Urbana; Sociologia das Diferenças; Periferia; Identidade; Política

 

  • FORMAÇÃO POLÍTICA NO ACAMPAMENTO CORAGEM: Contribuições do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) (Laylson Mota Machado; Airton Sieben).

O presenta trabalho tem por objetivo analisar a atuação política e educativa do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), tendo como campo de investigação a Comunidade Ribeirinha do Acampamento Coragem. Este grupo enfrenta atualmente os embates contra o Consórcio Estreito Energia (CESTE), na luta pela terra que ocupam atualmente em Palmeiras do Tocantins (TO), desde outubro de 2015. As demandas de lutas e reconhecimento por direitos acompanham suas vivências desde 2007, quando a Usina Hidrelétrica de Estreito iniciou suas obras. Após a ocupação do território, os/as ribeirinhos/as se organizaram coletivamente para permanecer ocupando o território em disputa, através do apoio do MAB, constroem e reivindicam os direitos violados pelos empreendedores, passando a viver da subsistência obtida da produção do pescado, do plantio em roças de toco e criação de animais. Os caminhos metodológicos seguem a pesquisa qualitativa, com uso de história oral de vida e observação participante realizada na comunidade. Esta pesquisa traz parte do debate exposto em minha dissertação, defendida em junho de 2020, pelo Programa de Pós-Graduação em Estudos de Cultura e Território (PPGCULT/UFNT). Diante disso, as abordagens elencadas neste trabalho visam trazer as contribuições do movimento social na formação política e educativa de uma comunidade tradicional, como pressupostos dos movimentos serem matrizes geradoras de saberes, este estudo evidencia como este conhecimento é perpassado entre a comunidade e os militantes, e como a atuação do MAB é primordial na luta pela terra.

Palavras-chaves: Movimento dos Atingidos por Barragens; Acampamento Coragem; Formação Política.

 

  • POETISAS SURDAS: ENTRE CORPOS POÉTICOS SINALIZANTES E ARTIVISMO FEMININISTA (Rebeca Garcia Cabral)

O presente trabalho faz parte de uma pesquisa de mestrado em fase de finalização. A partir das vivências em meio às comunidades de surdos, esse trabalho tem como principal objeto apresentar as poetisas surdas como agentes transformadoras do movimento social de surdos. Nesse sentido, algumas das questões que nortearam o desenvolvimento dessa pesquisa foram: Como as mulheres surdas se apropriam do espaço da internet para promover suas expressões artísticas? É possível ou desejável para elas separar o ‘ser mulher’ e o ‘ser surda’ nas produções dessas poetisas? De que modo questões como violência contra as mulheres são retratadas nessas poesias? De que forma as poetisas surdas criam diálogos possíveis entre os movimentos de surdos e os movimentos em favor das mulheres? Assim, essa pesquisa de mestrado buscou delinear o movimento social de surdos, mostrando de que maneiras estão inseridas as expressões artísticas nas demandas desse grupo social, bem como refletir sobre questões de gênero e feminismo e suas relações com as mulheres artistas surdas. Além da dissertação, como produto dessa investigação também foi produzido o filme etnográfico “Poetisas Surdas: subjetividade e representação feminina na arte surda”.

 

Palavras-chave: movimento social de surdos, poesia em língua de sinais, estudos de gênero, arte de surdos, artivismo.

 

  • A identidade punk como recurso de contestação política em Aracaju (SE) (Letícia Oliveira Feijão Galvão)

Neste trabalho, busco investigar como a identidade punk, no contexto das culturas urbanas e juvenis da cidade de Aracaju (capital do estado de Sergipe) pode se configurar enquanto um recurso de contestação política para alguns sujeitos. Partindo de uma perspectiva que adota os Estudos Culturais como base teórica, com ênfase nas considerações de Hall (2003) e Woodward (2014), irei me aprofundar em como a emergência de novas identidades culturais na contemporaneidade pode influenciar o surgimento de formas de ação políticas situadas no campo do simbólico, como a música e as artes visuais. A metodologia adotada consistiu na revisão da literatura especializada sobre estilos de vida, culturas juvenis, identidades e processos identitários e sobre o movimento punk; na condução de entrevistas semiestruturadas com membros da cena punk aracajuana; e na análise de produções artísticas da cena a partir do método documentário de interpretação (WELLER et al, 2002). Considerando que este trabalho é fruto de uma pesquisa ainda em andamento, até o momento foi possível concluir que a cena punk, em Aracaju, possui um conjunto de valores políticos próprios, além de um repertório estético específico, responsáveis por mobilizar as figuras que se integram à cena local - o que torna possível estabelecer um diálogo com os conceitos de agências estetizadas, desenvolvido por Marcon (2019) e de partilha do sensível, elaborado por Jacques Ranciére (2019).

Palavras-chave: identidades; processos identitários; movimento punk; ativismo político.

 

  • Motociatas: ritual ou contingência? (Bruna Ayres)

Este estudo teve por objetivo investigar se as motociatas realizadas em torno do presidente Jair Bolsonaro poderiam ser enquadradas como um ritual representativo da identidade dos militantes bolsonaristas. Parte de uma pesquisa mais ampla realizada pela autora sobre grupos bolsonaristas, o trabalho foi desenvolvido no âmbito da disciplina de Antropologia III da graduação de Ciências Sociais da FGV CPDOC, dedicada ao estudo dos rituais. Produzida ainda no ápice da pandemia, a pesquisa teve como metodologia a realização de entrevistas semi-estruturadas on-line com membros de motoclubes do Estado do Rio de Janeiro. O estudo partiu da hipótese de que Jair Bolsonaro e seus correligionários poderiam estar criando um novo ritual junto à militância para comunicar valores tanto para a base aliada como para a oposição. O contato com motoclubistas, inicialmente, fazia parte de uma estratégia para acessar bolsonaristas que tivessem participado dos eventos. Entretanto, durante as entrevistas a autora foi tomando conhecimento do universo do motoclubismo, repleto de valores, regras e rituais próprios. Dentre os elementos que compõem essa cosmologia estão as motociatas, ato ritual que é a própria razão de ser dos motoclubes. A partir de então foi possível compreender que a militância bolsonarista não estava criando algo novo, mas se apropriando de um ritual estabelecido entre os motoqueiros, aproveitando-se de seus valores e símbolos para fins políticos. Além da óbvia tentativa de demonstrar apoio popular através dos eventos, Bolsonaro também se apropriou do símbolo maior expresso no modo de ser dos motoqueiros: a liberdade, tema caro a sua base aliada, ainda que possamos questionar a compreensão substantiva dentre os bolsonaristas.

Palavras-chave: Bolsonarismo, Motociatas, Apropriação Ritual, Liberdade, Política.

 

  • “CABOCO BERADERO”, UM MOVIMENTO CULTURAL IDENTITÁRIO NA CIDADE DE PORTO VELHO/RO (Betânia Maria Zarzuela Alves de Avelar)

Rondônia compõe a Amazônia Ocidental, apresentando uma história atravessada por múltiplos ciclos migratórios, mobilizados pelos seus diferentes ciclos econômicos. Essa realidade permeia os processos constitutivos de memória e identidade da região, em permanentemente disputa e reelaboração, em especial em sua capital, a cidade de Porto Velho. Encontrando-se à margem do Rio Madeira, as disputas na cidade são perpassadas pelas relações socioeconômicas estabelecidas com o rio, que envolvem processos como a geração de energia elétrica, garimpo irregular e o impulsionamento do agronegócio e da monocultura na região. Mas é também nas “margens” desse rio que outras práticas socioculturais que não as dominantes se estabeleceram, sendo elas remanescentes de comunidades indígenas e/ou quilombolas, conformando o/a “caboco/a beradeiro/a” (aquele que vive a beira do rio) . Às margens do rio Madeira, mobiliza-se uma identidade beradera, objetivando-se aqui compreender como se constitui e é performado o protagonismo na construção dessa identidade cultural em Porto Velho. Para isso, utilizaremos da análise de produções artísticas locais, visto que elas foram fundamentais para a ressignificação da visão subalternizada que perpassava o lugar de ribeirinho. Quando produções artísticas passam a reivindicar o direito à ancestralidade, esta relação se ressignifica, de modo que se reconhecer beradero insurge enquanto uma emergência identitária. As conexões que perpassam a identidade beradera advêm a relação com o campo e intervêm na vivência do contexto urbano por meio de uma comunicação dialógica, produzindo outras práticas na cidade, como processos de aquilombamentos.

Palavras-chave: Práticas socioculturais; Identidade; Produções artísticas; Ancestralidade; Cidade.

GT14: Corpos dissidentes no habitar a cidade: experiências de coafetaçao

Ismael Silva dos Santos (PPGAS- UNB)

Joelma Cristina de Lima Antunes (PPGA – UFBA)

Sarayna Martins Mendes (PPGA – UFBA)

 

  • “ESCUTAS, AFETOS E MEMÓRIAS”: PROCESSOS DE TERRITORIALIDADES NEGRAS, EXPERIÊNCIAS E SABERES ANCESTRAIS NO BRASIL (João Mouzart de Oliveira Junior)

As territorialidades negras ancestrais possuem diferentes morfologias socioespaciais que guardam e evidenciam os múltiplos saberes das comunidades negras atreladas aos efeitos das suas experiências que foram e são ativadas nas diferentes realidades brasileiras. Esses processos de ocupação e redefinição das espacialidades auxiliam a pensar nas configurações locais físicas e simbólicas que expressam as marcas de presença e pertencimento negro nas unidades em que estão inseridas. Além disso, foi necessário direcionar o olhar para as maneiras de se fazer existir a partir das trajetórias negras constituídas nos distintos cenários, sendo possível acionar e ressignificar seus conhecimentos e práticas a partir dos elementos que se encontram à sua disposição, produzindo assim, ora o contraste e ora, seguindo as diretrizes trazidas de África. Diante do exposto, a pesquisa objetiva compreender os sentidos e significados atribuídos aos processos de territorialidades negras articuladas pelas experiências e saberes ancestrais. Por fim, foi possível captar que a racialização dos espaços são permeadas de negociações, sociabilidades, alianças, conflitos, disputas, mobilidades e ambivalências políticas estabelecidas de forma relacional no movimento de cuidar e de autocuidado, assim, as leituras feitas em diferentes territorialidades negras oportunizaram captar os reconhecimentos e elos firmados do outro lado do Atlântico dotadas de simbologias norteadoras de valores transoceânicos e diaspóricos que carregam os traços culturais de autorreferência.

Palavras- Chave: Processo de Territorialidades. Saberes Ancestrais. Memória. Afeto e Cuidado.

 

  • QUANDO O SETTING É A RUA: DESAFIOS DO FAZER PSICANALÍTICO NA OCUPAÇÃO DA CIDADE PELAS CLÍNICAS ABERTAS DE PSICANÁLISE (LAURA JANE RIBEIRO)

Tradicionalmente praticado em classes e bairros privilegiados, em sessões de alto custo, o atendimento psicanalítico tem sido expandido para a população em geral, de forma gratuita e em espaços públicos, por movimentos de coletivos como a Clínica Aberta e a Psicanálise na Praça Roosevelt, em São Paulo, a Estação Psicanálise em Campinas, a Psicanálise na Praça em Porto Alegre e a Psicanálise na Rua em Brasília. Em meio à cena urbana,transeuntes habituais ou eventuais (FRÚGOLI,2007), moradores e trabalhadores das ruas sem nenhuma combinação prévia são sensibilizados (MUNIZ SODRÉ,2018) e convidados a receberem escuta e acolhimento em sessões de terapia realizadas ali mesmo por psicanalistas voluntários,cuja motivação expressa é a busca de práticas engajadas socialmente. É a oferta de uma escuta partilhada e comum (KÄES, 2005) retroalimentada pelas indagações devolvidas pela rua e que intervém na cidade, intervém na hierarquia social estabelecida de classe, racial e gênero. É também uma ação que escapa da forma mercadoria, deslocando o atendimento e a prática psicanalítica para espaços não tradicionais que prescindem da privacidade do consultório, das mediações monetárias, das sessões previamente agendadas, do divã, da construção da relação de transferência com analista determinado, elementos dentre outros constituintes do setting psicanalítico. O objetivo deste artigo é, através da abordagem etnográfica, compreender o movimento das clínicas abertas, quem são e como interagem seus atores (analistas e analisandos), como estes afetam e são afetados pelas interações com a cidade, quais as afirmações, resistências e desafios da clínica realizada na rua (FREHSE,2009) em relação ao modelo de clínica tradicional.

