A escola como lápide: um ensaio sobre os rabiscos que a pandemia não conseguiu apagar
Hildon Oliveira Santiago Carade
(IF Baiano)
Nos aparatos escolares aprende-se a ler e a escrever, como também onde e o que se escrever. Mas eis que, opondo-se a toda forma de disciplinamento, os estudantes passam a impor modos e formas de sociabilidade que transcendem as esferas formais do ensino e da aprendizagem.
Foto 1: Nomes rabiscados no ponto de ônibus
Dentre esses modos, no âmbito de pesquisa etnográfica que venho coordenando sobre a sociabilidade juvenil na escola, sempre me chamou a atenção o hábito que os adolescentes têm de rabiscar seus nomes nos mais diversos espaços acadêmicos. Munidos de tinta, piloto, corretivo, caneta e spray, bandos de estudantes deixam suas marcas e suas alcunhas, espécies de “escritos de si” que são gestados como um antídoto à invisibilidade.
Foto 2: Nomes rabiscados na placa de trânsito
Nem mesmo as placas de trânsito situadas no portal de acesso do instituto se salvam dessa sangria. Do ponto de vista institucional, os rabiscos são sinônimo de vandalismo e depredação do patrimônio público; do ponto de vista dos adolescentes, são uma maneira de se ganhar visibilidade, quebrando, assim, com o anonimato e a homogeneização do corpo social, técnicas estas intrinsecamente vinculadas ao poder disciplinar.
Foto 3: Nomes rabiscados na caixa de eletricidade
Contrariando esse ideal, em todo fim de ano letivo, os funcionários se incumbem de limpar, pintar e apagar toda a “sujeira” produzida pelos estudantes. Após 1 ano e 3 meses de suspensão das atividades presenciais, retorno à escola para ver como ela está, na medida em que sua atividade fim se encontra encerrada em plataformas virtuais.
Foto 4: Nomes e frases rabiscados no espelho da cantina
Agora que se apagaram as luzes da sala de aula, ao percorrer os labirintos da instituição, me deparo com a seguinte ironia: os riscos e rabiscos dos jovens, o lado negado da pedagogia oficial, são o único registro que dão provas da vocação daquele lugar. Seria, pois, a pichação dos alunos um epitáfio da escola em tempos de pandemia do novo coronavírus?
Foto 5: Nomes rabiscados na placa de trânsito
Foto 7: Nomes rabiscados no alojamento estudantil
Foto 6: Desenho feito na porta da sala do grêmio estudantil
Foto 8: Nomes rabiscados na porta de um dos quartos do alojamento estudantil