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PARAÍSO APINHADO: por outros enquadramentos dos Lençóis Maranhenses

Benedita de Cássia Ferreira Costa(UFMA)

O presente ensaio parte de um incômodo sobre a composição das imagens dos Lençóis Maranhenses que projeta a ideia de paraíso configurado a partir de dunas, lagoas cristalinas, céu espetacular, sugerindo um lugar natural, vazio, óbvio. Opera, assim, na construção de uma natureza prístina, simplificando ou apagando a existência humana, desconectando-as de questões político-econômicas relacionadas à sua própria produção, enquanto destino turístico único. Retratadas pelo olhar dos turistas, tais imagens, ajudam a consolidar um modelo de contato e consumo da natureza através da contemplação, ao mesmo tempo em que reforçam a ideia de uma natureza intocada para aquela unidade de conservação.

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Foto 1: De Fluxos e Disputas: de onde eu tiro a melhor foto do paraíso?

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Foto 2: Andamentos e Aglutinações no paraíso

Produzidas no plano fotográfico, são marcadas pela seleção de alguns elementos naturais – dunas, lagoas, céu azul e pôr do sol – que conferem um caráter cênico, e de performances e poses que se esforçam para exibir um apossamento exclusivo, dando a ideia de que estão sozinhos naquela imensidão. Essas imagens-comuns que abarrotam as redes sociais e em outros sítios de busca nos possibilitam mirar, antropologicamente, a problemática da construção e reprodução de uma paisagem que vai se distanciando do existente e vivido cotidianamente pelas populações locais do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses – PNLM, e vai sendo desenhada como uma forma concluída e propícia à contemplação, quando se refere a um lugar turístico. Aqui percebemos a permanência histórica do sentido de paisagem como representação pictórica, como cenário com elementos marcantes e fixos, confinando o mundo no âmbito de suas superfícies

Diante disso, posiciono a minha câmera na direção dos turistas e os acompanho em um dos passeios mais procurados do Parque, que é o do Circuito da Lagoa Bonita, como parte do material da minha pesquisa de Doutorado em Ciências Sociais, com algumas perguntas na cabeça: o que não aparece nas cenas icônicas de turistas sozinhos em meio à vastidão de dunas e lagoas? por que não aparece nas cenas o amontoado de outros que estão naquele lugar que se convencionou chamar de paraíso?

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Foto 3: Filas e direções por entre dunas e lagoas

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Foto 4: “Entre linhas e marcas deixadas no chão. Os pés não mentem.

Inspirada no trabalho fotográfico sobre turismo de Martin Parr e na perspectiva ingoldiana sobre percepção do ambiente registro outros enquadramentos da paisagem como forma de refletir sobre o movimento e a textura que se desenham por meio das caminhadas dos turistas que seguem em fila seu guia turístico, sarapintando no chão, linhas, marcas, fluxos e disputas que não aparecem nas imagens instagramáveis que não permitem o outro, pois é a celebração do eu sozinho a consumir a natureza.

Dessa forma, o conjunto de fotografias desse ensaio, o qual intitulei de paraíso apinhado pode nos fazer perceber outras dimensões da reprodução das imagens que se forjam pelo olhar do turista, através de um certo enquadramento de elementos naturais – dunas alvas, lagoas de azul-turquesa e verde-esmeralda, céu azul e pôr-do-sol apoteótico –, de um certo ângulo – geralmente sozinho de frente para o horizonte e de costas para o espectador – e de um certo plano – panorâmico, com fundo infinito tecendo uma experiência de lugar que ficará na memória. Paraíso apinhado não é bom para porta-retratos.

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