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Do conceito ao desenho: percursos de uma antropologia gráfica

Katianne de Sousa Almeida(UFG)

Neste ensaio escolhi algumas das produções que expressam os percursos do desenvolvimento da pesquisa do doutorado que me levaram a considerar o desenho como caminho capaz de potencializar a argumentação na elaboração do pensamento científico antropológico. A proposta concebe o desenho como método, em que se assume o desafio de se romper os limites das palavras que, várias vezes, não são ditas ou pela dor, ou pela disputa por narrativas canônicas universalizantes. Sendo assim, dentro da minha pesquisa, o desenho sai do diário de campo e extrapola seu vínculo como expressão do realismo, ou como é considerado no debate acadêmico da Antropologia o “estar ali”, para assumir um lugar de destaque na produção de ideias e síntese de conceitos.

Imagem 1: Em busca da pesquisa desenhada

 

A ilustração “Em busca da pesquisa desenhada” abre o ensaio para sinalizar à leitora ou ao leitor meu itinerário, pois desenhar e ilustrar tornaram-se atividades cotidianas para mim, como pesquisadora, que almeja produzir uma tese desenhada no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social na Universidade Federal de Goiás (UFG).

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O desenho é um caminho que desperta muitos sentidos, para citar apenas alguns seria tanto tornar compreensível certo assunto, quanto transmitir conhecimentos sobre determinada área, além de um espaço para criar afetos com o desenvolvimento da produção do conhecimento.

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Imagem 2: Vozes Pretas

A obra “Vozes Pretas” expressa o espírito inquieto que não vê a hora de bradar as possibilidades criativas na aproximação da ilustração com os pensamentos feministas negros para que se ampliem os horizontes epistêmicos. Além de ressaltar a necessidade de abrir o debate e forçar as concepções de quem pode falar quanto ao pensamento científico.

Desenhar conceitos é debruçar sobre os seus significados de dentro para fora. Portanto, quando nos colocamos diante do exercício de criar linhas, formas, texturas e cores aprofundamos na análise dos temas que estamos nos propondo a estudar e, consequentemente, a analisar.

Imagem 3: Lentes Améfricas

 

Em “Lentes Améfricas” a intenção foi forçar os limites da escrita dialogando com os conceitos de Lélia Gonzalez (2018) e Angela Davis (2016) quanto a promoção de novas epistemologias a fim de romper a imparcialidade teórica e o silenciamento de pensadoras negras.

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Imagem 4: Em nossas mãos

Com a ilustração “Em nossas mãos” o objetivo foi apontar os desafios do campo disciplinar antropológico perante as tensões existentes na contemporaneidade, tais como os desdobramentos políticos advindos das lutas contra o colonialismo dos saberes, dos epistemicídios, além do apagamento das produções latinas e das mulheres negras.

Na contemporaneidade a Antropologia precisa ser um campo disciplinar de novas ideias e ter um espírito inquieto, consequentemente, das antropólogas e dos antropólogos exige-se o máximo das suas capacidades de criarem meios para a fissura das metodologias clássicas de pesquisa e das epistemologias tradicionais.

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Imagem 5: O que vem por aí


Ao realizar uma etnografia da 32a Reunião Brasileira de Antropologia, que pela primeira vez teve um formato online, experimentei por meio de colagens e desenhos a possibilidade de fomentar um debate mais amplo quanto as sutilezas de um campo disciplinar composto por gêneros invisíveis, inaudíveis e indizíveis. Portanto, a colagem com interferência de desenho “O que vem por aí” coloca em cena as batalhas, as rupturas e os rompimentos que pesquisadores indígenas, negras, negros, negres, lgbtqi+ forçam para mudar a direção da antropologia que teve (ou ainda perpetua) uma perspectiva colonial para uma conduta que prioriza a diversidade dos saberes, dos sujeitos e das metodologias.

Imagem 6: Duelo

 

Inspirada pela provocação de Abu-Lughod (2018) a arte digital “Duelo” carrega como símbolo as disputas das apresentações dicotômicas e a engenhosa habilidade, por meio de um toque sutil, que encontros interdisciplinares, a exemplo da Arte, com o Design e com a Antropologia, podem se tornar estratégias para provisórias transgressões aos binarismos, as dualidades e, principalmente, o rompimento com a linguagem compartimentada produzida pelo cânone cartesiano.

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Imagem 7: Navegar-se

Ao final a obra “Navegar-se” sinaliza minha estratégia criativa de produção sensível e viva da ciência, por meio da combinação das linguagens como um chamado urgente para a transformação epistemológica da Antropologia.

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