Palavras-chave: Prática Psicanalítica - Escuta na Rua - Intervenção Pública

 

  • Comportamentos em perspectiva: análise da coluna Comportamento na revista G Magazine (1997-2001) (Eric B. Fraga)

A G Magazine foi um periódico homoerótico nacional que circulou no Brasil de 1997 a 2013. Assim como a Playboy, voltada a homens heterossexuais cisgênero, a G articulava discursos sobre um certo estilo de vida a seus leitores. Durante o período de redemocratização, discussões sobre gênero e sexualidade retomavam sua circulação abertamente nos veículos de mídia, graças ao fim da censura pelo regime militar que governou o país nas décadas anteriores. A virada do milênio aparecia no horizonte como uma esperança de mudanças sociais, tecnológicas e políticas para o Brasil. Em meio a este contexto específico, a G circulava pelas bancas do país, direcionando-se ao universo gay, expondo corpos desejáveis, estilos de vida e discutindo comportamentos em suas páginas. Este trabalho tem como objetivo analisar os discursos sobre performances de gênero e sexualidade presentes na coluna Comportamento, de 1997 a 2001, totalizando 24 aparições nas 51 edições analisadas, consultados no acervo da Biblioteca Nacional. Um novo ethos homossexual se formava e era discutido em um momento onde se tornava cada vez mais possível, claro com ressalvas, uma existência gay pública. Temas como trabalho, família, relacionamentos, dar ou não pinta e sociabilidades diversas eram discutidos na coluna em que se discutia quem era o homossexual “moderno”, aqui esta noção de moderno aparece em contraposição ao “careta”. Parte fundamental deste novo ethos, é a circulação em ambientes urbanos, como bares, saunas, academias e boates, especificamente a revista dialoga com a região metropolitana de São Paulo. Consequentemente, inserindo conceitos, ideias e noções sobre o espaço urbano e a relação com a identidade homossexual que se formava.

Palavras-chave: gênero, mídia, sexualidade, G Magazine.

 

  • Monstruosidades em trânsito: A performance visual das caretas na ocupação da rua durante o carnaval de Cacha Pregos, Vera Cruz – BA. (Manoel da Paixão Lordelo da Silva Junior).

Pensar os festejos populares brasileiros em uma perspectiva da linguagem visual é estar atento as inúmeras narrativas que são construídas e ressignificadas a partir das imagens que se convertem em elementos cênicos, para além do vestuário e gestualidade, onde as experiências sonoras, visuais, táteis, olfativas e degustativas aparecem de modo extremamente imbricados e ressonantes de outras interseccionalidades, diante de algumas categorias como o corpo, classe, gênero, raça e religião, que impactam diretamente nos espaços em que transitam. Nas regiões periféricas, as festas populares reconstroem por suas vias as possibilidades de resistir e inscrever discursos silenciados, revoltas, anseios e desejos que permitem a continuidade de histórias, identidades e memórias dos seus grupos sociais, possibilitando cada vez mais uma experiência processual e performativa capaz de resistir e ressignificar os contextos em que estão implicados na ocupação dos territórios. Nesta perspectiva, o trabalho visa refletir e analisar a figura dos mascarados, comumente chamado de careta, da comunidade de Cacha Pregos, no município de Vera Cruz, Bahia, enquanto manifestação cultural em que o uso das máscaras grotescas participa e se desenvolve como discursos de representação de dissidências corpóreas que se constituem como subversões dos paradigmas reguladores da vida formal, a partir de deslocamentos estéticos pensados por esses brincantes, agentes culturais e artistas em diálogo com seu espaço, como ready-mades populares. Para isto, serão apresentados conceitos da Teoria das Artes.

 

Palavras-chave: monstro, caretas, Cacha-Pregos, corpo, ready-made.

 

  • USOS E REINVENÇÕES DO ESPAÇO CITADINO EM SEU COTIDIANO (Lorena Silva Marques; Betânia Maria Zarzuela Alves de Avelar).

Medidas instituídas dentro do processo de crescimento e organização das cidades determinaram a separação dos corpos e funções dos espaços, consolidando-se uma racionalidade urbana pautada nas noções de progresso. Tem-se com isso a ordenação da circulação das massas e o controle de grupos que pudessem ameaçar a ordem proposta, fortalecendo-se leis de repressão contra grupos rualizados. Essa lógica normativa e individualizante reverbera no espaço citadino ainda hoje, influenciando na forma como a cidade lida com pessoas que se utilizam da rua enquanto espaço de trabalho e/ou moradia, à exemplo da População em Situação de Rua (PSR) e de catadores(as) de recicláveis. Diante disso, objetivamos discutir sobre outras formas de se viver e fazer cidade, considerando a PSR e as/os catadores(as) de recicláveis, a partir de duas pesquisas. A primeira, realizada entre julho e dezembro de 2020, com a PSR em Petrolina, cidade do sertão pernambucano, teve como metodologia a observação participante a partir do acompanhamento das atividades do Consultório na Rua. A segunda, utilizou-se da história de vida enquanto metodologia, após anos de trabalho (2015-2019) com catadores(as) de recicláveis em espaços formais e informais, em Porto velho/RO. Em ambas as pesquisas, foi possível a reflexão sobre as muitas maneiras de se viver o cotidiano, abordando a reinvenção de si e do mundo da rua através da criação de novos territórios materiais e existenciais que se desdobram da utilização da cidade. Com isso, evidencia-se os diversos modos de apropriação dos espaços, desviando-os de sua função original e possibilitando a problematização do que está dado como fixo.

Palavras-chave: Cidade; População em Situação de Rua; Catadores de Recicláveis; Cotidiano.

 

  • Macrofilia: estéticas do esmagamento no fetiche por homens gigantes na internet (Ribamar José de Oliveira Junior)

De baixo para cima, busco neste artigo refletir sobre a macrofilia a partir do fetiche por homens gigantes na internet. Para tanto, faço da etnografia em ambientes digitais um modo de perambular por redes sociais em que circulam esse tipo de conteúdo para pensar na articulação entre corpo e mídia. Em uma visão do informe como ponto exterior, penso que talvez seja possível articular o fetiche por homens gigantes a partir dos limites da forma, diante do que pode dialogar com uma estética do próprio informe. Dessa forma, na leitura dessas imagens compartilhadas online de homens gigantes busco pensar o que seria uma estética do esmagamento, principalmente, nas experiências do fetiche de tanto esmagar como de ser esmagado. Em um duplo movimento do desejo, destaco a visão da espacialização pelos territórios e corpos, sobretudo, em torno de uma experimentação do real. Seja por essas cidades que conhecemos onde esses homens gigantes passeiam ou por essas imagens em que há um olhar de baixeza para a grandeza desses pés que não conhecemos. Se o excesso aparece na deformação entre a baixeza e elevação, talvez haja nesse fetiche uma insistência em fixar essa territorialidade recortada de corpos-paisagens por uma estética do esmagamento oriunda de um desejo de pé que reflete a grandeza do desejo por ser minúsculo, levando em conta uma maquinaria do masculino que opera na imagem cirúrgica de cima. Ao tratar do desejo do pé, destaco os circuitos libidinosos dos pés, isto é, da própria pressão dolorosa do músculo que a sola inflama na pisada em cima do corpo.

Palavras-chave: Mídia; Fetiche; Gênero e Sexualidade; Etnografia; Macrofilia.

 

  • A Insurreição Fermenta (Melanie Theresia Peter)

A comunicação aqui proposta visa refletir e seguir os passos de um corpo microbiopolítico que começa a se entender e entender a sua codependência com os microorganismos. Abordará de forma sumária aspectos históricos dessa codependência entre certos tipos de micróbios (nesse caso as leveduras) e humanos e de forma mais aprofundada o que eu chamo de: “a insurreição fúngica em curso”. O centro do discurso são as assembleias onde humanos e microorganismos atuam em força produtiva. O enfoque serão os processos de fermentação (pão, caxiri, cerveja, tucupi e laticínios). Nesses processos, que serão analisados em suas vias artesanais onde há um encontro entre as mãos e as materialidades, as leveduras, sobretudo as Sacharomyces, tem papel fundamental. Corpos que amassam, mastigam, cozinham e depois aguardam que fermentem as substâncias serão tomados como ponto de partida para reflexões acerca das linhas de vida que vão sendo traçadas a partir dos encontros com a anarquia fúngica, bem como das possibilidades de futuro em um mundo para além da pasteurização.

Palavras-chave: estudos multiespécies, leveduras, microbiopolítica, artesania.

 

  • A CONSTRUÇÃO DO TERRITÓRIO TURÍSTICO E O APAGAMENTO DE CORPOS NEGROS NO PAPEL DE TURISTA (Joice dos santos)

A partir de provocações teóricas, este ensaio tem como objetivo central discutir criticamente como se dá e são percebidas a presença das pessoas negras no território turístico. Entende-se que no Brasil, o racismo está fundado no seu processo. Por conseguinte, as linhas abissais se recolocam na atual exploração das relações sociais, e consequentemente do turismo. Apesar da interdependência entre as pessoas e de seu encontro físico, esse encontro é dado de maneira assimétrica, marcado pelas relações desiguais de poder, produzindo distinções radicais. Dessa forma, parte-se da tese de que o apagamento de presença de pessoas negras em espaços turísticos se deve a práticas interseccionais e estruturantes de gênero, classe e etnia/raça. No entanto defende-se que ao invés da baixa existência dos corpos negros neste território, há na verdade um silenciamento através simbologias, imagem em que destaca as pessoas negras em local de subalternização ou seja, aqueles que servem nos bastidores do turismo em lugar de serviçal ou no lugar do exotico a se consumido. A natureza metodológica deste trabalho é de ordem teórica, a partir de seleção de textos que corroboram no debate interseccional sobre raça, gênero e turismo, para pensar sobre em um turismo democrático e inclusivo aos sujeitos, especialmente àqueles e àquelas pessoas estigmatizadas em razão de sua cor de pele, origem étnica, diversidade de gênero e condições econômico culturais.

 

Palavras-chave: pessoas negras, turismo, território turístico, interseccionalidade

 

  • UMA (ETNO)GRÁFIA DOS USOS E SENTIDOS ATRIBUÍDOS ÀS COISAS COM RODAS NAS PRÁTICAS SOCIOCULTURAIS DE UM ESPAÇO PÚBLICO URBANO E SEUS ARREDORES EM JOÃO PESSOA – PB (João Vitor Velame)

Este trabalho trata-se de uma reflexão a partir da escrita da dissertação do mestrado no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Antropologia (PPGA/UFPB) da Universidade Federal da Paraíba, tendo como orientadora a Profa. Dra. Lara Santos de Amorim. Eu (João Vítor Velame) venho realizando uma pesquisa a partir da observação participante, utilizando dos recursos do diário de campo e diário gráfico. Destarte, produzi uma série de desenhos sobre os usos e sentidos atribuídos a diversos instrumentos com rodas (carrinhos de mão, carrinhos de frete, carrinhos de geladeira, carrinhos de armazém, carrinhos de supermercado etc.) que são utilizados por diferentes atores sociais no âmbito de um mercado público e de uma ocupação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis, ambos localizados no Bairro dos Estados da cidade de João Pessoa-PB. Este trabalho adentra o campo da Antropologia Urbana e Antropologia Visual repensando nas possibilidades da criação e invenção que se entrelaçam no fazer (etno)gráfico. Nesta perspectiva, nos percursos vividos na cidade, vidas se entrelaçaram, na companhia do outro e podem ser vistos a partir da circulação dos instrumentos com rodas no cotidiano de diferentes atores sociais. Nesse viés, o trabalho escrito foi produzido a partir de uma etnografia multissituada e a partir de uma ação etnográfica, para pensar no contexto destes instrumentos com rodas no espaço público, urbano e em seus arredores. Destarte, este trabalho buscou acompanhar a circulação destes carrinhos associados às práticas socioculturais através de desenhos, coleta de histórias de vida a partir de entrevistas e conversas informais, principalmente, utilizando do desenho-elicitação durante uma oficina de desenho realizada com dois grupos de catadores pessoenses.

 

Palavras-Chave: Carrinho de mão; Espaço Público Urbano; Etnografia e Desenho; Mercado Público em João Pessoa.

