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FUMO, FOGO E FUMAÇAS

Maiara Damasceno Silva Santana(UFBA)
Gutemberg Santana de Jesus

Das coisas da vida, o que vocês mais gostam de fazer? Val e Ru, ambas indígenas Kariri-Xocó, responderam-me com um largo sorriso que expressava grande satisfação: “de fumar”. O encontro com os(as) Kariri-Xocó e os registros fotográficos aconteceram entre 2015 e 2019, em função da parceria entre o fotógrafo e a pesquisadora, durante a realização de seus trabalhos de campo no mestrado e doutorado.

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Entre os(as) Kariri- Xocó, povo indígena que habita o nordeste do Brasil, na região do Baixo São Francisco, no Estado de Alagoas, as fumaças que saem da xanduca – espécie de cachimbo feito com angico (nome atribuído a várias árvores da família das leguminosas) – atuam como mensagens e permitem a comunicação com o “Grande Espírito” – o demiurgo, e com os(as) parentes(as) distantes que vivem espalhados em diferentes cidades do país. Quanto maior a saudade, mais fumaças são espalhadas.

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As fumaças permitem a comunicação ao levar e trazer mensagens. Ao fumar os(as) Kariri-Xocó se sentem mais dispostos, uma vez que o fumo “abre a mente”, ativa e/ou acalma o pensamento, sobretudo diante de situações que os(as) deixam preocupados(as), como ocorre quando
há uma “questão” (briga/conflito) entre os(as) parentes(as) ou quando é necessário fazer retomadas de terra.

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É também uma forma de se preparar para qualquer tipo de “olho gordo” (inveja e/ou má vontade), pois “nada de ruim gosta de fumo”, dizem estes(as) indígenas. Fumar é parte da vida cotidiana Kariri-Xocó, seja na aldeia ou no mundo ritual do Ouricuri, ambos os ambientes são tomados por fumaças e por toda a parte sente-se o cheiro forte de fumo queimando.

Anos depois, o Babalorixá morou no Brasil, onde deu continuidade aos seus preceitos religiosos e, atualmente, tem seu Ilê em Madrid, sendo dirigente de casas afro-religiosas há 14 anos.

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