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Agora não se ouvia nada. Só o silêncio. Só o abismo daquele silêncio

Alex Hermes(UFRN)

O Abismo  e seus intervalos, a incerteza viva: Agora não se ouvia nada. Só o silêncio. Só o abismo daquele silêncio.

Nos intervalos do tempo dentro de cada um, sombra e luz bordado a jenipapo, um bode berra dentro de mim, rosto se multiplica pendurado na tela escura, um bendito, zoom ladainha, incelença na estrada. O cordão arrebenta incerteza. Olhar reflete o espanto da imagem no concreto. Terra protegida, seres demarcados, inscrita na matéria.  Fundamentalmente, é uma investigação sobre arquivo. Mas, para que apontam? o ar está cheio de poeira. O chão está coberto de incontáveis ​​folhas imaculadas em que pisam silhuetas assustadas, brancas como fantasmas. Não está claro o que está acontecendo; as pessoas fogem de uma nuvem de silêncio.

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Tudo o que resta é uma incrível pilha de restos incompreensíveis e vagamente patéticos: O verdadeiro presente das coisas, da matéria, está agora exposto ali, estendido no chão: uma mistura de pedaços de passados ​​desconexos, lançados simultaneamente neste agora congelado em pedra. Nos resta juntar as sombras dos seres e expormos na galeria do futuro. 

O mundo perpetuamente novo, que levou a decretar o fim definitivo da história, não passa de silêncios e sombras. Manchas onde as equipes de intervenção já estão ocupadas limpando tudo, para fechar essa lacuna inconcebível na tela da realidade o mais rápido possível. Nunca encontraremos os milhares de mortos cujos corpos esmagados e queimados foram reduzidos a uma mistura de restos de carne e trapos manchados, inextricavelmente misturados com os restos de concreto e sucata onde nenhum anjo ousa olhar.

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Esta pesquisa está sendo desenvolvida na residência Acho imagens, ateliê Casa Campinas e na pós graduação no programa de antropologia da UFRN. As imagens e referências de trabalho e metodologia são fruto de um desejo de trabalhar nessa interdisciplinaridade que o artista pesquisador passa a habitar os arquivos e as memórias passamos a animar entre fabulações, álbuns fotográficos, Atlas de imagens e o movimento da vida. 

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Os caminhos percorridos por essas imagens acumulam diversas memórias desse arquivo e das alianças que os constituíram. As montagens e desmontagem que o compõem foram entrando em sintonia com estas memórias, representações, negociações, narrativas, teorias, aprendizados, iniciações, erros e acertos. Para o antropólogo das imagens Etienne Samain as imagens tem sua própria vida e as imagens “recusando-se dizer de antemão o que pensam ou pensarão conosco, se oferecem e se oferecerão, no nosso presente, ao mesmo tempo, como revelações, como memórias e como desejos (SAMAIN, 2012, pág. 153-154).

Isto é, as imagens carregam tempos heterogêneos e montagens temporais profícuas para convocar o nosso olhar sobre a história e para acionar memórias e desejos (BRUNO, 2019 pág. 201). Segundo Samain, esse campo já pode ser percebido no início do século XX. Nas suas palavras ele cita “Aby Warburg que, nos inícios do século vinte, em Hamburgo, já explorava este campo das interrelações entre Antropologia, Imagens e Arte, antecipando toda uma reflexão atual”. (SAMAIN, 2014, pág. 50).

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Se admitirmos, deste modo, que toda imagem pertence à grande família dos fenômenos, não poderemos mais equiparar uma imagem a uma bola de sinuca ou a um prego que a tábua engole quando, nela, o martelo bate. Sem chegar a ser um sujeito, a imagem é muito mais que um objeto: ela é o lugar de um processo vivo, ela participa de um sistema de pensamento. A imagem é pensante (SAMAIN, 2012a, pág. 158).

Samain faz referência às reflexões de Gregory Bateson, reinvidicando a emergência de uma nova epistemologia da imagem: um pensamento sobre as imagens como o lugar das “ideias que se encontram nos fenômenos – não somente as ideias que estão na minha cabeça, mas as ideias que se entrecruzam nos fenômenos organizados – e se apresentam em forma de camadas” (BATESON, 2000, pág. 318), (BRUNO, 2019 pág. 201).

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Ainda nesse campo de referenciais teóricos, devemos considerar a atual conjuntura na qual as imagens são produzidas no contexto social que predomina em nossa sociedade euroamericana (GELL, 2018) A isso se deve somar a alta circulação de imagens, alocada fortemente pelos media portáteis e suas vidas possiveis pós-humanos.

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