GT16: Antropologia das Práticas Corporais e Esportivas: Diálogos Interseccionais

Edward González Cabrera (Université Rennes 2 / PPGA-UFBA)

Lucas Maroto Moreira (PPGA-UFBA)

 

  • um movimento de fé: YOGA CRISTÃ COMO MODALIDADE DE YOGA MODERNO (Renan Dantas).

O presente trabalho pretende primeiro refletir sobre a modalidade de yoga cristã, criada pelo sacerdote jesuíta Haroldo J. Rahm como uma variação do Yoga Moderno. E, em segundo lugar, destacar as modulações da corporeidade envolvidas em sua prática. Para tanto, recorremos metodologicamente a entrevistas, as análises textuais e a observação participante. Observa-se neste sentido, a modulação de modos somáticos de atenção – atravessados por códigos culturais católicos e ióguicos – capazes de delinear a presença divina na experiência vivida pelo praticante.

 

PALAVRAS-CHAVE: Yoga Cristã; Corporeidade; Catolicismo.

 

  • Caboclos e pessoas: relações em movimento. (Ana Rizek Sheldon).

Este ensaio parte de experiências de campo em terreiros de candomblé de Salvador para discutir práticas que vinculam pessoas e entidades caboclas. Reconhecidos como donos da terra, os caboclos explicitam em suas cantigas, nos dizeres que enunciam e nos seus movimentos, implicações relacionais específicas, por exemplo, com a mata, as águas, os animais, as pedras, o sol e a lua. Estas implicações relacionais confluem com o que Bispo dos Santos (2015: pg. 90) chama de relação respeitosa, biointerativa com elementos vitais. A proposta do texto é apresentar práticas que explicitam esta condição relacional composta pelas entidades e com isso, discutir como essa condição pode dimensionar algumas concepções de relação e vida, formulando o seu vínculo com pessoas e eventualmente modulando as relações das pessoas com o mundo.

Palavras-chave: Caboclos, Religiões Afroindígenas, Movimento.

 

  • Artefato Manual - preparando um corpo para preparar a comida (Rafaela Etechebere)

Neste trabalho pretendo iniciar algumas discussões sobre técnicas corporais (manuais) que despontaram na minha pesquisa de doutorado na Cozinha da Ocupação 9 de Julho. Comecei minha pesquisa como voluntária, acreditando que meu conhecimento culinário vindo de uma experiência amadora seria suficiente para dar conta das demandas da Cozinha. Eu, que preparara uma refeição para no máximo vinte pessoas, me deparei com as preparações para 200, 300, 500 clientes, dobrando o volume para as quentinhas que seriam doadas através do projeto “Lute como quem cuida”. Nessa dinâmica continua de preparo de 800 à mil pratos, começando no sábado para terminar no domingo, vi modificações claras no meu corpo no formato de calos, músculos, residência ao calor, nas queimaduras que, olhando de maneira mais próxima, já faziam parte dos corpos de mulheres e homens que trabalhavam nas várias tarefas do preparo de uma refeição.

Pensado a partir do fazer o corpo para preparar esses pratos, neste trabalho gostaria de aprofundar algumas reflexões sobre gênero, classe e a dicotomia lazer e trabalho para refletir sobre as dinâmicas da Cozinha da Ocupação.

 

  • OS BABAS DE SAIA EM SALVADOR-BA: UM OLHAR A PARTIR DE PRODUÇÕES AUDIOVISUAIS E  ACERVOS HISTÓRICOS (Francisco Demetrius Luciano Caldas; Bruno Otávio de Lacerda Abrahão; Lucas Maroto Moreira)

"Baba" é a forma como o futebol vivenciando no lazer e nas suas vertentes mais populares é conhecido na Bahia. Em Salvador no feriado da Semana Santa e no último dia do ano ocorre tradicionalmente o "Baba de Saia", que consiste em um jogo ritual no qual homens se vestem com roupas e adereços femininos. Estes eventos, situados entre o jogo e a festa, proporcionam refigurar valores tradicionalmente associados à masculinidade e feminilidade, congregando numa perspectiva regional, elementos fundantes da identidade nacional como o futebol e o carnaval. Destarte, nosso objetivo é analisar os significados socioculturais deste evento. A análise documental tem como suporte matérias audiovisuais disponíveis na internet, dois jornais impressos de Salvador e acervos do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia e da Biblioteca Central. Os resultados preliminares alcançaram 39 produções audiovisuais nos últimos dez anos, revelando o potencial cultural do jogo e suas possibilidades nas discussões sobre gênero no interior das práticas esportivas.

 

PALAVRAS-CHAVE: Babas de Saia; Mídia; Salvador

 

  • O “Racismo à brasileira” na história de vida de técnicos de futebol autodeclarados negros (George Oliveira)

O futebol reflete o caráter ambíguo das relações raciais na cultura brasileira. Por ser um local de expressão de habilidades físicas, o futebol se revelou um liberal no que diz respeito à integração das populações marginalizadas durante as primeiras décadas da República e do desenvolvimento do capitalismo no Brasil, ao mesmo tempo em que guarda resíduos dos preconceitos enraizados na cultura brasileira herdados da mentalidade escravocrata. O objetivo desta pesquisa será analisar o racismo na história de vida de técnicos de futebol autodeclarados negros. Interessa-nos investigar a denúncia de que negros são preteridos do comando técnico dos times, cargo demanda racionalidade, comando, intelectualidade, entre outros predicados não associados à “raça negra”. Tomamos como fonte entrevistas do técnico Roger Machado publicadas no site do Observatório da Discriminação Racial no Futebol. Concluímos que a história de vida do treinador tem revelado uma postura ativista, expondo a presença do racismo contra técnicos negros no futebol.

 

Palavras-chave: Racismo; Futebol; História de vida; Técnicos; Roger Machado

 

  • Masculinidades e autocuidado no futebol amador praticado por homens e mulheres em um bairro soteropolitano (Talita Nunes Costa)

O futebol amador é uma prática esportiva de lazer disseminada em diferentes bairros em Salvador/BA, sendo apelidado popularmente de “baba”. Embora o jogo não seja sexuado, serve à dramatização de determinados dilemas e valores sociais e culturais associados ao masculino e ao feminino, sobretudo a (re)produção e naturalização de uma determinada “mitologia” viril. O trabalho aborda, segundo uma perspectiva antropológica etnográfica, se e como o autocuidado masculino e as experiências de masculinidade se configuram no futebol amador praticado por homens e mulheres em um bairro popular na região central da cidade. A discussão faz parte de uma pesquisa de doutorado em andamento, iniciada em 2019, sobre o agenciamento do autocuidado de homens adultos que moram no local, no âmbito da Estratégia de Saúde da Família. O trabalho de campo ocorreu entre julho de 2021 e agosto de 2022 em meio à pandemia do coronavírus Sars-Cov-2, causador da doença COVID-19. A observação participante foi realizada durante os jogos regulares, torneios, reuniões informais e comemorações festivas promovidas por integrantes de três grupos de futebol amador masculino e um grupo de futebol amador feminino que se revezam semanalmente nas quadras situadas em uma praça no fim de linha dos ônibus do bairro. Etnografar times de futebol amador nos centros urbanos colabora para compreendermos a importância social atribuída às práticas de lazer na cidade e as formas de apropriação dos espaços. Contrastar a prática futebolística de homens e mulheres nos permite problematizar relações de gênero no esporte, apreender ideias, valores e comportamentos acerca do que é ser “homem” e ser “mulher” no bairro e interrogar suas respectivas práticas de autocuidado.

Palavras-chave: Etnografia, futebol, masculinidades, autocuidado

 

  • CAPOEIRA, INFÂNCIA E LAZER NO CONTEXTO SOTEROPOLITANO (Edinei Gonçalves Garzedin)

Qual a relação existente entre capoeira, infância e lazer no contexto soteropolitano? Infância, capoeira e lazer são temas que ora se aproximam, ora se afastam. Aproximam-se atados pela presentificação do corpo, na roda, comum a ambos. Distanciam-se quando analisados num contexto histórico, onde cada um viveu construções singulares em tempos e espaços próprios, onde suas especificidades históricas promoveram afastamentos entre eles. A capoeira aparentava distanciamento das crianças e do lazer pois tendo sido perseguida, criminalizada, inserida no Código Penal, aproximava-se dos meninos das maltas ou dos Capitães da Areia. O lazer, aparentemente atado à infância, afasta-se dela nas situações em que a criança trabalha ou sofre com agenda de atividades programadas, atarefadas como adultas no contexto contemporâneo ou ainda como proporcionadora de aquisição das habilidades, não como divertimento. O corpo, presente no contexto da infância, da capoeira e do lazer, através do brincar, é a linguagem através da qual ambos são personificados, é elo entre eles. Objetivando analisar o entrelaçamento entre infância, capoeira e lazer na cultura soteropolitana, buscamos aproximações e distanciamentos na história desses temas, no contexto soteropolitano, donde surgem elementos como ludicidade, vadiagem, resistência, estabelecendo uma relação de camaradagem entre eles, colocando-os numa mesma roda.

Palavras-chave: capoeira, infância, lazer, corpo.

GT19: Antropologia do Tempo: teorias, objetos e debates

Bárbara Rossin Costa – Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGAS – Museu Nacional – UFRJ).

Gabriel Cardozo de Lima – Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGAS – Museu Nacional – UFRJ).

 

  • O passado autobiográfico de uma antropóloga comadre e neta: memórias situadas e exercícios de reflexividade (Amanda Jardim).

A Antropologia com recorrência se furta à reflexão de que a narrativa etnográfica é produto das memórias sobre as relações intersubjetivas entre pesquisador e pesquisado empreendidas quando em campo. A composição textual nem sempre é tomada como realizada de maneira retroativa, a resgatar o passado do sujeito cognoscente, ou seja, do antropólogo. A cientificidade ou o propósito epistemológico ocupam o primeiro plano da trama antropológica, enquanto o “passado autobiográfico” (Fabian, 2013) é relegado a “anedotas, apartes pessoais e outros mecanismos aptos a animar uma prosa que de outra forma seria maçante” (Ibid, p.114).  Com o objetivo de colocar em relevo exercícios de reflexividade e reunir memórias de pesquisa como pilares decisivos para a escrita etnográfica, reúno fragmentos autobiográficos que trazem à cena relações com integrantes de uma família nuclear xakriabá (povo indígena do norte mineiro) que completam mais de sete anos de existência. Como trazer à tona experiências de uma pesquisadora que se tornou neta e comadre de seus interlocutores? Como tornar as minhas expressões autobiográficas, distanciadas temporal e espacialmente da pesquisa, em algo que não soe como pura divagação? Essas e outras questões serão abordadas neste trabalho de forma a notar o teor autobiográfico, assim como a “situação etnográfica” (Pacheco de Oliveira, 2013), como subsídios que aprimoram discussões sobre os métodos da disciplina.

 

  • Na fogueira dos bambas: memorias associadas a comensalidade num reduto de samba campista (Chrislaine Oliveira)

A presente proposta de trabalho é fruto de uma pesquisa etnográfica da Festa da Fogueira. Esta tradicional festa ocorre geralmente no último sábado do mês de junho no Morrinho que está localizado entre os bairros Parque Rosário e Parque Raul Seixas, em Campos dos Goytacazes - RJ, considerado como um dos redutos do samba do carnaval campista e lugar de circulação de sambistas. A festa faz parte das lembranças e comemoraçoes da familia Almeida há mais de 25 anos, destinada inicialmente aos filhos e netos, organizada pelo saudoso Jorge da Paz Almeida, que possui grande relevância no cenário de samba da cidade e na integração do negro junto à sociedade brasileira. Hoje, a organização da festa fica a cargo de suas duas filhas, como forma de prestar homenagem ao pai, relembrando o seu legado e memórias. É a partir destas memórias e dos momentos comensais que a festa se organiza e acontece, garantindo a manutenção das relações e fortalecimento dos vínculos desse grupo pertencente à comunidade do samba. Adotando todas as características e elementos das tradicionais festas de São João, que são observadas em sua decoração, fogueira e comidas típicas, este momento proporciona a interação, o encontro e estreita laços de sociabilidade entre familiares, amigos e vizinhos. O desenvolvimento do trabalho está ancorado na observação participante das festas realizadas nos anos de 2018 e 2019 e na análise do acervo audiovisual da festa da fogueira disponível no banco de imagens e som da Unidade Experimental de Som e Imagem (UESI/UENF).

