Coordenação: Giulia Bauab Levai (PPGAS/Unicamp)

Larissa Rezende Tanganelli (PPGAS/Unicamp)

A história e o presente das ideias que alicerçam a tríade sexo, gênero e sexualidade, bem como as disputas a seu redor, devem muito a estudos feministas que, na segunda metade do século XX, formaram um corpo teórico que trouxe perspectivas críticas às origens biomédicas de tais conceitos, colocando-os sob o olhar das ciências humanas. Indo ao encontro de movimentos sociais e de dissidentes de sexualidade e gênero, tais perspectivas alteraram de forma significativa o modo compreendemos os conceitos de sexo anatômico, gênero, hormônios, genes e outros índices de produção e modos de interrogação que se tornam particularmente relevantes para a construção de formulações científicas sobre sexualidade e gênero. No cerne destes debates, sobretudo no campo da antropologia, está o par de oposição Natureza e Cultura – em torno do qual orbitam discussões de humanidade, animalidade, monstruosidade, dado e construído, corpo e população, entre outros –, estruturante e estruturado por perspectivas hegemônicas ou críticas. A partir destes horizontes, propomos debater os discursos que incidem sobre os corpos e a produção de sujeitos, fazendo de sua materialidade e existência territórios de incidência e disputa de abstrações teóricas e construtos culturais que, de várias maneiras e em diferentes contextos de produção discursiva, deslocam, reconstroem, ou buscam reconfigurar o par Natureza-Cultura e seus corolários. Privilegiaremos propostas que explorem dispositivos discursivos médicos e políticos oficiais, divulgação científica, como também narrativas literárias, artísticas e dissidentes, daqueles que historicamente foram compreendidos como "objeto de estudo" da ciência, mas que nunca deixaram de criar suas próprias narrativas, em seus próprios termos.