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“Território: nosso corpo, nosso espírito”
A Primeira Marcha das Mulheres Indígenas

Amanda Jardim(UFMG)

O presente ensaio fotográfico tem como proposta apresentar um momento histórico protagonizado pelas mulheres indígenas no Brasil: a I Marcha das Mulheres Indígenas. Através de imagens e relatos de lideranças expoentes no movimento indígena brasileiro, propõe-se uma (re)visita à Marcha, evento ocorrido em agosto de 2019, em Brasília.

Foto 1: "Nossas ancestrais que já se foram, estão dando força pra nós, fazendo a gente abrir todos esses caminhos pra sairmos das nossas aldeias e ir em busca de justiça, em busca da Mãe Terra, em busca de igualdade e de participação. E aqui, juntas, com a força de nossos Encantados, de nossa ancestralidade, do espírito dessas mulheres, a gente marca esse pacto de continuidade da nossa luta. Nossa Marcha também busca o empoderamento da mulher, busca espaços para elas ocuparem além do chão da aldeia.”

(Sônia Bone Guajajara)

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Foto 2: “A gente vem sofrendo esse arrancamento do território com a retomada dessa política integracionista. Nós, mulheres indígenas, não vamos deixar isso acontecer. Estamos unidas contra todo e qualquer tipo de violência, negando todo e qualquer tipo de colonização, por nós, pelas nossas ancestrais, pelos nossos filhos e outros que virão. Contra o genocídio dos povos indígenas e pela garantia dos nossos direitos constitucionais. Não vamos nos calar!” (Nyg Kaingang)

Essa composição mescla fotografias, falas públicas e relatos produzidos através de entrevistas e ressalta a potente atuação das mulheres indígenas no cenário político brasileiro contemporâneo. Ao ocuparem a Câmara dos Deputados, o Senado e em marcha direcionarem-se ao Planalto Central, 1.500 mulheres lutaram pela Mãe Terra, mãe de todas as mães.

Foto 3: “Estar aqui é dizer ao pai, ao marido e outros, que muitas vezes nos colocam nessa ideia de subalternização, que se a gente cuida da casa e dos filhos é pra cuidar do território, é pra cuidar deles também. É dizer que quando nós falamos em Mãe Terra, em nosso território, nós somos essa Mãe Terra que germina, que dá vida.”

(Cristiane Julião Pankararu)

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Foto 4: “É muito emocionante ver todas essas mulheres aqui presentes e alguns homens também sendo solidários à nossa luta. Porque nós, mulheres indígenas, temos nossos homens como parceiros, aliados e andamos lado a lado. Então, a gente não tem essa divergência de luta, a gente se soma na luta. Viemos aqui pra fazer valer e garantir os nossos direitos. Me sinto privilegiada de estar aqui mudando o rumo da história e mostrando que a gente está sendo violado em nossos territórios.” (Glicéria Tupinambá)

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Foto 5: “Se não temos o território, não temos como viver nossos saberes, nossos fazeres, nossas tradições, nosso bem-estar. No território é que estão todos os nossos recursos naturais, bens materiais e imateriais. Essa é a ligação entre todos povos: a questão da terra. Ela é nossa Mãe e somos filhos dessa Terra. Nós temos que defender nosso território porque ele é como o nosso corpo. Dele devemos cuidar, preservar, porque é ele que dá vida, que gera e faz com que possamos sobreviver.” (Eliane Umutina)

Assembleias reforçaram as injustiças cometidas pela "bancada ruralista" do Congresso, sublinharam o papel da mulher na luta pelo território e as prepararam para tecer estratégias de enfrentamento aos retrocessos em curso.

Foto 6: “Não existe um ser tão poderoso como a mulher, que é um ser que cura, que luta e que sabe transbordar a essência. Somos nós que damos luz, somos nós que educamos, somos nós que cuidamos. Se a gente pisa no chão da Terra é pra acordá-la e trazer de volta toda a essência feminina que foi abalada, que foi estuprada, que foi agredida. Se a gente faz vibrar o Útero, a gente faz vibrar o Coração da Terra. E que todas
as mulheres do Brasil e do mundo possam entender o Chamado e fazer parte dele de verdade.” (Shirley Krenak)

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Longe de seus territórios, demonstraram-se incansáveis na luta pela garantia dos direitos constitucionais indígenas, sempre acompanhadas pelos Encantados e demais entidades. Através dessa exposição procuramos sublinhar o engajamento político das mulheres indígenas ante a conjuntura atual de crescente violação de direitos indígenas.

Foto 7: “As pessoas nos perguntam: ‘Por que nós, mulheres indígenas, lutamos tanto pelo território?’, ‘Por que nós, mulheres indígenas, damos tanto a nossa vida pela terra?’. E digo que enquanto continuar sangrando a Mãe Terra, enquanto continuar sangrando o nosso território, também vai sangrar o útero da mulher indígena. O sentido profundo disso é o de que quem tem território tem lugar pra voltar, tem lugar pra ser acolhido, tem colo, tem cura. Hoje a presença das mulheres indígenas em Brasília significa um profundo movimento de cura.” (Célia Xakriabá)

Foto 8: “A Marcha trouxe um sentido de rompimento com o patriarcado, com o coronelismo, com o machismo. Nós não somos as que foram achadas na mata, as que foram pegas no laço. Nossas mulheres foram e são violentadas, estupradas e geraram vidas. E essas não geraram descendentes, geraram mestiços. A leitura que se faz é a de que se são mestiços, deixaram de ser indígenas. E estamos aqui com todas as caras, com todas as cores, com todos os corpos, com todas as ideias pra somar e dizer: Sim! Nós existimos e estamos aqui pra construir e significar a história do movimento das mulheres indígenas.” (Cristiane Julião Pankararu)

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