 

  • A crônica e a cidade: o manuseio do tempo nas crônicas cascudianas (1920-1960) (Maycom Cunha)

Entre outras formas, a passagem do tempo pode ser analisada por meio do desenvolvimento dos centros urbanos e da maneira como tais mudanças foram registradas por seus intérpretes. Deste modo, proponho investigar as mudanças sofridas pela cidade de Natal/RN através dos registros literários e jornalísticos realizados por Câmara Cascudo entre as décadas de 1920 a 1960. Este período se justifica pela predominância da capital potiguar como objeto de investigação de Câmara Cascudo. O gênero literário mais utilizado pelo autor foi a crônica, gênero plástico, flexível ao manuseio.  As crônicas alimentaram os principais jornais da capital potiguar durante décadas e servem atualmente tanto como arquivos históricos das mudanças sofridas pela cidade ao longo do século XX, quanto como peças literárias e de expressão criativa do autor. 

Palavras-chave: temporalidade; memória; cidade; Cascudo

 

  • Quando o tempo para – Etnografia e metodologias de prospecção no campo antropologia do tempo (Daniel Luiz Arrebola)

Debate sobre o corpo metodológico de minha pesquisa no doutorado do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Espírito Santo onde pesquiso no campo da Antropologia do Tempo, analisando a influência do tempo natural, ou tempo físico, nas relações socioculturais. O objetivo geral do trabalho é desenhar um modelo de exercício de campo a partir da criação prévia de cenários de futuro com base nas metodologias de prospecção de Grumbach, Godet, Porter e Schwartz e que, por sua vez, deverão dialogar com as análises antropológicas de tempo e cultura usando como bibliografia os antropólogos Alfred Gell, Johannes Fabian e Márcio Campos, idealizador da proposta SULear. Os cenários de futuro construídos deverão apresentar o melhor recorte de trabalho de campo a ser usado para a pesquisa. Neste trabalho ainda não serão apresentados os cenários, mas sim o como serão construídos cada um deles, com as metodologias de prospecção dos autores acima citados e quais os possíveis desafios enfrentarei no campo para desenvolver a etnografia de forma que ela e os cenários possam dialogar para a melhor construção da pesquisa de tese. Pretendo neste trabalho abordar novas formas de realizar a pesquisa etnográfica com o uso de metodologias não comumente utilizadas pela antropologia, mas que, entretanto, tem muito a contribuir para as Ciências Sociais ao trazer a multidisciplinaridade de conhecimentos ao fazer antropológico.

Palavras-chave: Antropologia do Tempo, prospecção, temporalidades.

GT21: Pluralidade, práticas e concepções emergentes em contextos evangélicos

Taylor de Aguiar (UFRGS/EPHE)

Lívia Reis (Museu Nacional/UFRJ)

 

  • Empreendendo a fé inteligente: intersecções entre religião, autoajuda e desenvolvimento pessoal nos discursos da Igreja Universal (Emanuelle Gonçalves Brandão Rodrigues)

Fundada em 1977, a Igreja Universal representa um marco na história dos evangélicos no Brasil. O sincretismo associado ao uso extensivo dos meios de comunicação para propagação da fé, o envolvimento com a política partidária e a incorporação de lógicas empresariais destacaram a IURD de outras igrejas, transformando suas dinâmicas internas em consonância com a razão política de seu tempo. É nesse contexto que seu líder máximo, o bispo Edir Macedo, postula a “fé inteligente” (como livro, inclusive), conceito que servirá de base para a constituição de uma pedagogia de si que visa construir um ethos próprio do fiel iurdiano. A proposta deste trabalho consiste em discutir o que temos nomeado como “pedagogias da fé inteligente”, um conjunto de práticas que incorpora à dinâmica religiosa os discursos de autoajuda e desenvolvimento pessoal, em sintonia com o mundo corporativo, o que nos permite pensar os desafios do significante evangélico a partir da década de 2010, especialmente após a inauguração da réplica do Templo de Salomão, em 2014, em São Paulo. Tais reflexões são fruto de alguns anos de pesquisas de campo na Igreja Universal – em Maceió e São Paulo – e constituem o percurso que me levou à pesquisa de doutorado em Comunicação, na qual analisei as relações de sentido entre narrativas de lideranças cristãs e a razão neoliberal contemporânea, tomando como objeto a literatura cristã best-seller. Busca-se, ainda, pensar como o exercício dessa fé vai se efetivar como parte constituinte de um estilo de vida e identidade evangélica próprios da IURD, imprimindo um sentido de fé institucionalizado que rompe as barreiras do que se entende por religioso.

Palavras-chave: Fé inteligente. Igreja Universal. Pedagogias de si. Desenvolvimento pessoal.

 

  • “Nem todo evangélico é conservador”: A relação entre religião e política entre evangélicos de esquerda no Brasil (Wallace Cabral Ribeiro)

O campo evangélico é um segmento religioso bastante heterogêneo no que tange aos aspectos práticos e organizativos, e em suas concepções políticas, teológicas, filosóficas, simbólicas, educacionais, doutrinárias, cerimoniais e ritualísticas. Nesse sentido, podemos afirmar que nenhuma denominação, liderança religiosa, formas de espiritualidade, princípios éticos, doutrinas, interpretação teológica ou modelo administrativo representam na totalidade esse segmento religioso. Considerando esses fatores é possível afirmar que não há um modo único de ser evangélico e de expressar essa fé (VITAL DA CUNHA, 2017). Dentro desse segmento, há uma disputa entre os diversos agentes individuais e coletivos em suas dimensões política, teológica e simbólica sobre o que é ser cristão, o que é ser evangélico e como estes e a igreja devem se posicionar política e teologicamente frente aos dramas humanos. O trabalho em tela tem por objetivo produzir uma análise socioantropológica sobre a relação entre religião e política partir da atuação de alguns setores do protestantismo de esquerda no Brasil atual. Para alcançar os objetivos delimitados realizou-se levantamento bibliográfico (livros, artigos, teses, dissertações, TCCs), levantamento documental (jornais, revistas, redes sociais), atividades de campo com visitações em espaços político religioso e entrevistas com atores sociais imersos nesse campo.

Palavras-chave: Religião e política; protestantismo de esquerda; espiritualidade engajada.

 

  • Submissão, igualdade e liberdade: contrapontos feministas em narrativas evangélicas sobre a feminilidade bíblica (Tatiana Bezerra de Oliveira Lopes; Alinne de Lima Bonetti).

Nesse ensaio, me interessa pensar a construção de narrativas sobre o feminismo enquanto fonte de libertação no discurso de mulheres evangélicas. Em tais narrativas, um projeto de modernidade secular baseado em ideias de igualdade e liberdade vem contrapondo a problemática da submissão e da feminilidade bíblica no discurso cristão. O feminismo aparece sob concepções hegemônicas de progresso e de uma temporalidade específica, as quais atribuem às narrativas feministas cristãs um status de libertação diante de moralidades reconhecidas enquanto fundamentalistas. A partir da compreensão de como narrativas são constituídas e de como a narrativa da secularização, ou mesmo do tem constituído o pensamento cristão feminista, pensarei como o texto bíblico vem sendo reinterpretado por evangélicas que dialogam com as epistemologias feministas. Tomarei como ponto de partida as notas etnográficas do clube de leitura Fora da Caixinha. Idealizado por uma criadora de conteúdo digital sobre mulheres e cristianismo, o Fora da Caixinha é um clube de leitura mensal voltado ao estudo da feminilidade bíblica. Durante o mês de maio, fiz a leitura do livro junto a essas mulheres, participei do debate final sobre a obra em uma videoconferência e acompanhei as interações em um dos grupos de WhatsApp do Fora da Caixinha. Foi a partir da observação das conversas realizadas no aplicativo de mensagens que acessei narrativas sobre maternidade, feminismo e homossexualidade de mulheres feministas e não feministas. É de um diálogo entre mulheres críticas ao feminismo e membras do clube de leitura que se identificam como feministas que esse ensaio nasce.

Palavras chave: feminismo; evangélicas; secularização

 

  • OS DESIGREJADOS NO CONTEXTO RELIGIOSO EVANGÉLICO BRASILEIRO (ROGERIO DE SOUZA GUIMARÃES)

O censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no ano de 2010 apresentou um número superior a nove milhões de brasileiros compondo a categoria de religião evangélica não determinada. Com meu trabalho procuro estudar em que consiste essa nova informação trazida pelo censo e de que modo, nos números e nas formas de composição desse grupo de religiosos, estão retratados os cristãos evangélicos desigrejados, que preferem vivenciar sua fé sem declarar-se pertencente a esta ou aquela denominação. Além disso, proponho que não seja apenas nessa categoria que se encontram os desigrejados no censo, mas que podemos encontrá-los também na categoria dos sem religião. A partir dessas interpretações, caracterizo esses desigrejados como sendo mais um exemplo de fracionamento pelos quais a cristandade vem passando nos últimos dois mil anos, tratando sobre quem eles são, seus problemas, controvérsias, dissensões e suas semelhanças e diferenças com aqueles a que se contrapõem, os cristãos evangélicos igrejados. Apresento esse grupo de cristãos que alegam ter precisado romper com o sistema religioso evangélico a fim de se sentirem livres para praticar sua fé, tendo por base uma pesquisa de cunho etnográfico virtual que realizei/realizo lançando mão tanto de livros, sítios de internet e blogs, quanto de uma propriamente dita pesquisa de campo, a partir do uso do Facebook, seja acessando páginas de grupos de desigrejados, seja realizando entrevistas com pessoas usando o in box da rede social.

Palavras-chave: desigrejados, censo do IBGE de 2010, evangélicos, etnografia virtual.

 

  • Questões sobre religião e sexualidade em perspectivas evangélicas: As experiências de jovens homossexuais dissidentes de uma Igreja Batista no interior de Minas Gerais (Marília Loureiro Basílio).

O presente trabalho aborda as experiências de homens gays que abandonaram a igreja por vivenciarem conflitos entre orientação sexual e prática religiosa, baseado em entrevistas semi-estruturadas realizadas entre 2018 e 2019 com quatro jovens que congregaram em uma Igreja Batista localizada em uma cidade de médio porte no interior de Minas Gerais. Explorando a vivência religiosa dessas pessoas, com ênfase na relação que a maioria delas estabeleceu com o movimento de jovens, e as formas de regulação da sexualidade que se manifestavam na igreja, analiso os efeitos dessas dinâmicas para homossexuais. O trabalho explora as dimensões de homofobia religiosa e cuidado pastoral, que se apresentam de maneira hegemônica em igrejas de diferentes denominações evangélicas no Brasil, a partir das narrativas desses fiéis dissidentes.

 

Palavras-chave: Dissidentes. Homossexualidade. Evangélicos.

GT22: Consumo, Museus e Práticas culturais

David Ferreira de Araújo – Doutorando em Sociologia pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Pernambuco

Thiago Henrique de Almeida Carvalho – Doutorando em Sociologia pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Pernambuco

 

  • Como objetos e coisas caminham entre os museus e as pessoas: o caso do MAFRO/UFBA (Thaís Cristina Leal Verçosa)

O exemplo do Museu Afro-Brasileiro da Universidade Federal da Bahia, localizado na cidade de Salvador, é, como diria Lévi-Strauss (2004), “bom para pensar” sobre o papel dos museus na sua relação com os diversos grupos que compõem o tecido social de um bairro, uma cidade ou país; a que se destinam os projetos expográficos desenhados e executados em uma instituição; como o acervo é composto e exibido para o público; e que políticas públicas podem ser implementadas a partir desse espaço tão plural e, por vezes, controverso. A proposta aqui apresentada pretende tecer, de forma sucinta, um esboço de alguns percursos e trajetórias, olhando para coisas, pessoas, entidades e o próprio museu, buscando entender como eles se encontram nesse espaço-museu, que é gerado a partir daquilo que Ingold (2012) apontou, pensando a partir dos movimentos, uma vez que, para este autor, os lugares não são as limitações externas ao movimento, mas justamente se fazem no e através dele. Para pensar o fazer de um museu, é importante entendê-lo como resultado das linhas de movimentos de diferentes tipos de seres (pessoas, objetos, coisas e, talvez, entidades), que se entrelaçam e se vinculam em determinados nós, formando este lugar. Pensar em trajetórias de coisas e sua transmutação em objetos, a partir do momento em que se tornam itens museais - ou seja, passam a compor a musealia de uma instituição -, assim como nas trajetórias dos próprios museus que eles instauraram, é, aqui, refletir a partir de linhas de movimentos e peregrinação ao longo dos quais eles se movimentam.

 

Palavras-chave: museus; trajetórias; conexões; território.

 

  • Vender como luta, consumir como engajamento: Reflexões sobre o consumo da experiência no Quilombo do Grotão (Daniela Velásquez Peláez)

No presente trabalho pretendo refletir sobre processos de politização do consumo. Mais precisamente, o meu interesse está centrado na possibilidade de indagar acerca dos modos pelos quais o consumo de mercados étnicos produz esferas de reconhecimento na interseção entre o consumo e a política. Para tanto, nesta comunicação, minha atenção volta-se à descrição da construção de um produto-experiência que contribui para a permanência de uma comunidade quilombola no seu território estimado: trata-se do Quilombo do Grotão, localizado numa Unidade de Conservação ambiental de Proteção Integral na cidade de Niterói, na região metropolitana do Rio de Janeiro. A partir da descrição dos elementos que fazem com que o samba e feijoada apareçam como atividades peculiares valorizadas pelo público consumidor, procuro analisar como a economia e o consumo, propriamente ditos, passam a configurar-se como parte dos instrumentos de luta e de resistência de identidades étnicas ditas “minoritárias”.

 

Palavras-chave: Mercados étnicos; politização do mercado; consumo de experiência; Reconhecimento; Comunidade remanescente de quilombo.

 

  • Artes Indígenas: Uma experiência de criação do Museu das Culturas Indígena no Complexo Baby Barioni na Cidade de São Paulo (Tamires Cristina dos Santos).

Este texto, ainda em fase de construção, é resultado da minha primeira incursão em campo para a pesquisa de doutorado que objetivou etnografar a experiência de criação do Museu das Culturas Indígenas no Complexo Esportivo Baby Barioni na zona oeste da Capital do Estado de São Paulo. Refletindo a partir de uma proposta de gestão compartilhada junto aos povos indígenas, que é um dos motores da criação do MCI. Proponho aqui realizar uma discussão no entorno da perspectiva dos agentes envolvidos no processo de criação de um Museu dedicado exclusivamente para a produção de trabalhos de artistas indígenas, caracterizando assim, os sentidos atribuídos às artes indígenas diante da perspectiva do espaço. Procuro então, visualizar como a categoria de arte indígena e/ou artes indígenas é pensada pelo Museu, tendo em vista o seu próprio processo de criação, focado nas contribuições de artistas indígenas para a arte como um todo. Qual é o lugar da arte para a comunidade indígena, sua produção artística potencializa outras pautas a exemplo da demarcação de terras indígenas, da educação, da saúde indígena e das discussões em torno da saúde da Terra, pautas que são recorrentes no discurso do movimento indígena organizado. Pretendo, desta forma, discutir se o espaço empregado para as artes indígena no Museu pode ser um campo de agência das demandas da comunidade indígena.

 

Palavras Chaves: Museu das Culturas Indígenas; Artes Indígenas; Arte Indígena Contemporânea; Etnografia.

GT24: Emoções, gêneros e sexualidades: desafios contemporâneos

Adriely de Oliveira Clarindo – Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, UNICAMP.

Sebastian Giraldo Aguirre – Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, UNICAMP.

Mateo Armando Melo – Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, UNICAMP.

 

  • Notas etnográficas sobre a construção de laços afetivos no camming (Núbia Santos Ramalho)

O presente trabalho é parte do desenvolvimento da pesquisa de mestrado inserida no Programa de Pós-graduação em Antropologia Social da Universidade Estadual de Campinas e busca compreender, por meio da abordagem etnográfica, como a inserção no trabalho sexual online atravessa o cotidiano e as perspectivas de vida, afetividade e sociabilidade das mulheres que exercem o trabalho de cammodel, sobretudo no cenário da pandemia, quando a internet ganhou ainda mais relevância para a socialização dos sujeitos quarentenados. Uma sociedade onde quase qualquer pessoa munida de um smartphone tem uma produtora de vídeo na palma da mão, ou seja, é uma criadora de conteúdo digital em potencial, gera as condições para a busca de outras possibilidades de promover seu sustento material de forma autônoma, dentro do próprio ambiente doméstico, de modo a manter o chamado “isolamento social” exigido durante o auge da pandemia; entre as quais se tornar uma camgirl, como são chamadas as profissionais do camming, atividade que consiste em exibicionismo online, de teor erótico ou não, através de uma webcam. Partindo dessa perspectiva, tal investigação pretende privilegiar as percepções e noções, das mulheres trabalhadoras do camming, refletindo sobre questões relacionadas ao trabalho sexual online num quadro pandêmico e pós pandêmico. Essa etnografia articulará as representações sociais e os discursos sobre as camgirls com os dados etnográficos levantados através das interações sociais com profissionais do trabalho sexual online mediadas pela internet, assim como com seus clientes. Nesse contexto etnográfico, o uso das redes sociais é constante e fundamental para construção da pesquisa, que utilizar-se-á um referencial teórico que tem como base as linhas teóricas internacionais e nacionais que compõem o arcabouço sobre trabalho emocional/afetivo e sexual.

 

  • “MÃELITÂNCIA”: EMOÇÕES E ATIVISMO ENTRE AS MÃES PELA DIVERSIDADE EM PERNAMBUCO. (Denilson Moraes Vieira da Cunha).

O presente trabalho é fruto da pesquisa realizada na cidade do Recife-PE entre os anos de 2019 e 2021, cujo objetivo principal foi investigar como as mães que compõem a Organização Não-Governamental Mães Pela Diversidade em Pernambuco (MPD/PE) atuam no combate à LGBTfobia e qual o lugar das emoções na atuação militante praticada por elas. O MPD/PE atua fortemente na militância LGBTQIA+ no estado e é constituído, majoritariamente, de mães de gays, lésbicas, bissexuais, transexuais e travestis em que, algumas delas, tiveram seus filhos/as, biológicos ou afetivos, assassinados ou vítimas de agressões por LGBTfobia. A metodologia empregada parte do trabalho de campo etnográfico, realizado inicialmente de forma presencial com o acompanhamento de reuniões internas e atos públicos, como na Celebração da Visibilidade Lésbica e na 18° Parada da Diversidade Pernambuco, em que as mães se faziam presentes. Posteriormente, foi aplicada uma netnografia acompanhando as ações realizadas de forma virtual, em encontros remotos internos e lives públicas nas redes sociais. Além disso, também foram realizadas entrevistas-narrativas com quatro mães integrantes do grupo. As conclusões são que o processo de entrada no grupo provoca a criação de uma comunidade emocional que impulsiona a ação militante, direcionando os sentidos da maternidade que, embora ainda estejam ligados a concepções de afeto e cuidado, assumem também o caráter de contestação e reivindicação política e social que se apresentam no colocar-se em público. Bem como, conclui-se que o medo e amor são duas emoções hipercognitivizadas pelo grupo que, por vezes, são narradas como antagônicas e, por vezes, como complementares.

Palavras-chave: Mães Pela Diversidade; emoções; maternagem; LGBTQIA+.

 

  • O que nos sobrou?: negritude, emoções, sexualidades e a violência branca (Matheus da Rocha Viana)

Com base nas experiências vividas, observadas e analisadas por Nilma Lino Gomes, Wade Nobles, Frantz Fanon, bell hooks e Deivison Faustino sobre as diversas dimensões da construção sociocultural da pessoa preta na realidade embranquecida brasileira, comecei a refletir na antropologia a possibilidade de entender melhor como nossas emoções e sexualidades são afetadas e como isso se faz base para uma constante negação de afetos para com a população preta brasileira, especialmente no espaço de Brasília. Em meu trabalho de campo, percebo que essa afetação define mais questões do que esperava. O que me leva a perguntar: “o que sobra?”, para pessoas pretas centrarem suas construções de emoções e sexualidades, senão uma vivência repleta de violências e ódio racial devido ao contato com a branquitude (seja a sociedade civil ou forçasdo Estado)? Na tentativa de responder à essa questão observo também mesmo o ódio racial não sendo a única base dessas violências (interseccionalidade), toda manutenção de uma ideologia embranquecedora deve ser tratada como responsável por essas afetações. Dessa forma a pesquisa que venho produzindo possibilita compartilhar algumas das percepções e análises já relatadas por interlocutorxs, assim como as vividas por mim. Proponho então um debate entre essas experiências observadas em campo e a literatura já produzida sobre essas questões, bem como o debate de como a não-humanidade e não-cidadania da população preta (reforçadas pelo Estado e pela população) vêm sendo responsáveis por diversas formas donosso genocídio.

Palavras-chave: Afeto;Emoções; Negritude; Branquitude;Racismo.

 

  • Ajuda, um nó entre mundos? Roçar de corpos no limite da catástrofe ancestral (Isabelle Caroline Damião Chagas)

O presente trabalho tem como objetivo trazer algumas reflexões iniciais sobre as relações de ajuda que vêm sendo tecidas durante a pandemia de Covid-19 na ocupação urbana Vila Nova, em Belo Horizonte, onde cresci e desenvolvo trabalho de campo desde 2018. As pessoas que ajudam e/ou são ajudadas se dizem movidas por sentimentos e causas muito diversos, que passam por amor, dever, reciprocidade, interesse e obrigação; ao mesmo tempo que fazem emergir novas possibilidades de gestão da vida e cuidado compartilhado, entrelaçam conflitos, hierarquias e violências. À luz das propostas de Elizabeth Povinelli, a ideia é compreender a fome e outras formas de devastação que temos vivido como uma catástrofe ancestral, sedimentada em um lastro espaço-temporal amplo nas histórias de vida individuais, familiares e comunitárias; e a ajuda, para além da gestão de precariedades nas periferias, como um possível nó entre mundos, a sociedade genealógica e o sujeito autológico. Para tanto, evoco o roçar de corpos inevitável e desejado que se produz em tais relações, as quais envolvem processos de medição, classificação, nomeação, apalpamento e falação dos corpos. A ferida compartilhada em diferentes formas de contato/contágio emerge como potente figura dessa complexa gramática corporal.

Palavras-chave: Gênero; Ajuda; Catástrofe Ancestral; Intimidade.

 

  • Amor romântico, feminismo e submissão feminina no BDSM: uma leitura a partir de Simone de Beauvoir (Pamella Opsfelder de Almeida)

Embora nas práticas de BDSM (Bondage, Disciplina, Dominação, Submissão, Sadismo e Masoquismo) as posições ocupadas pelas pessoas não sejam pautadas pelo sexo biológico (GREGORI, 2015), os jogos de poder característicos dessas práticas não raro enquadram a típica desigualdade de gênero entre uma masculinidade dominadora e uma feminilidade submissa (FERREIRA, 2014). De forma semelhante, alguns dos sentimentos comumente associados ao amor romântico também estão presentes no código amoroso BDSM (SILVA, 2015). Tendo em vista que tanto o amor romântico quanto os papéis tradicionais de gênero figuram nos jogos eróticos de dominação e submissão, este ensaio buscou entender, a partir de uma perspectiva feminista, como os discursos a respeito da submissão feminina reverberam, reelaboram e/ou deslocam a temática do amor e das desigualdades de gênero que ele pressupõe. Para tanto, esta pesquisa partiu da descrição do amor romântico empreendida por Simone de Beauvoir em O segundo sexo e debruçou-se sobre textos que dissertam a respeito da submissão feminina publicados em sites e blogs da Internet. Por meio da análise dos textos, foi possível compreender que os discursos a respeito da submissão feminina no BDSM apropriam-se dos lugares-comuns e dos papéis de gênero que sustentam as concepções ocidentais de amor romântico. Além disso, verificou-se que essa apropriação se dá tanto por meio da simples substituição das noções de homem e mulher pelas respectivas posições de dominador e submissa quanto por meio do entrelaçamento dos discursos do amor romântico a discursos neoliberais e feministas liberais (WEISS, 2011), possibilitando a coexistência, ainda que por vezes conflituosa, das teorias feministas e das práticas eróticas de BDSM.

Palavras-chave: Amor romântico; Simone de Beauvoir; Feminismo; BDSM; Internet

GT25: Antropologia da religião no Brasil: novos temas, teorias, métodos e problemas

Alef Monteiro – Doutorando em Antropologia Social (USP)

Manoel Ribeiro de Moraes Júnior – Professor do PPG em Sociologia e Antropologia (UFPA) e PPG em Ciências da Religião (UEPA)

 

  • O QUE EXPLICA O APOIO DE PARTE DA COMUNIDADE JUDAICA AO BOLSONARISMO? (Sergio Schargel).

A despeito de suas respectivas idiossincrasias, inevitáveis dado a diferença espacial e contextual entre ambos, o partido alemão Alternative für Deutchland e o Bolsonarismo possuem pontos convergentes. Nesse sentido, uma característica é particularmente interessante, por ter sido pouco explorada: o apoio de parcelas da comunidade judaica a ambos os movimentos. Dado a proximidade de ambos com o nazifascismo, era de se esperar que a comunidade judaica, historicamente atingida, fosse rechaçá-los em massa. No Brasil, segundo o Datafolha, apenas cerca de 40% dos judeus não votaram em Jair Bolsonaro nas eleições de 2018. Ainda que na Alemanha isso ocorra em um grau bem menor, dado uma identificação mais explícita da AfD com o nazifascismo e antissemitismo mais explícito e parte do partido, parcelas significativas da comunidade judaica foram cooptadas e utilizadas como instrumentos para atacar outros inimigos objetivos, especialmente o Islã. A proposta dessa pesquisa é se dobrar sobra as razões que levam a esse apoio, tanto no Brasil quanto na Alemanha, na tentativa de compreender o que pensam essas parcelas da comunidade, ante a hipótese principal de que a identidade judaica é secundária para esses grupos. Para isso, versará em diversas frentes metodológicas, utilizando perspectiva teórica, comparatista, entrevistas em profundidade, privilegiando esta última como pilar do trabalho. Dessa forma, será possível expandir o estado da arte sobre uma frente inédita em relação ao Bolsonarismo, bem como produzir um dos primeiros estudos sobre a AfD no Brasil.

 

Palavras-chaves: Judaísmo; Bolsonarismo; Alternative für Deutschland.

 

  • AGENCIAMENTOS E INTER-RELIGIOSIDADES DA RABECA BRAGANTINA (Ozian de Sousa Saraiva)

Este trabalho teve seu ponto de partida durante as pesquisas no mestrado em Ciências da Religião (PPGCR) pela UEPA entre os anos de 2017 e 2019. Atualmente a pesquisa está em enfoques mais específicos no doutoramento em Ciências Humanas do programa de pós-graduação em Sociologia e Antropologia da UFPA. O trabalho procura compreender as mudanças do campo e do tema de pesquisa no decorrer dos últimos anos. Isso implica em desvelar os processos de transnacionalidade e transreligiosidade em torno do instrumento musical rabeca na cidade de Bragança -PA. Deste modo, estas observações revelam aspectos culturais e religiosos imponderáveis que destacam aspectos antropogênicos tanto de São Benedito quanto da rabeca. De um ponto de vista científico, a pesquisa analisa a dinâmica cultural inventiva em torno da rabeca (WAGNER, 2017; CUNHA, 2017), investigando a transnacionalidade (GILROY, 2001; VIEIRA, 2015) com observações tanto do ponto de vista diacrônico quanto sincrônico (BEVIR, 2008). A análise diacrônica enfoca a dinâmica da conceitualidade histórico-social e intercultural da rabeca; já para a transreligiosidade, os estudos aplicarão uma análise sincrônica: a antropogenia da rabeca por meio de sons, dos tipos de madeiras, das formas e da musicalidade nos diversos ambientes religiosos - umbanda, catolicismo e pentecostalismo. A Interreligiosidade (RIVERA, 2016) do objeto de pesquisa entre campos religiosos distintos e interrelacionados, integra a discussão sobre agenciamentos (GELL, 2018) de objetos/coisas (LATTOUR, 2012; INGOLD, 2015; BHABHA, 2018 e APPADURAI, 2021) nas ambientações culturais e religiosas, uma Antropologia das Coisas.

PALAVRAS-CHAVE: Antropologia da Religião. Antropologia das Coisas. Interreligiosidade. Rabeca. Agenciamento.

 

  • Comunidade quilombola e o protagonismo feminino: relações que se cruzam. (Ana Luísa Nardin R. de Abreu)

Este trabalho aborda uma comunidade remanescente de quilombo localizada no município de São Roque, interior do Estado de São Paulo, conhecida como vila do Carmo, e tem como objetivo investigar o protagonismo feminino nesta comunidade a partir de uma análise da figura da santa padroeira local, Nossa Senhora do Carmo, enquanto personagem central na vida cotidiana e na história do grupo. Por meio deste estudo etnográfico, verifica-se que a santa é apontada pelos moradores do Carmo como sendo aquela que detém, integra e dá vida ao território quilombola, visto que sua presença confere a eles, o povo e a terra, unidade e sentido. Esta centralidade da santa emaranha-se no papel de destaque das mulheres da comunidade, no cuidado com a vida dos moradores e nos ritos religiosos celebrados pela vila. Tal fato, de ordem ao mesmo tempo social e sobrenatural, permite apontar aproximações entre as mulheres e a santa, salientando o protagonismo feminino, que também é apontado nos trabalhos de Alves (2010) e Mayblin (2011).

Palavras-chave: comunidade quilombola, protagonismo feminino, santa.

 

  • Dádiva e sacrifício no Brasil: Uma análise antropológica acerca do documentário “Fé” (1999) (Gabriel da Cunha Melo)

O antropólogo Marcel Mauss (1872-1950) busca compreender o campo religioso e suas especificidades a partir dos conceitos da “dádiva” e “sacrifício” dentro do sagrado, na qual ocorre muitas vezes de maneira subjetiva e não convencional. Desse modo, será relacionado o documentário “fé” (1999) com a teoria de Mauss, para compreender de que forma é expressado tais fenômenos antropológicos no cotidiano dos indivíduos, na tentativa de descolar tais práticas com a ideia de primitivismo. Em paralelo a isso, busca-se neste trabalho mostrar que esses conceitos não estão distantes da realidade brasileira em suas diversas formas de manifestações religiosas, principalmente influenciadas pelos catolicismo, isso será feito na tentativa de desmitificar que rituais sacrificiais são pejorativos e restritos a religiões de matriz africana. Entre os circuitos construídos entre santos/divindades e seus devotos estão os de: São Francisco das Chagas, Padre Cícero, Nossa Senhora de Nazaré e Jesus Cristo. Este trabalho foi resultado da disciplina de “Antropologia da Religião” no curso de licenciatura plena em ciências sociais na Universidade do Estado do Pará (UEPA).

Palavras-Chave: Religião, Ritual, Sacrifício, Sagrado.

 

  • AS PRÁTICAS RITUALÍSTICAS DO TAMBOR DE MINA NA AMAZÔNIA: AÇÕES AFIRMATIVAS PARA EFETIVAÇÃO DO SEGUNDO OBJETIVO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL (O.D.S.) (Arlindo Figueiredo do Rosário Júnior; Roberto Rohregger)

As religiões de matriz africana são consideradas comunidades amantes do ecossistema, uma vez que seus deuses representam elementos do ambiente natural. O culto do Tambor de mina na Amazônia evidencia várias ações afirmativas que potencializam segurança alimentar e melhoria nutricional, além de promover a agricultura sustentável em algumas comunidades. Esta pesquisa tem o objetivo de estudar as práticas ritualísticas do tambor de mina na Amazônia, buscando conhecer as metas que esta religião tem para acabar com a fome e garantir o acesso de todas as pessoas, em particular os pobres e pessoas em situações vulneráveis, a alimentos seguros, nutritivos e suficientes. No Tambor de mina, é dos elementos vegetais e animais que se extrai o alimento esmerado para os seus prosélitos. É importante entender a forma como estas religiões se mobilizam para debelar a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição, além de promover a agricultura sustentável, ideias advindas do segundo objetivo de desenvolvimento sustentável (O.D.S.). A partir deste entendimento, deve-se apresentar meios práticos para que este segundo O. D. S. seja efetivado. A finalidade metodológica desta pesquisa básica é aprofundar o conhecimento científico acerca das práticas ritualísticas do tambor de mina na Amazônia e sua relação com o O.D.S. alvitrado. Os resultados desta pesquisa propõem um diálogo interdisciplinar entre a antropologia da religião, Educação ambiental, direitos humanos relações étnico raciais e outras.

 

Palavras Chaves: Tambor de mina. Meio ambiente. Ritualística. Pobreza.

  • A SACRALIZAÇÃO DE ANIMAIS EM RELIGIÕES DE MATRIZ AFRICANA: UMA ETNOGRAFIA EM UM TERREIRO DE UMBANDA TRAÇADA (Julia Aparecida Rodrigues da Silva)

Este projeto de pesquisa tem o objetivo de compreender o ritual da sacralização
de animais em religiões de matriz africana na cidade de São Carlos, em específico em um
terreiro de Umbanda Traçada. Na ritualística das religiões de matriz africana, a sacralização de animais compõe um fundamento essencial na a conexão dos humanos com as deidades, por meio da imolação de animais específicos a fim de oferendar ao Orixá e, na sequência, distribuir a carne do animal a todos da comunidade de terreiro e outros adeptos. Por meio da sacralização (sacrifício), o axé do animal servirá de alimento para o orixá (e para os humanos) porque agencia e opera certos fluxos de energia. Esta pesquisa será realizada por meio de uma etnografia na intenção de compreender os fundamentos e finalidades que a vida animal adquire durante o ritual de sacralização na cosmologia candomblecista, tomando, como ponto de partida, os debates em torno dos argumentos políticos, em sua maioria cristãos, que tentaram e tentam proibir esta prática justificando se tratar de crueldade animal,bem como constatar e importância deste ritual partindo da visão dos praticantes religiosos e sua comunicação com o plano espiritual.

GT26: As religiões em articulações

Adriano Godoy – Pós-doutorando no Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP).

Clayton Guerreiro – Doutorando em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).

Lucas Baccetto – Doutorando e mestre em Antropologia Social pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).

 

  • Interfaces entre economia e religião em Georges Bataille: o potlatch como mobilizador da diferença em La part maudite (Gabriel Barbosa Teixeira)

A presença da Antropologia no pensamento do filósofo Georges Bataille (1897-1962) é incontornável e perpassa sua vasta produção, na qual temas como o sacrifício, o potlatch e o mito aparecem como problemas-chave. Simultaneamente, é inegável o relativo esquecimento de Bataille nos balanços da disciplina que, apesar de sua fértil contribuição, segue apagado nas discussões históricas e contemporâneas da área. De modo a contribuir com a recuperação do autor, o trabalho proposto presta-se a uma investigação acerca de uma obra específica, La Part Maudite. Publicado em 1949, esse livro mostra-se uma importante sistematização de noções por ele trabalhadas antes, que se abre para diálogos fecundos com a Antropologia, seja por sua crítica ao sujeito da acumulação capitalista, pela busca de saberes outros não restritos aos limites da racionalidade, ou por sua interpretação ampliada da economia, expandindo-a para as esferas do erotismo, da arte e da religião. Em especial entrelaçamento com esta última, compreendida sob um ponto de vista múltiplo e consequentemente distante daqueles postulados por Durkheim anteriormente, sugerimos aqui a pertinência de retomar a teoria econômica de Bataille como interessante mobilizador do “sagrado” enquanto categoria transformadora da realidade e de abertura para o problema do “Outro” e da “diferença”, especialmente evidente em suas considerações acerca do potlatch e dos ritos sacrificiais.

Palavras-Chave: Georges Bataille; Teoria Antropológica; Antropologia Francesa; potlach; sacrifício

 

  • SAMBA, FEIJOADA E MÚSICA GOSPEL: OUTRAS FACES DO PENTECOSTALISMO, NAS PERIFERIAS FLUMINENSES (Frederico Felipe Souza de Assis)

O presente trabalho tem por objetivo investigar a relação entre religião, cultura, mídia e as (re) formulações do secular (Asad, 2003) a partir dos “ministérios” pentecostais e neopentecostais presentes nas periferias urbanas do Rio de Janeiro. Nas últimas décadas, com o crescimento do campo evangélico e a consequente intensificação de sua presença e agência nas periferias urbanas fluminenses, pesquisas sobre esta temática se tornaram cada vez mais relevantes para melhor compreender as especificidades deste campo religioso em expansão, bem como os efeitos deste fenômeno, nestes territórios. Para viabilizar tal proposta, pretendo analisar as interações do pentecostalismo com o samba, a partir da “Féjoiada do Waguinho”. Trata-se de uma roda de samba com feijoada, produzida por pentecostais, evento com a participação musical dos pagodeiros do Ministério 100% fé e do pastor e cantor de ‘‘samba gospel’’ (categoria nativa), Waguinho. Realizado em Duque de Caxias, Baixada Fluminense, este evento nos permite investigar de que modo elementos da “cultura gospel” tem disputado, ocupado e reconfigurado subjetividades, corporeidades e sociabilidades nas periferias urbanas do Rio de Janeiro, e de que maneira as práticas sociais recorrentes nestas periferias também alteram os modos de vida pentecostais. Faz-se necessário, ainda, considerar a centralidade das mídias sociais e sua relevância para a materialidade da religião neste contexto. Para o desenvolvimento da análise deste material etnográfico, dialogo com a literatura sobre religião e mídia (Meyer, 2018); identidade e mediações culturais (Hall, 2003); música gospel (Cunha, 2007; Sant’Ana, 2014; Bandeira, 2017 e Guerreiro, 2018); música e as periferias urbanas (Oosterbaan, 2008); religiões afro brasileiras (Silva, 2005); laicidade e secularismo no Brasil (Asad, 2003, Montero, 2006; 2018 e Giumbelli, 2008); samba (Cabral,1996; Moura 1995; 2004); samba e evangélicos (Oliveira Júnior e Cruz Júnior, 2020); Funk, pentecostalismo e periferias urbanas (Pereira, 2019 e Paz, 2018) e samba gospel (Machado, 2020). As conclusões iniciais desta pesquisa apontam para uma abordagem da música gospel e, sobretudo, do "Samba Gospel" não apenas como prática proselitista ou apropriação indébita de uma determinada Cultura; ainda que isto possa ocorrer, em diversos níveis. Adoto a perspectiva de que, muito além de um mero artefato de entretenimento ou parte acessória nos ritos e experiências religiosas, a música gospel é, assim como o samba e o funk, parte integrante da vida nas margens da cidade; e uma poderosa formulação cultural para (re) mediar a dor, reencantar a vida e encarar a realidade.

 

  • El lugar de lo sagrado en los estudios sobre turismo en la Quebrada de Humahuaca (Jujuy, Argentina) (Mariana Espinosa; Rosario Primo)

El turismo en la Quebrada de Humahuaca es un fenómeno antiguo, profundo, de creciente expansión y complejización. Del tal modo la literatura sobre el asunto es extensa y abarca una gran variedad de disciplinas, ejes temáticos y perspectivas teórico-metodológicas. Nuestra propuesta no es indagar en los estudios sobre turismo “religioso”, sino identificar y caracterizar el lugar de lo sagrado en esta amplia bibliografía. De manera provisoria y heurística entenderemos lo sagrado como una serie de prácticas y creencias que vinculan personas y grupos con lo “más que humano”, y que son constitutivas de construcciones subjetivas, sociales y culturales. Nos referimos a los fenómenos usualmente caracterizados de religiosos, espirituales, místicos, ancestrales, etc. La hipótesis de trabajo que orienta esta indagación es que las ciencias sociales y humanas participan, en el marco de la definición de sus “objetos”, de las disputas y tensiones sobre la definición de lo sagrado. En este marco, nos interesa observar de qué manera es conceptualizado, expresado u obliterado lo sagrado. Puesto que, como mencionamos, la bibliografía es amplia, realizaremos un corte entre los estudios disponibles después de que la región fue declarada Patrimonio de la Humanidad por la UNESCO en el año 2003, hasta la actualidad. 

 

Palabras clave: sagrado; estudios sobre turismo; Quebrada de Humahuaca ; Jujuy, Argentina

 

  • Corpo adorador de samba no pé: Uma análise sobre caminhos possíveis entre escola de samba e igreja evangélica (Leonardo Cruz)

Mais que um gênero musical, o samba é um complexo de saberes e práticas sensoriais, uma estratégia de reinvenção criativa para sobrevivência cultural geradora de experiências urbanas e periféricas. As escolas de samba são agremiações carnavalescas que se consolidaram como espaço de manifestação popular por meio da arte do toque dos tambores, do canto e da dança. Outro elemento da experiência periférica que alguns trabalhos da área da antropologia têm se debruçado é o crescimento de evangélicos no país. Que com forte investimento midiático e político entrou no cenário público se expandindo, sobretudo com forte inserção nas periferias do Rio de Janeiro. Corpos pretos, pobres e periféricos, excluídos das preocupações de um protestantismo ascético e branco, encontram nas práticas litúrgicas uma possibilidade de entender a vida experienciada na dor, no sofrimento e na humilhação. A partir periferia escola de samba e religião evangélica se encontram, não necessariamente em afastamento, podendo inclusive produzir evangélicos sambistas, ou o contrário. Se utilizando da metodologia de análise das trajetórias, esta pesquisa se preocupa em perceber a circularidade de atores sociais através desse encontro entre escola de samba e igreja evangélica. Inserindo-se num conjunto de trabalhos sobre o campo evangélico que reflete a complexidade do campo com interesse em perceber o efeito das micro relações, se propondo contestar as grandes definições.

 

Palavras-chave: evangélicos; escola de samba; circularidade; periferia.

 

  • RELIGIÃO, POLÍTICA E COMUNIDADES TERAPÊUTICAS: O financiamento federal de um modelo controverso (Giovanna Colussi)

A presença da religião na estrutura ministerial e administrativa do Governo brasileiro, inscrita por setores conservadores de diversas confissões, tem sido considerada pela literatura acadêmica contemporânea como um movimento de formação de uma direita religiosa no país, cuja atuação política é marcada pela participação na formulação de normas legislativas e de políticas públicas. Dito isto, esta comunicação é uma proposta de apresentação de um projeto de pesquisa de Iniciação Científica que objetiva observar a relação entre religião e política na instância do Poder Executivo no que tange ao financiamento federal de Comunidades Terapêuticas (CTs), viabilizado por editais de chamamento público advindos do Ministério da Cidadania do governo Bolsonaro. Assim, desta pesquisa em estágio inicial que trabalha com as hipóteses de que é no governo Bolsonaro que se intensifica o repasse de recursos públicos para Comunidades Terapêuticas, cujo perfil majoritariamente religioso já é conhecido, e que tal situação está relacionada com a potencialização de uma direita religiosa no país, nos propomos a apresentar sinteticamente o debate teórico sobre religião e política no Brasil e as discussões interdisciplinares acerca das CTs, considerando a interface entre ambos e o recorte da pesquisa. Deste debate que embasa nossas investigações, destacaremos a trajetória pública das CTs, seu entrosamento religioso e político, seu histórico de financiamento público e os editais em análise pela pesquisa. Por fim, abordaremos como a partir de uma metodologia baseada na etnografia de documentos e digital almejamos analisar tais editais e mapear atores mobilizadores desta política pública, respectivamente, com a finalidade de compreender o lugar de nosso objeto no espetro de uma direita religiosa brasileira.

 

Palavras-chave: Religião e Política; Comunidades Terapêuticas; governo Bolsonaro; direita religiosa; políticas públicas.

GT27: Afetar, sendo afetado: a prática antropológica em contexto de crise

Denise Kamada (UFPB)

Milene Morais Ferreira (UFPB)

Weverson Bezerra Silva (UFPB)

 

  • O corpo feminino e branco que pesquisa e escreve: refletindo sobre afetações emergidas a partir do fazer antropológico (Nádja Silva)

Aqui, me proponho a refletir sobre a minha experiência realizando pesquisa em uma feira da cidade de João Pessoa/PB. Pesquisa essa que foi realizada entre o final de 2021 e o primeiro semestre de 2022, período onde ainda estávamos vivenciando a pandemia de Covid-19, mas com significativo afrouxamento dos protocolos de biossegurança. Ainda que a pandemia não tivesse acabado, decidi fazer o meu campo integralmente de forma presencial, por acreditar que só a vivência do estar lá me faria ter a capacidade de narrar esse lugar vivo e dinâmico que é a feira. Com isso, assumi os possíveis riscos de infecção por Covid-19, embora esses fossem minimizados pelo uso de máscaras por mim e pelos feirantes. Dessa forma, irei refletir sobre como fui afetada pelo campo, antes e durante a pesquisa. Muitos foram os sentimentos que atravessaram o corpo dessa pesquisadora e, consequentemente, o trabalho de campo. Houveram momentos de medo e insegurança, especialmente no início da pesquisa, mas também de alegria, sensação de pertencimento, que vieram à tona quando comecei a ser reconhecida como pesquisadora pelos feirantes. Parto da compreensão de que ser mulher impôs algumas limitações a minha pesquisa, por não conseguir ir à feira de madrugada para acompanhar sua dinâmica do início ao fim, por exemplo, mas ser mulher branca me abriu portas, me deu acesso a pessoas e espaços sem grandes dificuldades. Assim, considero que refletir sobre como fui afetada e como afetei o campo parte essencial do fazer antropológico, porque é a partir do nosso corpo, do nosso lócus social que pensamos o mundo e produzimos conhecimento sobre ele, sendo essencial pensar sobre como o nosso corpo significa e narra o mundo social.

 

Palavras-chave: Feira; Agricultura Familiar; Gênero; Branquitude;

 

  • Afetos da pandemia e correspondências ao futuro: o saber-fazer antropológico em momentos críticos (Anderson Jamar)

A presente proposta de trabalho visa pensar a noção de afeto (FAVRET-SAADA, 2005) e suas implicações sobre a prática antropológica em contextos de crises a partir do debate sobre etnografia e antropologia suscitadas por Tim Ingold (2008;2017) e Mariza Peirano (2014). Ao entrelaçar e tensionar as noções de afeto, etnografia e antropologia, espera-se ressaltar a relação entre política e ciência, e virse-versa, em tempos de negacionismo científico e necropolítica. Nesse sentido, consideramos que o saber-fazer antropológico pode contribuir para recontar histórias da pandemia de COVID-19, preenchendo o abstrato dos indicadores e métricas dos modelos globais de gestão da pandemia, pondo em relevância as memórias e múltiplos sentidos desse evento crítico, a partir de diferentes campos de pesquisa que pontuam as sutis, ou violentas, relações entre o extraordinário e o ordinário pandêmico (SEGATA et al, 2021; DAS, 2020). A reflexão se enreda em projetos de pesquisa antropológica que foram afetados pela pandemia de COVID-19, possibilitando modos de pensar com cuidado, com as pessoas, com outros campos de conhecimento. O momento crítico da pandemia de COVID-19 e os desafios à pesquisa científica nas ciências sociais tem o potencial de catalisar reflexões acerca do saber-fazer antropológico em correspondência a futuros possíveis.

Palavras-chave: afeto; etnografia; antropologia; COVID-19.

 

  • Afetações na pesquisa sobre envelhecimento: um campo atravessado pela pandemia de Covid-19 (Edilza Maria Medeiros Detmering)

Este trabalho, que compõe uma tese de doutorado em andamento, reflete sobre o processo de envelhecimento de frequentadores/as de um curso de extensão da UFPB. A tentativa de se pensar um desenho metodológico padronizado foi alterada por conta de um contexto pandêmico repleto de particularidades, em que as relações vazaram da caixinha em que se tentou enquadrar o campo de pesquisa. Ao adentrá-lo, para estudar o tema do envelhecimento pela primeira vez, muitas sais justas foram enfrentadas ao longo do contato, a pesquisadora foi afetada e se viu abalada em suas convicções, deparando-se com precariedades, abandonos, adoecimentos e mortes. Em contrapartida, suas ações afetaram tanto o cotidiano e os planejamentos para o futuro do grupo idoso estudado, quanto as ações do projeto de extensão que o acolhe. Foi observado que idosos/as e pesquisadora tiveram seus projetos de vida alterados e repensados, e que o isolamento social, vivido desde o ano de 2019, modificou/afetou seus posicionamentos e sua autonomia. A tecnologia merece destaque na pesquisa por ter afetado o campo de várias formas, ampliando a compreensão de mundo, de si e do outro, e interferindo nas relações e nos afetos. Reflexões teóricas que problematizam metodologias on-line permitiram perceber a tecnologia como mais um instrumento dentro de um percurso metodológico atípico. Tendo como ponto de partida as plataformas virtuais, a pesquisadora foi impulsionada a refletir sobre virtualidade e presença, num campo estendido, para além do ambiente do projeto de extensão, alcançando lares, espaços de vivência, de lazer e de perdas dos idosos/as em foco.

PALAVRAS-CHAVE: Envelhecimento; Pandemia; Afetação; Virtualidades.

 

  • No meio do caminho, uma pandemia: relatos e desafios da pesquisa de campo de uma antropóloga social em formação. (Adriana Cecim)

O presente artigo tem por objetivo relatar os desafios e impactos que a pandemia do Covid-19, iniciada no Brasil em 2020, causou na pesquisa de campo de uma Antropóloga Social em formação a nível de mestrado. O isolamento social foi uma das principais medidas adotadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para conter e diminuir a propagação do novo coronavírus. Juntamente com essa situação, outros desafios se apresentaram, com ênfase para o agravamento da saúde psicológica e o aumento dos casos de feminicídio no país – sendo o Brasil o quinto com maior número de feminicídios dentre os países a nível mundial, segundo dados da OMS. Considerando que a maioria dos interlocutores do estudo são do gênero masculino – pescadores de uma comunidade tradicional pesqueira situada no município de Bragança, estado do Pará –, o desafio foi continuar a fazer pesquisa em um contexto pandêmico, com níveis elevados de infecções, mortes, agravamento de problemas psicológicos, atrelado a crescente violência contra a mulher. Por conta dessas dificuldades, as perspectivas metodológicas foram alteradas, influenciando no decorrer do estudo. O texto será elaborado em forma de relato, em primeira pessoa, através da descrição das experiências e limitações de uma pesquisadora e as estratégias adotadas para dar continuidade à pesquisa antropológica em meio ao caos – externo e interno.

Palavras-chave: Antropologia Social; Pandemia; Covid-19; Pesquisa de Campo; Violência contra a mulher.

GT31: Perspectivas contemporâneas sobre o universo das escolas de samba

Felipe Gabriel Oliveira (Doutorando PPGAS-USP)

Lucas Bártolo (Doutorando PPGAS-MN-UFRJ)

Vinícius Natal (Doutor PPGSA-IFCS-UFRJ)

 

  • Exu na encruzilhada do samba: tradições e disputas no terreiro da Escola de Samba Vai-Vai (Claudia Alexandre)

Essa comunicação apresenta uma forma particular de sistema religioso mantido por uma das maiores agremiações carnavalescas da cidade de São Paulo, formada por um grupo de negros no início do século XX, no bairro do Bixiga, região do antigo quilombo Saracura. A Escola de Samba Vai-Vai desenvolveu um modelo de práticas afro-religiosas que extrapola o ambiente da festa, quando realiza rituais de Candomblé para cultuar os orixás Exú e Ogum, que na mitologia africana estão ligados às ruas, às batalhas e à proteção contra os inimigos. Entre altares, missas e batuques o grupo apresenta um calendário religioso associado aos santos populares São Jorge, São Benedito e São Cosme e Damião, que negocia permanentemente com a festa de Nossa Senhora Achiropita, padroeira do bairro na devoção dos imigrantes italianos. A santa que por muito tempo dividiu espaço com a festa religiosa negra da Santa Cruz, que sucumbiu à dominação dos imigrantes. Porém em setembro de 2021, após ocupar por 50 anos a encruzilhada mais famosa do bairro do Bixiga, a sede do terreiro do samba foi desalojada para dar lugar à construção de mais uma estação do metrô. O local, onde antes existia um território negro de sociabilidades e assentamentos de orixás, foi reconhecido recentemente como sítio arqueológico, reacendendo uma disputa pelo patrimônio material e imaterial da área onde foram encontrados vestígios arqueológicos de alta relevância, de acordo com laudo técnico entregue ao IPHAN. Para a comunidade do samba, a encruzilhada onde Exu reinou em dias reza e de festa, continua representando espaço de identidade e resistência negras, atestado pela complexa relação ancestral que segue reivindicando uma nova narrativa sobre as permanências e ocultamentos da presença negro-africana e das manifestações da cultura afro-brasileira, na cidade de São Paulo.

 

  • “TIA, QUANDO A GENTE VAI SAMBAR NO PALCO? ”: O PROTAGONISMO INFANTIL E AS APRENDIZAGENS EMERGENTES EM UMA ESCOLA DE SAMBA MIRIM. (Adriane Soares dos Santos; Mylene Mizhari)

O presente trabalho é fruto inicial da minha pesquisa de mestrado de cunho etnográfico que está em andamento. A partir das observações realizadas no trabalho de campo com as crianças de uma escola mirim, busco trazer reflexões e evidenciar o modo como ocorre os processos de aprendizagens das crianças enquanto aprendizes do samba. Os estudos iniciais da pesquisa evidenciam que as crianças, enquanto aprendizes do samba, tem seus corpos como objeto e como meio de aprendizado das técnicas do tornar-se sambista. Traço diálogo com as considerações de Gell (1992) ponderando sobre a tecnologia da arte como forma de captura que provoca o encantamento, Miller (1954) ao ressaltar a materialidade dos objetos atenta-nos para as reflexões sobre a maneira como a utilização dos objetos (instrumentos, bandeira, adereços) e indumentárias (talabarte, roupas, sapatos, acessórios) pelas crianças contribuem e agem no processo de tornarem-se sambistas mirins. Assim como as considerações sobre as infâncias de Benjamin (1987) salientando a importância do olhar os fazeres cotidianos, os fragmentos, as miniaturas, nos revelando uma filosofia de uma escuta poética da criança, das miudezas do caminho. Desse modo, evidencia-se no processo da pesquisa etnográfica e de observação participante uma poética das infâncias na junção entre antropologia, educação e samba, pensando uma forma outra de educação e de aprendizagem dos saberes ancestrais do samba.

Palavras-chave: Aprendizagens, Escola de Samba Mirim, Infâncias, Educação.

 

  • ROSA, LÍCIA, AUGUSTA: CARNAVAL COM NOME DE MULHER. Histórias e memórias de três carnavalescas pioneiras dos desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro (Luise Campos da Silva)

Este trabalho é fruto da nossa tese de doutorado em andamento, desenvolvida no programa de pós-graduação em Memória Social pela UNIRIO, que tem como objetivo problematizar a pouca ou quase nula presença feminina no papel de carnavalesca de escola de samba. Para isso, iremos registrar a trajetória profissional de três carnavalescas que se destacaram no Carnaval do Rio de Janeiro por seu pioneirismo: Rosa Magalhães, Maria Augusta e Lícia Lacerda, buscando, em seus relatos, indícios que indiquem os motivos pelos quais há desequilíbrio entre o número de carnavalescos dos gêneros masculino e feminino historicamente e investigar se a questão de gênero foi uma barreira em suas práticas de criação e trabalho. Lançaremos mão de entrevistas semiestruturadas para compor o corpus e a história de vida como metodologia para sua análise. Entendendo a memória coletiva como produção do encadeamento de memórias individuais e experiências compartilhadas em grupo (HALBWACHS, 1990) e a memória como valor disputado em conflitos sociais (POLLAK, 1989), nossa pesquisa se insere no campo interdisciplinar da Memória Social ao entendê-la como campo de embates entre recordação e esquecimento e também como processo de construção (GONDAR, 2005). Sendo assim, as questões de gênero, poder e identidades (BUTLER, 2003, 2019) serão também fundamentais para que se entenda como a presença feminina no âmbito carnavalesco pode ou não produzir tensões que desaguem na sub-representação das mulheres em determinados espaços.

Palavras-chave: Carnaval, memória, gênero, poder.

GT33: Antropologia do Futuro e da Inteligência Artificial: desafios e oportunidades em tecnologias emergentes

Mayane Batista Lima (PPGAS/UFAM)

 

  • Antropologia no Metaverso: perspectivas de pesquisa em contextos imersivos (Laísa Maida Pinto Lima)

Os recentes desdobramentos de tecnologias emergentes como o Metaverso pelas empresas Facebook/Meta e Microsoft tiveram grande repercussão na mídia e em diversas áreas do conhecimento (KIM, 2022; DWIVEDI, 2022) ainda que o tema seja relativamente novo, como um espaço além do físico, o conceito é algo há muito estudado, sendo a internet, por exemplo, um tipo de Metaverso. As diferenças no entanto, estão calcadas nas características que diferem o modelo atual do antigo, exemplo: a)imersão ampla; b)inteligência artificial (KIM, 2022), além disso, como argumentam (LINS, PARREIRAS, FREITAS, 2020) não existe apenas uma internet para todos e todas, não existe apenas uma plataforma que caiba em todos os contextos, essas ferramentas se desdobram se transformam à medida que são utilizadas. Dessa forma, como todas as materialidades criadas por humanos, o Metaverso, não está apenas no cognitivo ou no entretenimento, ele possui, política, economia e nas suas práticas os produtores de tecnologias estão enredados em teias de atores humanos e atuantes não humanos (SUCHMAN, 2022) que atuam em conjunto criando comunidades imersivas. Tendo isso em mente, nos interessa saber de que forma as pesquisas antropológicas futuras serão realizadas em contextos imersivos? Quais ferramentas e diálogos ajudarão futuros/as antropólogues a realizar pesquisas nesses espaços?

Palavras-Chaves: Antropologia no Metaverso, pesquisa imersiva, identidades, algoritmos.

  • Seguindo os dados das plataformas virtuais de transporte (Elisa Rosas)

Em 2020, quando completou dez anos de funcionamento, a Uber, uma das maiores
empresas de transporte por tecnologia (ou TNC, da sigla em inglês Transport Network
Companies) transportava pelo menos 22 milhões de pessoas no Brasil. As TNC são
plataformas virtuais que possuem uma quantidade massiva de dados sobre os trajetos de seus motoristas e passageiros/as. Seus funcionários/as, a partir desse big data, organizam o funcionamento de um serviço que afeta motoristas e usuários/as e toda uma dinâmica de trânsito urbano. Além disso, produzem análises e propostas de políticas públicas para governos locais. A popularização dessas plataformas têm proporcionado mudanças nas cidades em relação aos deslocamentos e, nesse trabalho, pretendo explorar o papel da mediação algorítmica desses apps para os/as usuários/as e algumas das suas possíveis consequências para a organização do sistema de transporte urbano.
A ideia de “seguir os algoritmos” (Kitchin, 2017) é um dos focos de uma análise mais
abrangente sobre essas plataformas de transporte. Em diálogo com o pessoal de escritório de algumas dessas empresas, essa pesquisa em desenvolvimento examina como os dados de deslocamento são trabalhados e divulgados, além de investigar como esses/as
trabalhadores/as analisam as alterações nos algoritmos que definem o funcionamento da
empresa.

palavras-chave: plataformas de transporte; mobilidade urbana; uber; algoritmo;

  • PLATAFORMAS, CIBERESPAÇO E CIBERCULTURAS: A ANTROPOLOGIA NA ERA PLATAFORMIZADA. (Eduardo Pereira Monteiro)

A internet tem cada vez mais se tornado espaço de nossas socializações. A cada
dia, a cada momento se transformando em um “novo espaço de sociabilidade” (CALIL
JÚNIOR, 2008, p.118). É nesse novo espaço de sociabilidade “por onde vai passar toda
a cultura do próximo século” (CALIL JÚNIOR, 2008; LEMOS, 2002, p.188). A plataformização nesse sentido, tem aberto espaço para a discussão da práxis antropológica frente a essas novas tecnologias, que inegavelmente tem se consolidado como redes (sejam elas de apoio, troca de informação, diversão) cada vez mais presente em nosso dia a dia. Essas redes emergentes se formam de diversas formas, algumas delas a partir de fóruns com intuitos específicos e que agregam determinados públicos para os quais são formados a exemplo disso, podemos citar as plataformas: Facebook, Telegram, TikTok etc. que parecem ter esse caráter forte de reunir e aproximar sujeitos como que em um grupo social físico. A plataformização e a cibercultura, agrega não apenas o material
evolutivo da tecnologia enquanto matéria processual e informações, o ciberespaço “é
também constituído e povoado por seres estranhos” (LEVY, 1999, p.41). Abdel-Moneim
e Sarah Grussing (2002) nos trazem um questionamento importante para essa
movimentação virtual dos corpos vivos-virtuais: “Será que essas novas tecnologias vão
nos alienar ainda da nossa humanidade e de cada um de nós, ou vão nos tornar mais
unidos/as?” (p.47). Propõe-se como objetivo nesse trabalho, promover uma discussão
reflexiva sobre como a plataformização e o ciberespaço tem dado margem para a criação
de novas redes de relações inter-humanas via virtual, e especialmente, promover a
discussão do espaço do fazer antropológico frente a essa nova realidade singular e ao
mesmo tempo plural.
Palavras-chave: Plataformização; Ciberespaço; Cibercultura; Antropologia do Futuro.

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